Há acontecimentos que não gosto de deixar passar sem escrever umas notas. Porventura, não que sejam demasiado importantes, mas por me fazerem recordar fazes de uma Vida já larga e talvez porque a idade já me permite ser “politicamente menos correcto”.
O jornal ‘i’ publicou, na semana passada, uma capa interessante sob dois pontos de vista.
Faz manchete com uma expressão popular entre a esquerda e extrema-esquerda portuguesa, apelidando o futebol como “ÓPIO DO POVO”, precisamente muito utilizada pelos arautos da democracia que defenderam que esta – o futebol – era uma das três “drogas” com que o antigo regime, especialmente Oliveira Salazar, anestesiava o ‘Zé Povinho’.
Por outro lado, recorda três factos que também marcam a minha memória futebolística: Os recordes de Eusébio, um dos mais exímios praticantes, universalmente esquecido e os 540 golos marcados por Peyroteo. Também um momento dos mais tristes que jamais me esquecerei: a morte súbita de Pavão, um dos mais emblemáticos e talentosos futebolistas do Futebol Clube do Porto, e também ele caído no esquecimento.
Mas voltemos atrás às drogas do Sr. Oliveira: sim, porque soe dizer-se que juntava ao futebol outras duas curiosamente incitadas pela letra ‘F’, o Fado e Fátima. Salazar faleceu em 27 de julho de 1970 e o regime caiu a 24 de abril de 1974. Sobre estas efemérides passaram 53 anos e 49 anos, respectivamente…
Afinal, estádios de Aveiro e Leiria
não custaram 180 milhões
mas sim € 151.308.256 exactamente.
Uma fortuna, na mesma!
E o ‘F’utebol, o ‘F’ado e ‘F’átima encontram-se cada vez mais na Ordem do Dia. Ainda foi neste período – leia-se da democracia – que se fizerem os maiores investimentos públicos em torno do futebol e da Igreja. A Administração central empenhou milhares de milhões e alguns municípios empenharam tudo o que tinham e o que não tinham, em alguns casos, especialmente em torno do celebre “Euro 2004”, a 12.ª edição do Campeonato Europeu de Futebol, que se disputou em Portugal, de 12 de junho a 4 de julho, e nos deixou três campos de futebol – Aveiro, Leiria e Algarve – que servem para muito pouco e o seu custo/benefício seja realmente negativo, embora, por exemplo, a Câmara Municipal de Leiria anuncie agora muitos benefícios da infraestrutura.
A pergunta do milhão: Quanto custaram os estádios na sua globalidade, ou seja, campo e infraestruturas? Uns alegam que só Aveiro e Leiria – que foram palco de dois jogos do “Euro”, cada um – tiveram custos globais de €180 milhões, mas um artigo publicado em “polígrafo.sapo.pt” indica que são valores falsos. Ainda assim o relatório de auditoria do Tribunal de Contas (TdC), publicado em novembro de 2005, indica que o preço a pagar pelo empreendimento global (estádio, estacionamentos, acessibilidades e outros investimentos ou infra-estruturas) do Estádio Municipal de Aveiro foi de 68.100.783 euros, enquanto o Estádio Municipal de Leiria custou 83.207.473 euros.
O artigo publicado em polígrafo.sapo.pt, da autoria de Marta Ferreira, em 11 de fevereiro deste ano, indica que “os referidos estádios custaram 51.054.129 euros e 53.850.170 euros, respetivamente, excluindo os gastos em estacionamentos, acessibilidades e outros investimentos ou infra-estruturas”. Mas parece óbvio que o investimento a contabilizar é o somatório dos custos globais.
19 anos depois, Câmara de Leiria ainda deve 13.1 milhões
Segundo a publicação, a Câmara Municipal de Aveiro comunicouque, em 2022,“suportou um custo global com o estádio de 1.697.757,24 euros, dos quais 27.025,40 euros em “despesas de capital (manutenção diversas)”, 459.800,07 euros em “despesas correntes (despesas diversas)” e 1.210.931,77 euros em “empréstimos (amortização e juro)””. O que fica por saber – não se revela no artigo do Polígrafo – é a rentabilidade da infraestrutura, quero dizer que receitas obteve o Município de Aveiro pela utilização do estádio ou que eventos culturais organizaram para sabermos se vale a pena gastar dinheiro público nesta espécie de castelo nas nuvens.
Já para a Câmara Municipal de Leiria – embora anuncie 13.187.687,47 euros como valor em divida no final de 2022 – o cenário é mais cor-de-rosa: imagine-se, o estádio recebeu um total de “186.239 espectadores“, entre os jogos do União de Leiria, a Final 4 da Taça da Liga (recebeu as últimas 3 edições) e dos 207 eventos que foram ali acolhidos só em 2022. Segundo o mesmo artigo, o Município de Leiria informou que “o custo de manutenção do Estádio Municipal, em 2022, foi de 331.616,16 euros. Quanto aos encargos financeiros relativos à sua construção, em 2022, o valor amortizado foi de 3.440.921,74 euros, tendo os juros representado 602.257,53 euros“.
De fora do artigo publicado por Marta Ferreira ficaram os registos do estádio Algarve, outro castelo de areia construído nas nuvens por irresponsáveis que acreditavam que o “Euro 2004” geraria receitas capazes de pagar um evento exagerado para a dimensão de um país já de si pobre em recursos financeiros. Contudo, numa auditoria realizada pelo Tribunal de Contas, pode ler-.se que só o estádio custou 46,1 milhões de euros aos contribuintes, mas globalmente – infra-estruturas incluídas -, as obras representaram um investimento de 66,3 milhões de euros. Quanto a despesas decorrentes da manutenção e pagamento da divida pela construção da estrutura, recordo que Paula Murtinheira revelou (num artigo publicado no Diário de Notícias em junho de 2006) que as Câmaras de Loulé e Faro faziam um esforço de 1,7 milhões de euros. Então, os autarcas tiveram a lucidez para considerar estes custos avultadíssimos que jamais conseguiam ser aliviados com a realização de esoectáculos musicais de Verão. Também as receitas das partidas pontuais de futebol não chegam para compensar os gastos.
Figura dos “Cinco Violinos”
Peyroteo fez parte dos celebres “Cinco Violinos” no Sporting Clube de Portugal. Chamava-se Fernando Baptista de Seixas de Vasconcelos Peyroteo e nasceu em Angola. Estabeleceu o recorde de golos marcados em campeonatos nacionais – agora, designados por Primeira Liga – que perdura: ¡540!
Nasceu em Humpata em 10 de março de 1918 e faleceu em Lisboa, a 28 de novembro de 1978.
Foi atleta do Sporting entre 1937 e 1949; participou em 334 jogos e na totalidade das competições marcou 553 golos. Na selecção nacional actuou em 20 partidas entre 1938 e 1949 e assinou 15 golos.
Fernando Peyroteo formou com Albano, António Jesus Correia, José Travassos e também Vasques, os famosos Cinco Violinos do Sporting Clube de Portugal.
O dono do recorde no Benfica: 727 golos em 715 jogos!
Eusébio da Silva Ferreira, conhecido por Eusébio, marcou o seu tempo pelas seis exibições na selecção de Portugal no “Mundial” de 1966, embora tenha sido uma das maiores estrelas na Liga dos Campeões… Eusébio exibiu paixão mais que todos, num campeonato do Mundo, marcou 9 golos e chorou muito, no Mundial de Inglaterra onde Portugal foi terceiro classificado depois de uma meia-final contra os “donos da casa” que estavam destinados a serem campeões vá lá saber-se a razão.
Eusébio ganhou a Bola de Ouro – de melhor jogador europeu – em 1965 e ficou em segundo lugar na atribuição da mesma em 1962 e 1966.
O futebolista avançado representou o Sporting de Lourenço Marques (1959/1960), Sport Lisboa e Benfica (1960/1976) e Sport Clube Beira-Mar (1976/1977). Foi 64 vezes internacional e representou pela primeira vez a selecção nacional a 8 outubro de 1961.
Mas foi no Benfica – onde jogou 15 dos seus 22 anos enquanto jogador profissional – que se notabilizou no Mundo, onde ainda detém o recorde do número de golos anotados: 727 em 715 partidas. O seu palmarés no Sport Lisboa e Benfica é admirável: conquistou 11 Campeonatos Nacionais (1960–1961, 1962–1963, 1963–1964, 1964–1965, 1966–1967, 1967–1968, 1968–1969, 1970–1971, 1971–1972, 1972–1973 e 1974–1975), 5 Taças de Portugal (1961–1962, 1963–1964, 1968–1969, 1969–1970 e 1971–1972), 1 Taça dos Campeões Europeus (1961–1962) e ajudou a alcançar mais três finais da Taça dos Campeões Europeus (1962–1963, 1964–1965 e 1967–1968).
Foi o maior marcador da Taça dos Clubes Campeões Europeus em 1965, 1966 e 1968. Ganhou ainda a Bola de Prata sete vezes (recorde nacional) em 1964, 1965, 1966, 1967, 1968, 1970 e 1973. Foi o primeiro jogador a ganhar a Bota de Ouro, em 1968, proeza que repetiu em 1973.
O futebolista luso-moçambicano nasceu a 25 de janeiro de 1942, em Lourenço Marques (atual Maputo) e faleceu a 5 de janeiro de 2014.
É considerado um dos melhores futebolistas de todos os tempos pela Federação Internacional de História e Estatísticas do Futebol, especialistas e fãs.
Obteve os Prémios individuais:
Bola de Ouro (1): 1965; Bota de Ouro (2): 1968, 1973; Bola de Prata (7): 1964, 1965, 1966, 1967, 1968, 1970, 1973; Maior marcador da Taça dos Clubes Campeões Europeus (3): 1965, 1966, 1968; Bota de Ouro do Campeonato do Mundo (1): 1966; Bola de Bronze do Campeonato do Mundo (1): 1966 All-Star Team do Campeonato do Mundo (1): 1966; Futebolista Português do Ano (2): 1970, 1973; BBC Overseas Sports Personality of the Year (1): 1966.
Entre os reconhecimentos, destaque para uma moeda com a efigie de Eusébio, no valor de 7,5 euros. que foi colocada em circulação em Portugal no dia 23 de maio de 2016.
Pavão, ilustre, elegante futebolista caiu por ‘morte súbita’ aos 26 anos
“Pavão”, realmente Fernando Pascoal Neves foi um dos mais notáveis meio-campistas do Futebol Clube do Porto. Faleceu – provavelmente a actualmente designada ‘morte súbita’ – após cair no relvado, do nada. Não sobreviveu apesar das tentativas de reanimação antes e depois já no Hospital de São João. Morreu com 26 anos (Chaves, 12 de agosto de 1947 – Porto, 16 de dezembro de 1973).
O acidente aconteceu no Estádio das Antas, ao minuto 13 – coincidentemente da 13ª jornada da época 1973/1974 – durante um a partida entre o FC. Porto e o Vitória de Setúbal. Fernando Neves – conhecido por “Pavão” pela subtileza e elegância ao fintar de braços abertos – disputou 228 jogos ao serviço dos “Dragões” entre 1965 e 1973, marcou 25 golos, e foi internacional A pela selecção de Portugal em seis ocasiões.
– por José Maria Pignatelli (Texto não está escrito ao abrigo do novo acordo ortográfico)