De acordo com registos que são partilhados entre instituições internacionais, em 2019 nas praias onde as areias são peinadas de todo o Mundo recolheram-se um número alarmante de filtros de cigarros: média diária de 18.000 milhões.
Não se trata de proibir por proibir: apenas lutar contra a poluição sonora e sujidade das areias. Em alguns casos são verdadeiros atentados ao ambiente e natureza. Perceber que a maioria do lixo mais pequeno como as pontas de cigarros acabam por ir parar ao mar, desde logo com a amplitude das águas por efeito das marés. Uma paragem pelas praias ao nascer do dia dá para termos a percepção da dimensão do micro lixo que se acumula nas praias num só dia, onde os cigarros são a maior dor-de-cabeça.

Em Cádiz, não se pode fumar na Praia de Valdevaqueros ou Bolonha em Tarifa. Em Huelva, é proibido nas praias de Punta Umbría ou Ayamonte. Em Málaga, nas praias de La Cala em Mijas ou em Estepona. E em Granada, está proibido em Playa Granada. Também em Tenerife já há praias onde não se pode fumar e fazer ruído com aparatos electrónicos, acampar e levar animais de estimação, ainda que neste último caso se podem levar para praias maiores, tanto mais que Espanha é dos países europeus como maior número de animais de companhia per capita.
Portugal não será dos primeiros a aplicar esta legislação a bem de todos e da natureza.
Não se trata de proibir porque está na moda: apenas lutar contra a poluição e sujidade das areias onde à miude encontramos centenas de pontas de cigarros ou beatas como queiram. Em Espanha, há praias onde a multa pode ascender aos 450 euros só por acender o cigarro. Pergunta-se: não é uma medida demasiado extrema? Respondo com dois testemunhos: à chamada de atenção pelos socorristas, as respostas foram semelhantes; ambas negativas, com atitudes depreciativas e de falta de educação. Numa das situações a polícia foi chamada a intervir.

Naturalmente que somos chamados a reflectir: A questão de fundo prende-se com a pressão demográfica e a ocupação descontrolada das praias, onde obviamente os cidadãos têm o direito de entrar… Mas também todos temos o dever de preservar o ambiente e a natureza. Não basta falar a todo o tempo do CO2 como se esse fosse o maior ou único dos nossos problemas, ignorando que cada um de nós liberta o seu peso em CO2 a cada 24 horas e se estivéssemos absolutamente quietos. Portanto, a questão de proibir o fumo nas praias, ou a música alta não é um tema de redução de liberdades individuais; antes uma questão de civilidade, cada vez menor nas praias mais frequentadas.
Já a proibição da circulação de motos de água, jet-ski, pratica de ski-surf, windsurf e outras modalidades aquáticas nas áreas de banhos não é novidade nas praias de muitos outros países europeus e de outros continentes. Trata-se de evitar acidentes que, na maioria dos casos, são mortais ou deixam sequelas graves, em virtude da violência dos impactos, habitualmente no tronco ou no pescoço-cabeça. Em Espanha, a maioria das praias têm as áreas perfeitamente identificadas através de perímetros marcados por amarras com boias de cor amarela ou alaranjada.
Sol e raios ultravioletas podem romper o filtro em pequenos pedaços ou partículas, mas a matéria nunca desaparece, antes se dilui na água ou no solo
Mas voltemos às pontas dos cigarros, ou melhor, aos filtros. É interessante ler registos e conclusões de análises científicas.
Globalmente e de acordo com registos que são partilhados entre instituições internacionais – alguns na sequência de operações internacionais periódicas destinadas a limpeza de espaços naturais – recolhe-se um número alarmante de filtros de cigarros: Em 2019, a média diária foi de 18.000 milhões.
Salta-nos de imediato a pergunta: Como se soluciona esta falta de civilidade entre os utilizadores das praias? No imediato com proibição de fumar acompanhado de sanções pecuniárias.
Os filtros de tabaco são o resíduo mais abundante a nível mundial em quantidade. É a conclusão de um relatório da Organização Mundial de Saúde (OMS) que adianta que “o resto dos resíduos são importantes e alarmantes, mas, desde os anos 80, as bitolas representam constantemente entre 30% e 40% de todos os objectos recolhidos anualmente em batidas internacionais, seja na costa ou nas limpezas em meios urbanos. No entanto, a OMS centra maior atenção sobre o impacto ambiental dos filtros de tabaco nos ambientes e organismos marinhos.

Sabe-se que os produtos químicos do tabaco, como a nicotina, o arsénio ou os metais pesados, podem ser muito tóxicos para os organismos aquáticos invertebrados e para os peixes, num processo que acontece rapidamente dentro da água. Mas sobre o impacto nos ambientes terrestres sabe-se pouco. Os investigadores do estudo Cigarettes Butts and the Case for an Environmental Policy on Hazardous Cigarette Waste, publicado em 2019, no “Journal of Environmental Research and Public Health”, afirmam que “as beatas recuperadas nas praias não provêm necessariamente de cigarros fumados nelas. Os cigarros fumados são atirados nas calçadas ou a partir dos veículos automóveis em andamento que depois se deslocam para os esgotos, e daí aos rios e aos oceanos“.
Seria determinante identificar a quantidade destes resíduos que existem em terra e onde estão espalhados. Lembrar estatísticas das vendas anuais de cigarros: 6 biliões em todo o Mundo.
Num artigo do periódico “ElDiario.es” publicado em 6 de janeiro de 2019 contava um pouco da história dos filtros de tabaco que merece atenção quanto mais para memória histórica;
Nem sempre houve filtros no tabaco. Em 2017, a OMS descreve como os filtros entraram no mercado, mostrando-se muito crítica sobre seus efeitos: “Nos anos 50, a indústria tabaqueira começou a fazer marketing sobre os cigarros com filtro como uma alternativa ‘mais saudável’ [pois em teoria protegia os fumadores dos tóxicos, impedindo que estes alcançassem seus pulmões]. Este passo alterou o mercado para sempre e tornou os cigarros com filtro o produto mais vendido. Agora, de acordo com a OMS, sabemos que essa mensagem de ‘mais saudável’ foi fraudulenta. A única realização dos filtros foi tornar o tabaco mais fácil e menos irritante, aumentando dois riscos: a dependência dos fumadores e o lastro dos filtros tóxicos de acetato de celulose para o nosso ambiente”. Um estudo publicado em 2017, no Journal of Environmental Research and Public Health, demonstra que este composto não é biodegradável, explicando que “apesar de que, em condições ambientais idóneas, os raios ultravioletas do Sol possam romper o filtro em pequenas peças, a matéria nunca desaparece, mas sim, dilui-se na água ou no solo“.
Para a Organização Mundial de Saúde, esta conclusão, significa “expulsar alguns dos 7.000 químicos que contêm um cigarro, muitos dos quais são ambientalmente tóxicos e pelo menos 50 são conhecidos como cancerígenos para os humanos“.
– por José Maria Pignatelli (Texto não está escrito ao abrigo do novo acordo ortográfico)