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A cunha é um privilégio indevido que prejudica os portugueses comuns

Portugal necessita urgentemente de uma cultura de responsabilização dos seus agentes políticos que, perante atos ilegais ou menos éticos, raramente assumem as suas responsabilidades, demitindo-se, preferindo a continuação em funções, aguardando pelo resultado de oportunas investigações que lhes permitam branquear as suas ações ou omissões.

O caso recentemente tornado público de duas gémeas luso-brasileiras que, em 2019, beneficiaram no Serviço Nacional de Saúde (SNS) de um tratamento médico no montante de 4 milhões de euros, contra o parecer da equipa de neuropediatria do Hospital de Santa Maria, é um exemplo paradigmático de como as elites recorrem à cunha quando pretendem usar os serviços públicos em situação de privilégio.

O teor crítico de todo este artigo não significa insensibilidade com a dor e a preocupação que os pais das gémeas luso-brasileiras terão com a saúde das suas filhas, mas isso não é impeditivo que se reflita sobre a cunha como forma de agilizar processos para acesso a serviços públicos de uma certa elite que se protege mutuamente.

Para além do tratamento que as gémeas luso-brasileiras beneficiaram no SNS ainda obtiveram cadeiras de rodas de topo de gama, gratuitas, que não são dadas aos outros doentes com o mesmo tipo de enfermidade.

Acresce que as gémeas, originalmente de nacionalidade brasileira, também obtiveram a nacionalidade portuguesa, em tempo recorde, sendo legítimo presumir-se para acederem a tratamento do SNS, embora já estivessem a ser assistidas para a doença de que padecem no Brasil, mas aí necessitariam de vários tratamentos e em Portugal seria a toma de um só medicamento, portanto uma situação mais cómoda para as doentes.

Sabe-se que um tal Nuno Rebelo de Sousa, enviou para o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, um email sobre o caso das gémeas cujos pais pretendiam a todo o transe que as suas filhas fossem tratadas em Portugal.

Sim, Nuno Rebelo de Sousa é filho do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, e ao enviar o referido email, estava a pedir a intervenção do seu pai no sentido de se conseguir que as gémeas fossem tratadas no SNS, embora estivessem a ter acompanhamento médico no Brasil.

Já agora, informa-se que Marcelo Rebelo de Sousa inicia o seu primeiro mandato de Presidente da República de Portugal, em março de 2016, ao passo que Nuno Rebelo de Sousa inicia funções de Presidente das Câmaras de Comércio Portuguesas, no Brasil, em junho de 2016, ou seja, 3 meses depois da eleição do seu pai para a chefia do Estado.

O Presidente da República, através do seu gabinete, envia o email do seu filho para o gabinete do Primeiro-Ministro que o reenvia para o Ministério da Saúde, sendo a primeira consulta das gémeas, no Hospital de Santa Maria, marcada através de telefonema oriundo da Secretaria de Estado da Saúde, com a suprema bênção omnipresente de Marcelo Rebelo de Sousa.

É de assinalar a disponibilidade dos socialistas em aceitarem cunhas que julguem oriundas ou mesmo provenientes do Palácio de Belém, relembrando-se o pedido, de março de 2022, feito à TAP, por um Secretário de Estado, para alterar, de acordo com os interesses de Marcelo Rebelo de Sousa, um voo comercial para Moçambique e assim evitar que o Presidente da República se tornasse “um pesadelo para o Governo”. Felizmente que a alteração de voo que afetaria 200 passageiros não se verificou, nem sequer tinha sido solicitada por Marcelo Rebelo de Sousa.

Este pedido feito à TAP para se alterar um voo comercial por se pensar que isso agradaria a Marcelo Rebelo de Sousa, revela bem que o obscuro Secretário de Estado autor dessa solicitação se estava a borrifar para o interesse geral dos portugueses, interessando-lhe mais a bajulação ao Presidente da República que, aliás, é completamente inocente neste triste e lamentável episódio de intromissão do Governo nas operações correntes de uma empresa pública.

Os episódios das gémeas luso-brasileiras e também o da TAP é paradigmático do que se fala abertamente por todo o país de que os poderosos tudo conseguem, em todas as instituições, com recurso à cunha certa e providencial.

O recurso à cunha representa a degradação das instituições democráticas, onde impera o temor reverencial pelos poderosos, que sempre que lhes convém se apropriam dos serviços públicos, como se viu no início da vacinação do Covid, passando à frente dos portugueses comuns, com a total conivência do bloco central dos interesses, onde imperam os barões do PS e do PSD que nestas matérias são cúmplices e se protegem mutuamente.

Portugal necessita urgentemente de uma cultura de responsabilização dos seus agentes políticos que, perante atos ilegais ou menos éticos, raramente assumem as suas responsabilidades, demitindo-se, preferindo a continuação em funções, aguardando pelo resultado de oportunas investigações que lhes permitam branquear as suas ações ou omissões.

No caso das gémeas luso-brasileiras não faltam investigações e inquéritos para todos os gostos possíveis e imaginários, que decorrem na Procuradoria-Geral da República; na Inspeção-Geral das Atividades em Saúde; na Auditoria Interna do Hospital de Santa Maria e na Ordem dos Médicos, mas no final, como de costume, tudo ficará na mesma até um próximo escândalo que envolva outra cunha dos mesmos de sempre.

Esta situação só foi tornada pública porque, felizmente, ainda há na comunicação social quem não tenha temor reverencial perante os poderosos, sendo justo, neste caso particular, homenagear a jornalista Sandra Felgueiras que denunciou perante a opinião pública o caso das gémeas luso-brasileiras.

A cultura da cunha, da corrupção e do tráfico de influências, está de tal forma enraizada nas elites do bloco central, que se encobrem mutuamente, num fortíssimo esquema de reciprocidade de interesses, situação que só poderá ser erradicada com novos atores, disruptivos e não comprometidos com o sistema, que queiram de facto mudar, em democracia, a política em Portugal, em benefício dos portugueses comuns.

Oxalá os portugueses não desperdicem, no próximo dia 10 de março, nas eleições legislativas, a oportunidade de mudança de que o país tanto necessita.

– Fernando Pedroso
Líder da bancada do CHEGA na AMO

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