A computação na nuvem tem vindo a assumir uma relevância crescente no setor das Tecnologias de Informação (TI), em consequência de as empresas orientarem cada vez mais a sua atividade para uma economia que prioriza o digital. Na atualidade, a capacitação digital e correspondente dinâmica são paradigmas emergentes a envolver de forma permanente toda a sociedade e em particular a atividade das empresas do setor privado e das empresas e outros organismos públicos. É neste contexto que somos frequentemente confrontados com uma permanente necessidade de estar atento a novas funcionalidades que o digital nos pode proporcionar, visando a melhoria do nosso desempenho profissional e até da nossa qualidade de vida privada. Poderá dizer-se que, de uma forma transversal, a generalidade dos vários setores de atividade procura melhorar a sua eficiência e eficácia, visando uma competitividade crescente, através da utilização inteligente de dados, o que se vem tornando mais facilitado através da utilização de tecnologias digitais baseadas na nuvem.
Na contemporaneidade, para qualquer organização que tenha como estratégia priorizar o digital, a computação na nuvem será obrigatoriamente uma das variáveis a entrar na equação. À medida que as organizações procuram automatizar processos, proporcionar novas experiências aos seus clientes e lançar novos produtos e serviços, a computação na nuvem tem emergido como o principal acelerador da inovação.
Todavia, um dos grandes desafios com que as organizações se confrontam consubstancia-se no facto de possuírem sistemas de informação legados, em que a transição para uma abordagem de computação na nuvem exige trabalho de engenharia de software ou, eventualmente, a sua substituição. A dimensão desta intervenção depende de organização para organização e da estratégia que cada uma delas tem vindo a adotar nos últimos anos.
Para alguns sistemas de informação, a adoção do modelo de modernização lift-and-shift para uma máquina virtual na nuvem será provavelmente a forma mais conveniente e menos impactante de os migrar para uma filosofia de computação em nuvem.
No entanto, para uma grande parte dos sistemas de informação existentes, alguns especialistas têm defendido que uma abordagem que oferece maiores benefícios a longo prazo passa por refatorar parte da própria aplicação. Para aplicações que são candidatas a alguma refatoração, pode-se adotar uma das diversas abordagens relativamente fáceis oferecidas por todas as nuvens públicas, usando um conjunto de serviços de nuvem básicos para ampliar o valor dessa aplicação. Neste contexto, tem sido observado um crescente interesse das organizações em usar serviços em nuvem que oferecem gestão de APIs, computação sem servidor e ações baseadas em eventos para substituir algumas funcionalidades dos sistemas de informação existentes. Alguns estudos que têm vindo a ser realizados permitem perspetivar que o uso desses ou de outros serviços em nuvem, para melhorar a funcionalidade e a eficiência das aplicações informáticas existentes, seja uma abordagem usada para 65% dos sistemas de informação existentes e que serão migrados para a nuvem pública até 2024.
Todavia, o panorama nacional é de alguma resistência ao inevitável processo de migração e modernização das infraestruturas intrínsecas aos sistemas de informação das organizações, embora se constate um conjunto de serviços básicos em nuvem crescente, que fornecem as ferramentas necessárias para separar partes de aplicações legadas e depois recriá-las usando ferramentas modernas e eficientes.
Num contexto de grande evolução tecnológica, com inevitável impacto no funcionamento das organizações, os resultados de inúmeros estudos que têm vindo a ser realizados evidenciam que a modernização dos sistemas de informação agrega valor ao negócio através do aumento da competitividade e da capacidade de superar os concorrentes.
Os serviços de nuvem pública oferecem aos utilizadores finais acesso a uma variedade de recursos compartilhados de computação e armazenamento de dados, um amplo conjunto de aplicações e flexibilidade no pagamento apenas por serviços usados, ao mesmo tempo que eliminam os custos inerentes à exploração de datacenters e respetiva infraestrutura tecnológica.
Todavia, preocupações com segurança e privacidade dos dados, conformidade com requisitos regulamentares, desempenho inadequado para uma realidade específica e custos de serviço que excedem as expectativas do utilizador final têm vindo a inibir algumas empresas a iniciar um processo de mudança que, inevitavelmente, terá de ocorrer mais tarde ou mais cedo. Este grupo inclui empresas que procuram oferecer software como um serviço, através de um modelo B2B ou B2C e aquelas cujo modelo de negócio tem subjacente um modelo de infraestrutura como serviço de arrendamento partilhado com requisitos de resposta a desafios de segurança e escalabilidade.
Por fim, as estratégias emergentes de infraestrutura digital adotadas por muitas empresas procuram implementar sistemas autónomos e integrados num ambiente nativo de nuvem visando otimizar custos, desempenho, segurança, conformidade e resiliência da infraestrutura digital.
A necessidade de conferir resiliência aos negócios e acelerar a transformação digital irá impor às empresas a necessidade de automatizar e controlar a operacionalidade dos seus processos de negócio, usando arquiteturas nativas na nuvem, combinadas com políticas de preços orientadas ao consumo e que assegurem a escalabilidade da infraestrutura em função das necessidades impostas pela dinâmica da sua organização. Inevitavelmente, as organizações irão efetuar uma avaliação comparativa dos benefícios de usar soluções proporcionadas pelos principais fornecedores de serviços de nuvem pública, em contraste com soluções tradicionais de software e hardware.
A crescente disponibilidade de ofertas de serviços fornecidos por soluções de computação na nuvem tem induzido o aumento do interesse da comunidade de utilizadores finais por este tipo de soluções. Os compradores de tecnologias de informação estão a ficar mais focados nos resultados, à medida que serviços e soluções de nuvem transferem grande parte das tarefas de atualização tecnológica e gestão do ciclo de vida da infraestrutura para os provedores de serviços.
João Calado
(Professor Coordenador Principal do ISEL)