BRICS é um símbolo ou designação que a maioria dos ocidentais não faz ideia do que seja.
É a junção das primeiras letras de cinco países: Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. Trata-se duma organização geoestratégica principalmente no domínio da economia e finanças. Também estabelece cooperação nas áreas técnica, científica, cultural e no sector acadêmico.


Gráficos da autoria de @DepreEconomica e universalizados pelo coronel Pedro Baños no Twitter (agora, ‘X’), a quem agradecemos
A partir do primeiro dia de 2024, juntam-se oficialmente seis membros novos: Arábia Saudita, Irão, Emiratos Árabes Unidos, Egipto, Etiópia e Argentina. Foi uma decisão tomada na 15ª Cúpula do BRICS, realizada em Joanesburgo, na África do Sul (terminou a 24 de agosto último) e onde se debateu a relação com África e se tornou a impor mais espaço para países do Sul Global. Neste contexto, deviam saltar alarmes a Ocidente? A intervenção da China no conflito do Iémen – que opunha interesses sauditas com os dos iranianos – foi decisiva para aproximar os dois países oposicionistas. A partir do próximo mês de janeiro sentam-se do mesmo lado da bancada, pelo menos na organização BRICS.
Deve o Ocidente reflectir sobre esta mudança geopolítica e económica?
Diria que deve fazer uma profunda análise e numa perspectiva global, sobretudo pela excessiva dependência destes países no domínio das matérias-primas, com a excepção dos EE.UU. que podem depender de si próprios. Imaginemos os efeitos de um bloqueio do comércio com estes países durante 15 dias. O que sucederia às indústrias que nos sobram e á produção de alguns produtos alimentares essenciais?
Os cinco Estados Membros dos BRICS representam presentemente 23% do PIB mundial, 42% da população e mais de 16% do comércio global.
E poderemos descortinar diversas características comuns entre os cinco fundadores e os novos membros: são países com maior extensão territorial, riqueza de matérias-primas, disponibilidade de mão de obra barata (destaque para a Índia), concentram a maior percentagem da população mundial, têm enormes mercados internos e entre eles concentra-se grande potencial militar, particularmente a Rússia e China, não desvalorizando os próximos integrantes Arábia Saudita e Irão.
Novo BRICS será responsável por 30,7% do ouro, 79,2% do alumínio, 54,7% do volume total das colheitas de arroz e 48,7% do trigo. Também detém 52,5% das jazidas de gás natural


Vejam os dados macroeconómicos após a integração dos novos 6 Estados Membros:
O novo BRICS passa a representar 52,5% das jazidas de gás natural e 44,4% das jazidas de petróleo mundiais; 38,3% da produção industrial e 23,4% das exportações totais globais.
Mas há outras estatísticas muito relevantes:
Produzem 30,7% do ouro mundial contra apenas 12,2% entre os Estados Membros do G7 – Estados Unidos, Japão, Alemanha, Reino Unido, França, Itália e Canadá -, embora os 7 sejam detentores de 49,2% das reservas. Contrariamente aos 17% que os 11 membros do BRICS.
O novo BRICS é responsável da produção de 79,2% do alumínio; 54,7% do volume total das colheitas de arroz e 48,7% das colheitas de trigo.
Como última nota significativa representam 77,4% da produção de paládio contra os 6,9% da totalidade que os países do G7 conseguem produzir. Para os mais distraídos, o paládio – elemento químico de símbolo Pd e de número atómico igual a 46, que à temperatura ambiente se encontra no estado sólido – utiliza-se na produção de equipamento de uso militar, aeroespacial e civil. Segundo registos facultados pelo ICBC Standard Bank. entre 75% e 80% do paládio extraído das minas são utilizados na fabricação de catalisadores, os elementos de maior reação às partículas emitidas por motores térmicos consideradas mais nocivas ao meio ambiente. Determinante reconhecer que a cotação do paládio é superior à do ouro e foi o metal que mais valorizou desde 2019.
Os 11 Estados membros também representam 45% da população total e 36% da superfície territorial.
A ideia dos BRICS foi formulada pelo economista-chefe da Goldman Sachs, Jim O’Neil, num estudo de 2001, intitulado “Building Better Global Economic BRICs”. Então, fixou-se como categoria da análise nos meios económico-financeiros, empresariais, acadêmicos e de comunicação.
Sauditas compram 9,9% da Telefónica e tornam-se accionistas maioritários
A primeira semana de setembro fica marcada pelo anúncio da compra de 9,9% da Telefónica – uma infraestrutura crítica das comunicações e superiormente estratégica de Espanha, do ponto de vista da segurança do Estado – pelo grupo STC da Arábia Saudita. Ou seja, aquele país do Médio Oriente fica com uma participação maioritária na empresa. Para isso, investiu 2.100 milhões de euros.
A notícia foi dada ao final da tarde do passado dia 5 de setembro e todos ficámos com a sensação que apanhou de surpresa o governo de Espanha. Mas talvez não, embora alguns Órgãos de Comunicação Social garantam que os sauditas esconderam as suas intenções do governo espanhol durante seis meses. De qualquer modo, uma certeza: O chefe de Estado, Rei Filipe VI, em primeira pessoa, ante as câmaras, garantiu desconhecer a operação por completo. Estamos perante: primeiro, a deselegância diplomática entre dois Estados; segundo, um equívoco e porventura falta de lealdade do governo social-comunista, em funções de gestão. liderado por Pedro Sánchez, ao Chefe de Estado. Também José María Álvarez-Pallete, presidente executivo da empresa se revelou surpreendido.
Todavia, a Saudí Telecom Company Group anuncia não ter intenção de adquirir o controlo da empresa nem uma posição maioritária, mas que realmente conseguiu com a operação. O seu investimento foi realizado mediante a aquisição de acções representativas de 4,9% do capital social da Telefónica e de instrumentos financeiros que conferem uma exposição económica sobre outros 5% do capital social, conforme se explica num comunicado enviado à Comissão Nacional de Mercado de Valores (CNMV).


E qual a razão desta espécie de ginástica na operação?
A percentagem de 9,9% é o limite que qualquer investidor estrangeiro pode ambicionar comprar livremente numa companhia espanhola cotada. Assim determina a legislação anti-Opas aprovada 2020 por causa da pandemia do SARS-Cov-2 com o intuito de proteger as empresas nacionais de sectores estratégicos. Mas a reforma legislativa, do passado mês de julho, por causa do ‘escudo anti-Opas’, confere ao Governo, através do Ministério da Defesa (por questões de segurança nacional), o poder de conceder autorização prévia, para operações em que estejam envolvidas as tais designadas “infraestruturas críticas“, incluindo do sector das comunicações, armazenamento e tráfego de dados. Ora, foi esta premissa que obrigou à divisão da operação em duas partes: de imediato de 4,9% e o adiamento mediante instrumentos financeiros de outros 5%.
Definitivamente, o governo de Sánchez conhecia a disposição saudita na aquisição.
Também não deixa de ser relevante um acordo comercial celebrado entre as duas multinacionais no passado mês de fevereiro para fornecimento de soluções e serviços digitais. Então, a STC tornou-se membro do Partners Program da Telefonica, um programa de iniciativas lançado há 12 anos que abrange mais de 65 mercados na Europa, América Latina, Próximo Oriente e África.
Sauditas tem 170 milhões de clientes. Em 2022 tiveram receita total de 17,9 mil milhões
STC Group é a maior operadora de telecomunicações da Arábia Saudita – controlada pela família real com 64% do capital –, com uma quota de mercado de 75% de telefonia e gestão de 90% do volume e dados do tráfego de internet daquele país. Marca presença em 11 países e possui uma base de 170 milhões de clientes. A empresa está cotada na bolsa de valores da Arábia Saudita, com uma capitalização bolsista de 49,2 mil milhões de euros. No ano passado (2022), registrou uma receita total de 67.430 milhões de riais – sensivelmente 17.900 milhões de dólares -, com um aumento de 7% em comparação com 2021. O grupo conseguiu um aumento de seu lucro líquido de 7,6%, alcançando os 3.200 milhões de dólares.
Até à entrada dos sauditas, os grandes accionistas da Telefónica distribuiam-se: BBVA, como primeiro investidor, com 4,87% dos direitos econômicos; a gestora norte-americana Blackrock, que representa 4,48%, e a CaixaBank, que soma 3,5%. Tanto a BBVA como a La Caixa têm um conselheiro dominical no conselho da operadora, pelo que a STC teria direito a solicitar representação no órgão máximo de governo da empresa espanhola.
– por José Maria Pignatelli (Texto não está escrito ao abrigo do novo acordo ortográfico)