China recupera ideia de construir o canal “KRA” na Tailândia. A informação é confirmada pelo Coronel Pedro Baños Bajo na sua página do Twitter ‘@geoestratego’. O especialista em geopolítica e relações internacionais, adianta que a execução do projecto – com um custo nunca inferior a 20.000 milhões de dólares- será fundamental “para garantir a segurança energética e comercial de Pequim”.

Pedro Baños explica que a “China é vulnerável pela sua dependência do estreito de Malaca”. A navegação chinesa ao entrar no Estreito, também designado por de Singapura, fica sujeita ao controlo considerável deste país – uma Cidade-Estado – que não é propriamente um aliado. O estreito de Malaca está situado entre a Malásia (costa Ocidental) e a Indonésia (ilha de Sumatra) e é a principal passagem marítima entre os oceanos Índico e Pacífico.
Ora, é bem compreendido no espectro político que quem controla o Estreito de Malaca, em certa medida também controla a estabilidade no Sudeste Asiático. É neste denominador que a China entra em jogo: tradicionalmente, a grande maioria das importações e exportações realizadas pela República Popular da China seguem esta rota. E o que mais incomoda os líderes chineses é que quase todas as importações de petróleo – sejam oriundas do Golfo Pérsico, Venezuela, e mesmo de Angola (neste último caso pode equacionar-se a volta pelo Sul do continente africano), navegam por este percurso.

Importa perceber que Singapura é uma Cidade-Estado que considera os Estados Unidos um aliado próximo, mas que mantém boas relações diplomáticas com alguma universalidade de países porque oferece garantias de segurança e tem importante histórico como anfitrião de líderes internacionais.
Por outro lado, o porto de Singapura é segundo da lista global em movimentação de contentores de mercadorias: movimentou 36,59 milhões de TEUs em 2018 e 37,2 milhões, em 2021. Ele é responsável por movimentar 20% dos containers marítimos do mundo, 1/5 do mercado global. Mas regista uma outra característica determinante: é o segundo mais importante no mercado de petróleo bruto, movimentando quase metade do suplemento mundial de crude. As lideranças ocidentais têm este facto bem presente.
Já o porto de Xangai, o maior da actualidade, lidera desde 2005 o ranking mundial de movimento de contentores: em 2019, movimentou 43 milhões de TEUs. E tem duas vantagens: é um porto de águas profundas e possui conexão com um porto fluvial dos mais importantes.
Para se perceber a importância destes dois portos do continente asiático explico o que é um TEU, ou seja, a Unidade Equivalente a Vinte Pés, uma unidade inexcata de capacidade de carga usada para descrever um container baseado no volume de 20 pés de comprimento (6,1 m). A caixa padrão de metal que todos nós conhecemos e se vulgarizou para ser transferida entre diversos modos de transporte, como navios, comboios e camiões.

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1,4 mil milhões de pessoas. 700 Milhões de usuários de internet. 600 Milhões de usuários de smartphones. 500.000.000.000 de dólares – precisamente 500 mil milhões – em transações de comércio eletrónico anualmente. A Ocidente reflecte-se sobre estas estatísticas?
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É por este corredor marítimo que transita boa parte dos recursos que chegam à China, incluindo os energéticos, como também a maioria do tráfego comercial das mercadorias chinesas com outros países terceiros, particularmente para o Ocidente.
No entanto, a China alivia esta suposta pressão – pelo menos no âmbito psicológico – através do porto paquistanês de Gwadar, eixo geoestratégico do corredor económico Paquistão-China e uma infraestrutura portuária de águas profundas. É daí que o governo chinês decidiu transportar parte dos recursos que importa, através do Karakorum, até Xinjiang, no Turquestão Oriental.
Naturalmente, que os chineses não vivem descansados com a presente tensão geopolítica com o governo estadunidense: não escondem o receio que a Administração Norte-americana determine uma espécie de bloqueios pontuais, através de meios navais militares, que condicionem o tráfego de mercadorias de e para o porto de Xangai.
Poderá fazer sentido ressuscitar a ideia de pagar a construção do canal de “KRA” na Tailândia? Talvez sim, mas as dificuldades serão imensas porque a comunidade internacional é globalmente mais partidária das políticas meio-ambientais do Ocidente ou dos Estados para-Ocidentais. Deve recordar-se o abandono de uma outra ideia chinesa de abrir um canal interoceânico na Nicarágua para rivalizar com o Canal do Panamá que liga o Oceano Pacifico com o Atlântico, através do Mar do Caribe.

Bancos chineses vendem dólares para proteger moeda do país
Entretanto, a agência Reuters noticiava no passado dia 25 de julho, que os bancos estatais da China venderam dólares Norte-americanos para apoiar o yuan, ou seja, venderam a moeda americana para comorara yuans nos ‘mercados à vista’, tanto no exterior como no país. As operações tornaram-se evidentes nas primeiras operações em bolsas asiáticas no passado dia 25 de julho. Tratou-se de uma medida de claro apoio à moeda chinesa.
Os principais bancos estatais da China venderam dólares americanos para comprar yuans nos mercados à vista tanto no interior como no exterior nas primeiras operações asiáticas na terça-feira, disseram três pessoas com conhecimento direto do assunto, medidas de apoio à moeda chinesa.
Atender ao facto de os bancos estatais na China operarem, habitualmente, em nome do banco central no mercado cambial do país, embora também se lhes admita operarem em nome próprio.
– por José Maria Pignatelli (Texto não está escrito ao abrigo do novo acordo ortográfico)
Anexamos um PDF com um artigo assinado por Andrés Ernesto Ferrari Haines
Vinícius Lerina Fialho publicado no bimensal “Conjuntura Austral” de outubro/novembro de 2019, sobre o porto de Gwadar, o eixo estratégico para as relações entre paquistaneses e chineses, independentemente da nossa crença de que o Paquistão é um aliado do Ocidente. No global da geostratégia seja política, económica, tecnológica e cibernética já não encontramos lealdade institucional entre líderes políticos. Definitivamente, o dinheiro e a própria sobrevivência das maiores potências encerram novos jogos de poder.