A “construção” europeia, tem tido um percurso ao sabor de circunstâncias, geográfica e diplomáticas, nem sempre linear, visando unir uma heterogeneidade de povos, estados e países, num objectivo comum, muito semelhante, ou até análogo, á bíblica “babel” construção de uma cidade comum e uma torre que permitisse atingir o céu, por parte de povos sobreviventes ao grande dilúvio, fazendo com Deus lançasse um “castigo” sobre eles fazendo com que a sua língua comum, virasse, afinal, uma miscelânea d e línguas confundindo-os e dificultando a comunicação., desunindo os povos.
Tudo como começa com uma união comercial de 3 países europeus (Benelux), cujo sucesso impulsionou uma união mais alargada que não apenas económica (CEE), cuja evolução acabaria por redundar na União Europeia (UE), cujo tratado fundador seria o de Maastrich, em 1992, desenvolvido, revisto e aumentado com o Tratado de Lisboa, culminando a presidência rotativa portuguesa da União Europeia. Ficámos, por isso, na história desta construção europeia.
A fita do tempo, como agora se designam os histogramas dos acontecimentos é o seguinte:
Benelux 1944: Bélgica (BE – Belgium), Holanda (NE – Netherlands) e Luxemburgo (LUX – Luxembourg), 1944.
Comunidade Económica Europeia (CEE): Países Benelux (Bélgica, Holanda e Luxemburgo, todos em 1958), Itália (1958), República Federal da Alemanha (1958), França (1958), Grã-Bretanha (1958), Irlanda (1973), Dinamarca (1973), Grécia (1981), Áustria (1985), Portugal (1986) e Espanha (1986),
União Europeia 1992: Países da CEE,Alemanha (reunificada), Suécia (1995), Finlândia (1995), Lituânia (2004), Letónia (2004), Hungria (2004), Estónia (2004), Eslovénia (2004), Eslováquia (2004), Chipre (2004),Chéquia (2004), Malta (2004), Polónia (2004), Roménia (2007), Croácia (2004), Bulgária (2007), e finalmente Croácia (2013).
Candidatos a membros da União Europeia; Albânia, Bósnia Herzegovia, Macedónia do Norte, Moldávia, Montenegro, Sérvia, Turquia, e Ucrânia (in centro de informação Europeia Jacques Dellors).
O estatuto de candidato, é apenas uma condição para, posteriormente, se abrirem negociações para a adesão, e neste particular, o Conselho Europeu, a decorrer neste exacto momento, em que se escrevem estas palavras, decidiu avançar para esse passo, abrindo as negociações de adesão, no que respeita a apenas dois destes candidatos, a Moldávia, e a Ucrânia, tendo sido necessário, no que toca a este último, que Victor Órban, Primeiro Ministro da Hungria, se ausentasse da sala, para não bloquear esta decisão.
Neste conselho deliberou-se ainda a atribuir o estatuto de candidato a outro país saído da queda da União Soviética, a Geórgia.
Quanto á Bósnia-Herzegovina, o Conselho considera não estarem cumpridas o grau necessário de conformidade com mos critérios de adesão, já quanto à Macedónia do Norte, o conselho informa aguardar alterações de índole constitucional naquele país a fim de avançar com o processo.
As posições da Albânia, Montenegro, Sérvia, e Turquia, ficam cristalizadas, aguardado melhor oportunidade, que é como quem diz, “ficam para as calendas gregas”.
É surpreendente que um País em guerra – Ucrânia – apresente condições para a abertura de negociações, ultrapassando outros países, sem guerra, candidatos á mais tempo, e mais desenvolvidos que a Ucrânia. Isto levanta as maiores reservas quanto á credibilidade deste processo.
Este “caldo” de culturas, povos e sociedades, tão díspares entre si, qual “babel” dos tempos modernos, vai acrescentando dificuldades ao funcionamento da União Europeia, até se atingir o grau de incompetência de Peter, o ponto a partir do qual é inexequível fazer seja o que for, numa monstruosa máquina estatal, semelhante a uma federalização de decisões, conduzindo inevitavelmente a entropias insanáveis, porque insanáveis os interesse em jogo.
O caso da Ucrânia é paradigmático, um país em guerra, cujo presidente, animado pelas comparações a Winston Churchil, fruto das intervenções que teve em quase todos os parlamentos do mundo ocidental, que lhe abriram as portas, quais flores desabrochando com a abertura da suas pétalas ao mundo, com inflamados discursos, “colando” a história de cada um desses parlamentos á sua própria história e da Ucrânia, arrogou-se imiscuir-se na politica dos países da União Europeia, emitindo orientações a serem seguidas por esses países, incluso, tomando partido em actos eleitorais, como foi o caso da Hungria, em que tomou partido contra o partido de Victor Órban … ora este tiro saiu-lhe pela culatra.
Victor Órban, certamente apologista de que a vingança é um prato que se serve frio, pacientemente aguardou pela sua oportunidade. Logrou vencer as eleições na Hungria, e Zelenski ganhou uma enxaqueca que o vai atormentar por muitos e bons anos.
Se o processo de adesão de Portugal durou uma década, de longe mais pacifico que o da Ucrânia, Zelensky vai ganhar barbas brancas e a Ucrânia ainda vai estar á entrada da União Europeia.
Segundo o Primeiro Ministro da Hungria, a Ucrânia não está preparada para integrar a União Europeia, e numa altura em que a própria Hungria está debaixo de sanções, uma vez que tem as suas verbas congeladas, por alegado incumprimento de regras da União, seria um tanto abstruso que apoiasse a transferência de muitos mil milhões de euros para um país que nem membro é da União.
Por outro lado, e a bem do cumprimento das regras da união Europeia, como é que um país que não respeita as suas minorias étnicas, nomeadamente, retirando-lhes direitos cívicos, o de voto por exemplo, espera ser acolhido no seio da união como membro de pleno direito? Isso é inconcebível.
Por imperativos históricos, com a queda da União Soviética, muitos russos, e outros povos (romenos, húngaros, polacos, etc) acabaram por ficar fora da sua nação, constituindo-se como minorias, no território onde habitam á anos, como foi o caso da Ucrânia, que tem no seu solo, cidadãos de origem russa (cerca de 17%), a quem a Ucrânia de Zelenski, não lhes reconhece o direito ao voto, e outros direitos cívicos.
Por Tibor Rabóczkay, professor aposentado do Instituto de Química da USP, no artigo intitulado “A Ucrânia e as minorias étnicas na atual guerra”, escreve:
“deterioração da situação na Ucrânia pode ser ilustrada com um discurso da deputada Irina Farion no Parlamento ucraniano, também irradiado, mais recentemente, com tradução simultânea num canal de televisão húngara:
“Prestem atenção! Se enviarem um cachorro para treinamento, ele voltará para casa em um mês reconhecendo os comandos: sente-se! em pé! deite-se! Mas eles (as minorias étnicas) precisam de sete anos para aprender a língua de Stepan Bandera, Taras Shevchenko e Lina Kostenko. Precisamos de tantos débeis mentais na Ucrânia? Sugiro que peguem o passaporte que os húngaros lhes deram e sumam daqui para a Hungria! Qual é o empecilho? Por que eu tenho que alimentá-los aqui? Por que tenho que financiar o ensino deles em húngaro, romeno e na língua de Moscou? Ah, desculpem, e o ensino em polonês também?”.
Não houve condenação desse discurso de ódio por parte de outros componentes do Parlamento. Será que a “nobre” deputada se retrataria ao ver que, justamente, os poloneses, húngaros e romenos são os que mais se envolveram na ajuda aos refugiados ucranianos? Ela e Zelensky entenderão que o ganho de territórios em detrimento de outros países implica o ônus de garantir os direitos humanos individuais e coletivos das etnias incorporadas? Será que a própria Europa ocidental, “democrática”, bazófia e loquaz, chegará a entender que não pode almejar a paz e ao mesmo tempo escamotear os direitos humanos coletivos, ignorando as aspirações étnicas?
Que motivações levaram Zelensky e políticos como Farion, eles próprios pertencentes a minorias, a hostilizar as minorias étnicas e, consequentemente, criar atritos com os países limítrofes, talvez os historiadores possam descobrir um dia. Quais são os interesses – e de quem são – que induziram o ex-comediante a levar ao desastre a nação que preside? Pergunta a ser esclarecida no futuro.
Por enquanto, por mais chocante possa ser para um “democrata” ocidental, parte das minorias étnicas torce pela vitória dos russos. Mas isso se torna compreensível se levarmos em conta que até na URSS de Stálin elas gozavam de mais direitos do que na “democracia” de Zelensky.
Repare-se na referência da deputada ucraniana a Stepan Bandera, como se fosse um modelo a seguir, visto que é considerado um herói nacional na Ucrânia … trata-se apenas de alguém, condenado na Polónia por ter sido colaboracionista no regime nazi, anti-semitismo, criminoso de guerra, a quem se imputa o genocídio de civis polacos, para além do holocausto na própria Ucrânia, contra 1 milhão de judeus.
Como pode um país que se inspira neste tipo de heróis, juntar-se às democracias ocidentais? Mudaram?
Em 2008 a pretensão da Ucrânia de aderir á NATO foi vetada por Ângela Merkel por serem, na altura, o país mais corrupto da Europa.
Os Republicanos americanos impuseram o fecho da torneira dos biliões de dólares, destinados á Ucrânia, por completa ausência de controlo do destino dessas verbas, e mesmo na Europa ninguém se questiona sobre o destino final dos muitos mil milhões entregues a Zelenski, nem se prevê qualquer controlo sobre as futuras entregas, só Victor Órban se preocupa com isso. E com razão.
Alguém tem de explicar muito bem, de que forma um país como a Ucrânia, aparentemente, sem nenhuma condição para aderir á União Europeia, tem as portas abertas para esse desiderato?
Entra pelos olhos dentro do cidadão comum europeu, que é impossível à Ucrânia cumprir as regras exigíveis á adesão á União Europeia.
Como é que um país em guerra, suplanta todos os demais que não estando em guerra, só por isso, tem níveis de desenvolvimento muito superiores ao da Ucrânia, país que neste momento não passa de um protectorado americano na europa.
Para onde vai esta União Europeia, a continuar nesta senda?
Oliveira Dias, Politólogo