Entretidos, e bem, com a campanha eleitoral para as legislativas de 10 de Março, os órgãos de comunicação social, dirigidos às massas, convocando uma plêiade de comentadores, disfarçados de jornalistas, e jornalistas disfarçados de comentadores, tem passado ao lado as movimentações partidárias do PSD Madeira, abalado, mas não abolido, com a operação desencadeada na pérola do atlântico, por parte da policia judiciária a mando do Ministério Público, com o apoio da força aérea portuguesa, cujo custo, alguém assim o estimou, num total de duzentos mil euros.
Enfim, conforme noticiado, e confirmado pela entidades oficiais, dos três detidos, todos foram devolvidos à liberdade, após mais de vinte dias privados dela.
Miguel Albuquerque, exultante, enredado no processo, porque constituído arguido, mas beneficiando da tão oportuna imunidade, viu nisso uma réstia de esperança, uma fabulosa oportunidade, e ensaiando um golpe de rins, lá deu a conhecer ao mundo que se recandidataria a Presidente do PSD Madeira, e assim posicionando-se para, caso venha mesmo a ser destituída a Assembleia Legislativa Regional, voltar a ser o cabeça de lista do PSD, e ir a jogo de novo, possivelmente em coligação com o CDS, como tem sido habitual.
A comunicação social cá do burgo isso mesmo noticiou, o PSD nacional, viu ali uma válvula de escape para aliviar a pressão mediática negativa que vinha lá do atlântico, até porque Miguel Albuquerque ainda é Presidente de um órgão nacional de Luís Montenegro, sem nunca este lhe ter retirado confiança política.
Neste particular a comunicação social, em especial a de faca e alguidar, tem sido estranhamente generosa com este “protetor” Montenegro, pois um osso tão apetitoso de roer – o escândalo das teias partidárias do PSD Madeira – tem sido remetido para o canto dos esquecidos.
Porém, e é por isso que a política é um poço de surpresas, um fantasma do passado, figura omnipresente, todo poderoso, também ele tendo beneficiado com a “asa protetora” dos seus companheiros continentais, surge a dar um “ar da sua graça” … por interposta pessoa, seu Delfim.
Manuel António, o poderoso Delfim de Alberto João Jardim, e seu Secretario Regional da Agricultura, à última da hora, sim porque a surpresa é vital, nestas coisas, reuniu as assinaturas suficientes para se candidatar à Presidência do PSD Madeira, evitando que Miguel Albuquerque se limitasse a dar um passeio na avenida ou “promenade” como por lá diz o povo.
Obviamente há mão do “mestre” Alberto nisto, ele que nunca superou ter sido remetido para a prateleira do esquecimento por Miguel Albuquerque.
Como se não bastasse esta má noticia, Miguel Albuquerque, vê uma das concelhias da ilha a rapidamente dar o seu apoio unânime a Manuel António, não que seja uma das mais importantes da Madeira, mas tem um peso simbólico que não é dispiciendo – é a concelhia de José Humberto de Sousa Vasconcelos, ex-Presidente da Câmara Municipal de São Vicente, e um dos primeiros apoiantes de Miguel Albuquerque, quando, em 2010, este se candidatou contra Alberto João, com sucesso.
Nessa altura São Vicente foi importante para a vitória de Miguel. Hoje será importante para a derrota de Albuquerque.
Porquê? Muito simples.
Quando, nas últimas eleições regionais, a coligação PSD/CDS, perde a maioria absoluta, coisa inédita na pérola do atlântico, e o PAN deu a mão a Miguel Albuquerque, gerando, esta sim, uma geringonça própria desse nome, Miguel nos convites que fez anunciou a Humberto Vasconcelos, que seria reconduzido no governo, apesar disso ser um problema para o próprio Miguel Albuquerque, uma vez que Humberto conquistou, por mérito próprio, uma aura de melhor secretário regional de sempre. Uma sombra a pairar portanto.
Assim que aquela recondução se tornou pública, de forma inopinada, Miguel Albuquerque, volta atrás com a recondução, transformando-a num “sai da roda que não há espaço para ti”.
A revolta consumiu o visado, família e amigos, todos os que o rodeavam, mas Humberto, ferido no seu orgulho remeteu-se ao silêncio, quem sabe se, recordando o seu antigo chefe de gabinete, cubano do continente, que entre as suas máximas uma delas era “a vingança é um prato que se serve frio”.
Ora, compensou. Chegou o momento, terá pensado Humberto, e em represália de ter sido dispensado, como se vassoura velha se tratasse, por parte de Miguel, arregimentou a “sua” concelhia, fiel e leal, colocando as espingardas no armeiro de Manuel António.
Este agradece. Precisa de todos os apoios. Falta só saber qual vai ser o papel do operacional de Alberto João – Jaime Ramos – o homem de terreno, da logística, do aparelho.
É certo que o filho, cujo percurso e importância política foi forjado á sombra tutelar do pai, tem sido visto nas Tvs ao lado de um outro delfim de Alberto João, o Cunha e Silva, Vice-Presidente de Alberto João na Quinta Vigia … isto significa que a “entourage” de Alberto João está viva e de saúde.
Como diz o outro – Miguel Albuquerque, os erros pagam-se caros, especialmente quando cometidos contra os “nossos”, porque … a vingança é um prato que se serve frio, já lá dizia o sacana do cubano.
Oliveira Dias, Politólogo