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    Histórias d’África’ – “Incompreensível! Negligência ou delito?”

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    As estatísticas dos incêndios florestais são sempre traiçoeiras e malévolas: Destroem vidas, ecossistemas, economia da natureza, a que a maioria de nós não dá grande importância, património inestimável que durará décadas a recuperar. Infelizmente, os poderes instituídos lideram os negligentes porque correm quase sempre atrás dos prejuízos; são incapazes de legislar convenientemente; de perceber a evolução dos territórios, das populações; das motivações dos novos delinquentes; também dos equipamentos e infraestruturas que se impõe para enfrentar uma nova demografia em zonas circunjacentes que se fixa entre as áreas mais urbanizadas e espaços florestais e à nova exploração dos solos muitas vezes inadequada.

    A ‘Crestagallo’ – conhecida em Portugal como da família da Crista-galo – é umna das espécies em extinção no arquipélago. O fogo florestal do parque nacional do Teide acabará por ser um golpe na sobrevivência da espécie que é endémica das Canárias, presente nas ilhas de Tenerife, La Palma e La Gomera. É um arbusto lenhoso que pode exceder 1,5 metros de altura, embora o aspecto mais marcante são as suas inflorescências vermelho-alaranjado

    Tenerife é uma ilha de dimensões médias – a maior dos arquipélagos que integram a Macaronésia – que tem 2.034 quilómetros quadrados. É um território finito. De momento sob grande pressão urbanística, populacional e no contexto da mobilidade: As estatísticas oficiais anunciam 970.000 habitantes; um parque de veículos ligeiros circulante de 531.000 (registos estatísticos anunciam 821 viaturas por 1.000 habitantes) e, em 2022 recebeu 4.334.225 de turistas, o mesmo que 361 185,4 pessoas por cada mês, numa divisão meramente aritmética. Portanto, a ilha não pode suportar um incêndio florestal de quatro dias que já afectou 10.000 hectares, ou seja, 100 000 000 de metros quadrados e percorre um perímetro que ultrapassa os 70 quilómetros.

    Pior de tudo:

    • É inadmissível que se tivessem de evacuar 12 mil cidadãos e se perca parte do seu maior património florestal. O Parque Nacional do Teide – designação obtida em 22 de janeiro de 1954 – ocupa a zona mais alta da ilha de Tenerife e de Espanha, numa média de 2.278 metros de altitude. Foi declarado Património da Humanidade pela UNESCO, em 2007. É dos parques nacionais de um país europeu dos mais visitados: bateu um recorde em 2016 porque foi visitado por 4.079.823 cidadãos.
    • Que o fogo teve início ás 00:30 horas do dia 16 de agosto, num momento em que se festejava a Senhora da Candelaria, para onde foram deslocados 400 efectivos das forças de segurança, se encontravam alguns dos líderes políticos de Tenerife e da Comunidade Autonoma das Canárias. Tudo num período em que o Parque Nacional do Teide estava encerrado à passagem de veículos e de pessoas, incluindo peregrinos e montanhistas que, de acordo com os decisores, era precisamente para evitar incêndios por negligencia.
    O incêndio do parque nacional do Teide vai deixar muitas dezenas de milhares distantes de poder usufruir destas imagens de enorme singularidade. Soube-se ao final de domingo que as autoridades asseguram que estramos perante um fogo florestal com ignição propositada. Foi o próprio presidente do governo de Canárias, Fernando Clavijo, que o confirmou

    E a primeira pergunta: Controlavam-se os acessos para assegurar que ninguém desobedecia à proibição?

    Segunda pergunta: São ou foram suficientes os meios que combatem o incêndio e a evolução da integração de pessoas e equipamentos foi a ideal? 

    Oficialmente, ao quarto dia, encontram-se no terreno um activo operacional de 610 pessoas: 275 combatentes; 115 membros das forças de segurança, 40 operacionais de logística, 20 membros no serviço de coordenação e 160 voluntários. A estes números acrescem 22 meios aéreos, dos quais dois de organização. No dia 18, aterrou em Tenerife um avião A400 do Exército do Ar (homóloga à Força Aérea Portuguesa) com 10 contentores de retardantes e outros dois de espumante que se consideraram – e bem – como imprescindíveis aos trabalhos de combate às chamas.

    O incêndio do parque nacional do Teide vai deixar muitas dezenas de milhares distantes de poder usufruir destas imagens de enorme singularidade. Soube-se ao final de domingo que as autoridades asseguram que estramos perante um fogo florestal com ignição propositada. Foi o próprio presidente do governo de Canárias, Fernando Clavijo, que o confirmou

    Não se percebe a máxima dos europeus contra os retardantes. É preferível deixar arder e acabar por usar os químicos?

    Até então combatiam-se as chamas com muita água do mar (salgada) porque é onde helicópteros e hidroaviões se podem abastecer. Isso pode não fazer mal nenhum; ou pode ser um problema. Tudo depende do local, do solo e da quantidade de água salgada. Vejamos: Se nos meses seguintes chover apreciavelmente os sais deixados no solo acabam por ser devolvidos ao mar por infiltração acelerada; caso contrário mistura-se com outros sais nas zonas mais rochosas que já por si tem algum sal e sódio, o que a prazo ajuda à erosão e acaba por consubstanciar a formação de dioxinas.

    Já os retardantes de chama – quase sempre muito eficazes – são aplicados para reduzir a inflamabilidade intrínseca. São essencialmente substâncias químicas que detêm acção de retardar a ignição, diminuir a velocidade de queima e minimizar a emissão de fumos. Os aditivos anti-chamas possuem a capacidade de prolongar o tempo em que um material polimérico (substância composta por moléculas grandes, conhecidas como macromoléculas que, por sua vez, são compostas de várias unidades repetíveis) leva para iniciar seu processo de combustão, uma vez que tornam a transferência de energia entre os compostos de queima mais lenta.

    O incêndio do parque nacional do Teide vai deixar muitas dezenas de milhares distantes de poder usufruir destas imagens de enorme singularidade. Soube-se ao final de domingo que as autoridades asseguram que estramos perante um fogo florestal com ignição propositada. Foi o próprio presidente do governo de Canárias, Fernando Clavijo, que o confirmou

    Obviamente que o uso destes químicos também pode deixar sequências: o primeiro composto químico utilizado é o decaBDE que, ao contrário do pentaBDE e do octaBDE, não é tão danoso por si só. Mas se entrar em contacto directo com a luz do Sol, sofre uma conversão nos tóxicos da sua classe, e pode trazer consequências mais danosas. Contudo, os retardantes usados nestas circunstâncias são testados e industrialmente avaliados para não provocar maiores malefícios na natureza. São claramente de enorme utilidade para evitar a propagação de quase todos os tipos de incêndios de grande dimensão, sejam florestais, industriais e até urbanos.

    Não há incêndios fortuitos!

    Os incêndios não acontecem ao acaso. Deixemo-nos de crenças em casualidades por causa das maiores vagas de calor. Atentos às evidências científicas. Recordemos o que aconteceu em 15 de junho, na ilha de La Palma, onde as chamas tiveram início sobre a 01:05 da madrugada e em menos de 20 horas já tinham consumido 4.500 hectares e forçado a evacuação de 2 mil pessoas. Por diferente que seja, voltou a pairar a sombra de uma tragédia nas Canárias: Em Tenerife a ignição aconteceu às 00:30 do dia 16 de agosto em momento de festa no santuário da Candelaria com as consequências que se conhecem com 5 dias de enorme trabalho incondicional de mais de 600 cidadãos.

    O incêndio do parque nacional do Teide vai deixar muitas dezenas de milhares distantes de poder usufruir destas imagens de enorme singularidade. Soube-se ao final de domingo que as autoridades asseguram que estramos perante um fogo florestal com ignição propositada. Foi o próprio presidente do governo de Canárias, Fernando Clavijo, que o confirmou

    Mas importa fixar-nos em factos. As temperaturas altas só por si não provocam incêndios florestais. Os fogos acontecem:

    • Por uma emissão intensa de radiação electromagnética resultante de uma descarga electrostática na atmosfera a que chamamos de relâmpago (que se produz pior uma grande diferença de potencial eléctrico entre porções de matéria e devemos pereceber que o relâmpago é o clarão que avistamos de um raio) … Ao que se sabe não foi o que aconteceu em La Palma.
    • Por origem humana, ou seja, por negligência; involuntariamente ou propositada, ou seja, resultante de acção criminosa, flagiciosa.

    É inadmissível que não se invista na investigação judiciária neste âmbito, nos países do Sul da Europa e, obviamente, também neste arquipélago do continente africano pertencente a Espanha.

    Porventura, é o momento de pensar em rever os códigos penais no sentido de agravar as condenações aos autores destes crimes contra a natureza e incluindo os pirómanos.

    De qualquer modo, esta ocorrência deve fazer-nos reflectir sobre um outro tema já que vivemos numa ilha jovem com pouco mais de 3,5 milhões de anos onde a actividade vulcânica não se encontra extinta. A última explosão sucedeu em 1909 e o Teide está em estado de dormência. Há legitimidade para fazer três perguntas:

    • Que sucederá se o Teide entrar em erupção? As organizações de socorro e as forças de segurança do Estado estão preparadas?
    • A população que cresce sistematicamente sente-se informada e consciencializada para o fenómeno?
    • Temos presente a erupção de 19 de setembro de 2021, na ‘Cumbre Vieja’ em La Palma?

    – por José Maria Pignatelli (Texto não está escrito ao abrigo do novo acordo ortográfico)

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