LOGÓTIPO …

Temos uma nova representação gráfica, visual, para a identidade nacional, para uso pelo governo e administração pública centralizada do Estado, assente em 3 figuras geométricas e três cores, uma por cada cor presente na bandeira nacional, esta sim um símbolo nacional, diferentemente do primeiro, porque apenas da responsabilidade ao governo.

Este logótipo, foi desenvolvido pela empresa de designer “Studio Eduardo Alves”, liderado pelo Professor, Eduardo Alves, do departamento de design da faculdade de Belas Artes, do Porto. Terá custado 74.000 euros.

Segundo o caderno de encargos deste projecto:

“É um símbolo novo e distinto, representativo do Governo da República Portuguesa, que responde de forma mais eficaz aos novos contextos, determinados pela sofisticação da comunicação digital dinâmica e por uma consciência ecológica reforçada”, explica o Governo sobre a alteração. Outro objectivo da mudança foi o de tornar a imagem mais “inclusiva, plural e laica”.

Trouxe-me, isto, à memória, o ano de 2004, quando a federação portuguesa de futebol, adjudicou a uma empresa estrangeira, a concepção do símbolo para o “Euro 2004” (lembram-se do coração estilizado celebrando a paixão pelo futebol?), por muitos milhares de euros.

Em 2002, sendo então Director de Qualidade e marketing numa média empresa em Santarém, foi-me atribuída a tarefa de gizar um novo logótipo para a empresa, a fim de substituir o seu vetusto logótipo com mais de 30 anos.

Juntamente, com uma renomada e reconhecida empresa de design, a quem coube a produção da minha ideia, concebi um logótipo sob a forma de um … coração estilizado.

Imaginem lá, a minha surpresa, dois anos depois, quando a federação portuguesa de futebol, apresenta com pompa e circunstância o “seu” logótipo, uma quase cópia do “meu”.

A diferença entre ambos foi obviamente o preço, o da federação custou milhares de euros, e o meu custou um singelo “obrigado, sotor”.

Este afã de “logótipar”, órgãos, entidades, públicas ou privadas, não é nova e faz parte dos processos de comunicação que cada entidade opta por fazer, e é até salutar.

Às vezes as próprias empresas de design são ultrapassadas pela evolução comunicacional, tenho ainda bem viva a memória, quando tendo outras responsabilidades, na Região Autónoma da Madeira, no longínquo ano de 2007, abracei o projecto de conceber um logótipo para um município secular, associado a um lema especifico, representativo da mensagem pretendida para o município, e a empresa de design, ter obstado ao lema, assegurando não ser uma prática corrente, nos municípios.

Com o responsável, do design, ao telefone pedi-lhe que acedesse á net, e numa rapidíssima consulta dei-lhe mais de duas dezenas de municípios que seguiam já essa bitola comunicacional. Rendeu-se perante os factos.

Porque não então os governos não seguirem semelhantes pisadas?

O governo português tem-no feito com regularidade, e agora foi a vez deste o fazer também, como de resto é sua prerrogativa.

Sem desmerecer a solução aprovada, quem sou eu para tal tarefa, não sou indiferente à mesma.

Os signos visuais são muito importantes porque encerram em si uma simbologia, uma ideia, uma mensagem, uma pertença primordial, agregadora, e isso é percebido desde tempos imemoriais, e não era por acaso que as legiões romanas, transportavam um estandarte identificando a respectiva centúria (grupos de combate composto por 100 legionários).

A bandeira, como símbolo, era de tal forma importante, que o porta estandarte português, em Alcácer Quibir, usou todos os membros que tinha para a exibir, á medida que a mouramna lhe ía decepando os membros.

Um logótipo não é uma bandeira, mas tem a mesma importância, a mesma carga energética.

Tivemos ao longo da nossa história uma diversidade assinalável de bandeiras como símbolo nacional, e hoje regista-se a curiosidade da bandeira da Finlândia ser precisamente igual á de Dom Afonso Henriques, nosso primeiro Rei (vamos saltar a questão controversa de sua mãe já se intitular e assinar como “Regina”, ou seja, Rainha, antes de seu filho).

A actual bandeira nacional, produto de concepção republicana, incorpora os signos dos 7 castelos, 5 quinas, e a esfera armilar, num total de 3 signos distintivos. A circunstância dos números 3, 5 e 7, ali estarem representados, denuncia a influência maçónica da sua concepção, reiterada pelas cores verde e vermelha, as cores da secção maçónica, cujos membros integravam a comissão responsável pela concepção da bandeira republicana.

Mas, a simbólica não é propriedade de ninguém, nem da maçonaria, e na mitologia dos números o 3, o 5 e o 7, encerram em si mesmos um simbolismo importante.

O número 3 tanto pode simbolizar o aprendiz, como a divina trindade (céu), ou a mais poderosa representação geométrica que é o triângulo. Temo-lo na bandeira.

O 5, simboliza o homem de Viterbo, a media de todas as coisas, e já agora os dinheiros pagos a judas, mas também o domínio das artes liberais.

O 7, simboliza a soma do 3 com o 4 (os elementos da natureza – terra, agua, ar, e fogo), ou seja a terra. Assim o 7 é o casamento do Céu com a Terra, já Hermes Trimegisto, sentenciava – tudo o que está em cima se reflecte no que está em baixo.

Consolidado que está o reconhecimento da importância dos símbolos, seja qual for a sua forma, espécie, ou suporte, importa olhar bem para o novo logótipo do governo, constituído por figuras geométricas, classificado, e bem, como símbolo “novo” e “distinto”.

Não se alcança como este conjunto de representações geométricas, colorido, responde de forma mais eficaz a novos contextos, determinado pela sofisticação da comunicação digital, como argumenta o caderno de encargos. Muito menos se compreende o que uma consciência ecológica reforçada, aqui faz. Se isto não passa de mera retórica, então não sei o que será.

Ecléctica é a afirmação, do respectivo caderno de encargos, sobre a necessidade de uma simbologia inclusiva, plural e laica.

O quê, ou quem se pretende incluir? Existem mesmo, nacionais, excluídos na actual simbologia nacional?

Plural, porquê, os únicos signos singulares que conheço, são os brasões e mesmo esses são da família, não vislumbro a necessidade de combater símbolos singulares, até porque a pluralidade está sempre assegurada.

A laicidade da República Portuguesa está assegurada pelo próprio texto constitucional, e nenhum símbolo de caracter religioso orna os nossos símbolos, banidas que foram as cruzes.

Então porquê escorar as alterações de símbolos com a necessidade de reforçar a inclusão, a pluralidade e a laicidade?

Num país como o nosso, onde a maioria da população se revê na igreja católica, e nos seus sacramentos, aceitar as “regras” impostas pela República, não foi, não é, nem será problema nenhum no futuro.

Dir-se-á, que a simbologia dos quadrados e do círculo, agora adoptada, representa o governo e não a República, o que acompanho, mas questiono-me sobre necessidade do governo ter símbolos autónomos … .

Quanto às cores, são directamente inspiradas na nossa bandeira, pelo menos não houve a tentação de, da mesma forma que a Presidência da República tem um estandarte verde, de o governo adoptar a outra cor o vermelho, isto porque essa era a cor do estandarte real, ou seja, pouco republicano.

Oliveira Dias, Politólogo

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