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“ILUSÕES”?

50 anos depois, para onde caminha esta democracia, com estes protagonistas, a dinamitarem um direito inalienável de cidadania, como o direito à informação, sem cairmos neste campo minado de ILUSÕES?

Já há muito tempo que as tv’s de massas descobriram um filão poderoso – debates políticos, entrevistas a políticos e afins.

Aberto o período pré-campanha eleitoral, visando o dia 10 de Março, nada daquilo que acontece hoje é ao acaso, na verdade o sincronismo das acções espoletadas um pouco por todo o lado, exibem uma precisão de relógio suíço.

Estas duas variáveis juntas, em tempo de pré-campanha, e de campanha, como vem sendo anunciado já, pelos professores, aliados ás putativas intenções das policias, produzem um ambiente explosivo, cujas consequências são de difícil previsão, apenas se sabendo quem é o seu destinatário final – o governo em exercício.

Antigamente tínhamos de esperar pelo período de campanha, desprezada que era o da pré-campanha, para assistir então aos debates do costume, e cada cidadão, que tirasse as suas conclusões, sem mais.

Hoje não, já não é assim.

Os debates que temos visto, à semelhança de uma tradição que se foi instalando, qual cilindro compressor, são tão úteis como chuva no mar. Na realidade estes debates são uma mina de ouro para as Tv’s, sem mais nada para oferecer nas suas grelhas televisivas, pejadas de novelas e “reality shows” imberbes, cujo estimulo para os cérebros das pessoas é quase irrisório.

O que prevalece nestes debates de reduzido tempo, são os “sound bytes” os “bitaites de taberna”, em claro prejuízo do debate de ideias, programas visões para o futuro da nação e do país.

Mas atenção a culpa, desta vez, não é dos políticos, mas sim das Tv’s e dos “pivots” que conduzem esses debates, desde logo porque a grelha de matérias a questionar os políticos, são de tal ordem na quantidade e na diversidade, que torna impossível um raciocínio com principio meio e fim, retirando capacidade de esclarecimento a cada político, ali transformado em carneiro para sacrifício pascal.

Acresce a completa ausência de contraditório, quando o “pivot”, lá no alto do seu pedestal, gere os tempos como lhe parece, retirando ao adversário visado nalguma alarvidade a defesa que se impõe, mas que o carrasco do relógio não permite.

Já para não falar na extraordinária situação de vermos o “pivot” substituir-se aos políticos em cena, fazendo réplicas, treplicas, contraditando afirmações, ou colocando questões em forma afirmativa, elas próprias encerrando conclusões.

Este mau serviço público não é, presumo eu, infelizmente, inocente.

Se reparamos bem, os debates reservam a cada candidato pouco mais de 15 minutos, num total de meia hora aos dois. É, fazendo uma analogia gastronómica, o equivalente a cozinhar um bom bacalhau cozido com todos.

Naturalmente, tempo insuficiente para tratar temas simples, e muito menos temas complexos, da governação do país.

Porém, o “leit motiv” destes programas, não são, debalde, o debate, mas sim o que se lhe segue – os comentários, concretizados por comentadores profissionais, e quase sempre parciais, cuja duração se cifra na 1 hora, e por vezes mais. Numa analogia gastronómica, equivale ao tempo em que comemos o bacalhau, e a sobremesa.

Isto é uma sandice manipulatória como nunca se viu. Mais valia que os debates se fizessem com um painel de políticos de um lado, e do outro um painel de comentadores, assim as coisas ficavam mais equilibradas.

Os comentadores arrogam-se saber o que um político quer dizer com determinada afirmação, a intenção que teve ao fazê-lo, e ainda por cima, dominam o que está por trás do que não disse, e do que quis dizer com o que disse.

Estes comentadores fazem lembrar o “Olimpo” onde só os deuses têm acento, e o vulgo não passa de uma marioneta.

Portanto estes debates não servem rigorosamente para nada, na perspectiva dos políticos transformados em vitimas pascais.

A este quadro negro juntam-se as movimentações orquestradas por aquilo que se usa apelidar de organizações inorgânicas (um eufemismo para encobrir acções de boicote por parte das não inorgânicas), em plena pré temporada, chibatando um governo com as mãos atadas, num acto próximo da cobardia cívica, exigindo tudo para já, imediatamente, sabendo ser impossível.

Isto torna claro como a água que o importante não é o conteúdo da reivindicação ,mas sim, a forma e o timming.

Para os casos de insubordinação á lei e ao Estado, avança-se com queixas e processos judiciais, trazendo para a liça deste lodaçal, um órgão de soberania – os Tribunais – contra 50 anos depois, para onde caminha esta democracia, com estes protagonistas, a dinamitarem um direito inalienável de cidadania, como o direito à informação, sem cairmos neste campo minado de ILUSÕES?outro órgão de soberania – o Governo – com o órgão de soberania que se diz moderador – a Presidência da República – a dizer sim mas, numa tirada que não é carne, agradando a uns, nem é peixe, tentando a agradar aos demais.

O mexilhão, corporizado pelo cidadão, é que se prejudica.

Fica a questão: 50 anos depois, para onde caminha esta democracia, com estes protagonistas, a dinamitarem um direito inalienável de cidadania, como o direito à informação, sem cairmos neste campo minado de ILUSÕES?

Oliveira Dias, Politólogo

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