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Interação com Computadores e Dispositivos Móveis – O Futuro!

A curto/médio prazo, ou seja, num horizonte temporal não superior a meia dúzia de anos, a mudança será radical relativamente à realidade atual. A interação com os computadores, ou com os smartphones, ocorrerá com recurso a linguagem natural.

Atualmente, a realização de uma tarefa com a utilização de um computador, ou de um smartphone, pressupõe a prévia seleção da aplicação a utilizar. Por exemplo, redigir uma proposta comercial pressupõe que seja previamente selecionada uma aplicação como o Microsoft Word, ou o Google Docs. Todavia, estas aplicações não possuem a capacidade de ajudar o utilizador nas suas tarefas quotidianas, como por exemplo, enviar um email, compartilhar uma selfie, analisar dados, agendar uma festa, ou comprar bilhetes para o cinema. Mesmo os sites, que têm subjacentes ferramentas de Inteligência Artificial (IA) para caraterizar os perfis dos utilizadores que os consultam, não conseguem mais do que uma caraterização bastante limitada de todos aqueles que com eles interagem, daí resulta uma capacidade limitada de automatizar processos que vão ao encontro das suas expetativas. A eficácia desta funcionalidade, na atualidade, ainda está reservada aos seres humanos, nomeadamente, um amigo próximo ou um assistente pessoal.

Perspetiva-se que, a curto/médio prazo, ou seja, num horizonte temporal não superior a meia dúzia de anos, a mudança será radical relativamente à realidade atual. O utilizador não terá necessidade de usar aplicações distintas para realizar tarefas diferentes. A interação com o dispositivo, computador ou smartphone, ocorrerá com recurso a linguagem natural utilizada no nosso quotidiano para interagirmos com outros interlocutores humanos, solicitando-lhe uma ação específica. Dependendo da quantidade de informação compartilhada com o dispositivo, que permita caraterizar a minha atividade quotidiana, gostos e preferências, a resposta do mesmo será mais ou menos ajustada às minhas expetativas em função da ação que lhe foi previamente solicitada. Num futuro relativamente próximo, qualquer pessoa poderá ter, nos seus dispositivos digitais com capacidade de ligação online, um assistente pessoal suportado por técnicas de IA, que proporcionará um desempenho com uma eficácia muito superior ao que se consegue alcançar com a tecnologia atual.
Este tipo de sistema informático, com capacidade de interpretação da linguagem natural, terá a competência de proporcionar um conjunto de serviços disponibilizado em conformidade com as expetativas dos utilizadores, sendo designado por Agente. O conceito de Agente apareceu no seio da comunidade científica internacional, que trabalha no domínio do conhecimento da IA, em meados dos anos 90. Todavia, só mais recentemente, com o desenvolvimento da microeletrónica e a consequente melhoria da capacidade de armazenar e processar informação, bem como com os desenvolvimentos alcançados nas técnicas de IA, é que o desenvolvimento de arquiteturas computacionais baseadas em Agentes e Multiagentes se tem revelado verdadeiramente eficaz na implementação de sistemas informáticos com capacidade de proporcionar um conjunto de serviços automatizados. Os Agentes não irão apenas mudar a forma de interação dos utilizadores com os computadores e outros dispositivos móveis, como também provocar uma revolução na indústria do software, impulsionando a maior revolução no domínio do conhecimento da computação desde que passámos da digitação de comandos para o toque em ícones.
Os Agentes, que irão suportar a nossa interação com os computadores e dispositivos móveis, permitirão estabelecer um diálogo diferenciado e personalizado, proporcionando a realização de tarefas complexas, muito para além da simples escrita de uma carta. Os sistemas informáticos passarão a ter capacidade de acompanhar as nossas interações online e com locais do mundo real e, se lhes for dada permissão, desenvolverão uma poderosa compreensão holística da nossa atividade quotidiana, caraterizando as nossas interações pessoais e de trabalho, os nossos hobbies, preferências e horários, o que lhes conferirá a capacidade de nos ajudar na tomada de decisão e de, inclusivamente, nos interpelar para que tomemos uma decisão especifica num contexto particular.
Relativamente aos sistemas informáticos suportados por ferramentas de IA atualmente existentes, podemos dizer que a mudança que será observada com a introdução das arquiteturas baseadas em Agentes será disruptiva. A maioria dos atuais sistemas informáticos são bots, estando limitados a aplicações especificas, que só reagem quando estimulados a fazê-lo. As interações que ocorrem com um utilizador específico, em tempos distintos, não lhe são associadas, pelo que os atuais sistemas informáticos não aprendem, nem melhoram nenhuma das preferências de um determinado utilizador, visando uma interação mais personalizada e a corresponder às suas expetativas.
As arquiteturas Multiagente irão proporcionar sistemas informáticos proativos, com capacidade de fazer sugestões, antes mesmo de o utilizador solicitar qualquer ajuda. Proporcionarão interação com várias aplicações, tendo capacidade de autoaprendizagem de forma contínua e em tempo real, a partir das atividades de um utilizador específico, permitindo reconhecer intenções e padrões do seu comportamento. Neste contexto, passaremos a ter equipamentos proativos na sugestão de ações concretas, embora seja o utilizador a tomar a decisão final.
Para melhor se perceber as diferenças que irão ocorrer a curto/médio prazo, vamos dar um exemplo. Considere que o utilizador de um computador, ou de um smartphone, pretende planear uma viagem. Um bot de viagens permitirá ajudar a identificar os hotéis com valores adequados ao orçamento que utilizador tem disponível. Um Agente percecionará a época do ano em que o utilizador irá viajar e se, de acordo com o seu histórico de viagens, costuma procurar novos destinos, ou voltar a locais onde já esteve, podendo sugerir destinos para a sua viagem. Quando solicitado, recomendará atividades a realizar no local de destino, em conformidade com os interesses do utilizador e de acordo com as suas preferências, hipoteticamente, fará de forma automática a reserva de restaurantes. Atualmente, o planeamento profundamente personalizado de uma viagem poderá exigir o recurso a uma agência de viagens que irá cobrar o seu serviço e certamente exigirá que o utilizador gaste tempo a especificar o que efetivamente pretende.
Será expetável uma democratização de acesso a serviços que hoje têm um custo demasiado elevado para muitas pessoas, com particular enfoque nas áreas a seguir indicadas: saúde, educação, produtividade, compras e entretenimento. Na próxima edição, serão dados alguns exemplos dos contributos com valor acrescentado que as arquiteturas Multiagente irão certamente proporcionar nas áreas mencionadas.

– João Calado
(Professor Coordenador Principal do ISEL)

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