Ainda que não oficial, estamos efectivamente em campanha eleitoral, basta olhar para as diversas manifestações cujas reivindicações, bem o sabem os seus organizadores, não são possiveis com um governo de gestão, mas o objectivo é mesmo fazer barulho, e assim os partidos, por detrás dessas manifestações, não precisam sequer de organizar comicios partidários.
É tempo, pois, de propaganda cinzenta, pasto imenso para toda a espécie de boatos, porém no meio de toda esta parafernália pseudo-informativa, lá se assomam algumas ideias ou actos geniais.
Um exemplo de perfeita sobranceria ideológica escora-se no apodo “geringonça”, de iniciativa de Vasco Pulido Valente, para caracterizar o entendimento politico parlamentar conseguido pelo PS, Bloco e PCP, para desapossar o então vencedor das eleições de 2015 legislativas, protagonizado por Pedro Passos Coelho.
O enressabiamento foi tal, por parte da direita, que ganhou foros de normalidade classificar os entendimentos politicos á direita como coligações politicas, mas se tal entendimento for á esquerda, então não passam de meras Geringonças, como se houvesse um pendor mais qualitativo nos entendimentos á direita, e um pendor de bizarrice se os entendimentos forem á esquerda.
Isto é profundamente antidemocrático e demonstra a completa ausência de respeito pelo outro, pelas opiniões diferentes, um pouco á moda de Salazar quando cultuava a máxima “quem não é por mim, é contra mim”.
Desta vez as televisões fizerem um genuino esforço para garantir oportunidades a todos os candidatos, com assento parlamentar, e mais uma vez a excepção foi a secundarização dos restantes partidos sem assento parlamentar.
Fica uma certa sensação de inutilidade destes debates, no que respeita á formação de opinião de voto, tendo servido mais, para massajar os egos dos apoiantes de A ou B, eclipsados que foram, quase todos, pelo debate entre Pedro Nuno Santos e Luis Montenegro.
Pedro Nuno Santos, antes de tudo o mais, faz uma poderosa afirmação, deixando expetantes as suas hostes, na media em que declarou, em caso de derrota do PS, e de não conseguir garantir uma maioria alternativa, á vitória da AD, não viabilizaria nenhuma moção de rejeição, abrindo, assim as portas a um governo da AD minoritário.
Com isto deixou o ónus a Luis Montenegro de, democraticamente, assumir posição identica, em caso contrário.
Luis Montenegro, já em debate anteriores recusara-se, sempre a responder a este tipo de cenário, ficando famoso aquele seu silencio perante as câmaras, mortal em televisão, mas ele fÊ-lo. Ficou em silêncio.
Pedro Nuno Santos, com isso, mostrou não ter medo de assumir posições, mesmo as mais incómodas, e ainda por cima averbando uma vitória importante, com o silêncio de Luis Montenegro, que se recusou a responder o que faria em caso contrário, durante todo o debate.
Pedro Nuno Santos, abriu bem o embate, e fechou ainda melhor no minuto final, sem perder tempo a falar do adversário, erro cometido por Luis Montenegro, aproveiatndo cada segundo, daquele minuto, para falar para a câmara, para o eleitor, com desembaraço, com fervor, com determinação.
Não sei quem aconselha cada um dos candidatos, mas se tivesse de pedir telefones para conselhos, o de Luis Montenegro ficaria em silêncio, de resto apanágio do seu proprietário, cujo ditado “o silêncio é de ouro” está a ser levado “ad nauseam”.
A dificuldade de Luis Montenegro em justificar o injustificável, agravou-se dramaticamente para ele, quando Pedro Nuno Santos, num acto de pura genialidade, vem agora afirmar sentir-se desobrigado de uma coisa, cuja reciprocidade é negada pelo opositor. Genial.
No debate em grupo emitido hoje sexta feira, a aflição de Luis Montenegro, agravou-se, pela imagem que a direita dá, muito semelhante a uma familia desavinda, onde todos estão contra todos, e a propalada maioria de direita anunciada pelas sondagens, estilhassa-se com estrondo por causa de um único partido, o CHEGA.
Luis Montenegro afogou-se no seu próprio silêncio, e deixou de ter qualquer autoridade moral para reivindicar seja o que for ao PS, quando ele próprio nega a reciprocidade.
É exactamente a mesma coisa que Bolieiro faz nos Açores, em matéria de reciprocidade … quando vencido, pelo PS, nas eleições regionais, congregou ao seu lado o CHEGA e a IL, para além do próprio CDS, para formar governo, arredando o vitorioso PS insular.
Agora tendo-se invertido as posições, foi ele a vencer, mas sem maioria, está á espera dos votos do PS., ou seja, quer que o PS faça, aquilo que ele próprio não fêz.
Só que o lider do PS dos Açores já sentenciou – vai votar contra o programa de Bolieiro. Coerência. Lá como cá.
Na Madeira, nem se fala, o PSD aprova lá, o que chumbou por cá, ou seja, o caso judicial em que se vê envolvido o Presidente do Governo Regional da Madeira não incomoda Luis Montenegro, que se diz compreensivo com as decisões do seu correligionário, mas quando se tratou do Primeiro-Ministro de Portugal, aí já o PSD aplaudiu e achou muito bem a sua demissão.
É caso para dizer : BEM PREGA FREI TOMÁS.
Oliveira Dias, Politólogo