O Hospital Beatriz Ângelo continua a ser notícia pelas piores razões. O facto é que desde que passou de gestão Público Privada (PPP), a 18 de janeiro de 2022, para gestão estatal (EPE), o atendimento aos doentes e os tempos médicos de espera garantidos (TMEG) para consultas de especialidade, exames e meios complementares de diagnóstico, tornaram-se um verdadeiro inferno para os lourenses e para os utentes de Odivelas, Mafra e Sobral de Monte Agraço (áreas de influência do HBA).
As urgências pediátricas passaram a estar fechadas à noite e aos fins de semana, e segundo a presidente do conselho de administração este facto em nada afeta o funcionamento do hospital porque por turno eram habitualmente atendidas 20 crianças … para mim nem que fosse uma, mas talvez seja só eu que penso assim.
A meio de agosto, mês em que muitos estão de férias e a incidência de patologia habitualmente diminui, um homem de 93 anos morreu no Hospital Beatriz Ângelo enquanto aguardava a transferência para o Hospital de Santa Maria, devido a uma fratura no colo do fémur. Deveria ter sido transferido, mas acabou por morrer na maca da ambulância dos Bombeiros de Camarate que o levaram até ao hospital de Loures. Os bombeiros de Camarate ter-se-ão oferecido para levar o idoso até ao Hospital de Santa Maria, mas o Hospital Beatriz Ângelo terá recusado porque o transporte tinha de ser feito pela entidade que presta serviços à unidade hospitalar, ou seja, perante uma solução o Hospital preferiu esperar. Esperar foi aliás a palavra do dia já que 22 ambulâncias terão ficado retidas no hospital de Loures devido a um atendimento com tempos de espera elevados e à falta de macas. Espera essa fatal para o idoso de 93 anos que acabou por falecer.
O HBA abriu inquérito “com carácter de urgência” para apurar a morte do senhor de 93 anos e a Inspeção-Geral das Atividades em Saúde (IGAS) decidiu averiguar igualmente, em conjunto com a Entidade Reguladora da Saúde (ERS). Contudo, esta vida é irrecuperável e passadas três semanas nunca mais se voltou a ouvir falar do caso por parte das entidades envolvidas.
O concelho de Loures, como muitos concelhos do Distrito de Lisboa, sofre com o elevado número de utentes sem médico de família, o que leva a que facilmente, e sem resposta por parte dos cuidados de saúde primários, os utentes recorram às urgências hospitalares sobrecarregando-os e levando a situações caóticas de horas intermináveis de espera para atendimento.
Acresce à falta de resposta nos cuidados de saúde primário e êxodo de especialistas que quando o HBA passou de gestão publico privada para gestão pública abandonaram o hospital, número esse que tem vindo a aumentar com o passar do tempo. Ou seja, a resposta médica no concelho de Loures é cada vez mais precária.
O Presidente da Câmara Municipal de Loures queixa-se de que o Ministro da Saúde Manuel Pizarro não “honrou o compromisso assumido” e deixou o hospital perder competências e “credibilidade”, mas isso não chega. Não podem continuar a morrer pessoas por falta de assistência e de resposta rápidas.
O que mais falta acontecer para que definitivamente as entidades competentes olhem para este problema como uma verdadeira catástrofe?
Fica a pergunta.
Patrícia Almeida
Deputada Municipal, Líder de bancada partido Chega na AM Lrs
gab_dep_chega@cm-loures.pt