Numa grande entrevista a um órgão de comunicação madeirense, Alberto João jardim (AJJ) verbera “ Não me revejo neste PSD. O egoísmo e vaidade de Miguel Albuquerque que não permite que defenda os interesses da Madeira e dos madeirenses. Só pensa nele e nos caciques que o rodeiam. Saí de bem com o povo e mal com o partido. As sociedades secretas estavam interessadas na minha substituição”.
Ora isto é bem revelador de várias coisas, a primeira delas é de um ressabiamento provocado pelo seu afastamento, aquando da eleição de Miguel Albuquerque em 2014, como Presidente do PSD Madeira, vencendo por larga maioria o delfim de AJJ, Manuel António, e de em 2015 ter ocupado a Quinta Vigia como Presidente do Governo Regional, após vitória nas eleições regionais.
Em 2024, após demissão provocada pelo tsunami judicial e investigatório, que se abateu sobre a pérola do atlântico, e desencadeado procedimento interno eleitoral, tendo como contendores, o próprio Miguel Albuquerque, e novamente Manuel António, cujo incentivo de AJJ se adivinhou claramente, na medida em que AJJ, habitualmente um mestre em tácticas de todo o género, iu aqui uma oportunidade de vendetta politica. Mas a coisa correu mal, novamente para AJJ.
Curioso mesmo, é acusar Miguel de caciquismo, logo ele, AJJ, useiro e vezeiro em matéria de caciquismo. Telhados de vidro, dirá a sabedoria popular.
Mas o que realmente é surpreendente, e veja-se o homem ainda surpreende, quem diria, é a frase sobre as sociedade secretas, e como as transforma no bode expiatório do que de mal lhe acontece.
No dicionário de AJJ, sociedades secretas, são, concretamente, as maçonarias, no plural, porque as há várias, e não como erradamente se pensa e diz, uma única maçonaria, pois não existe um poder central na Maçonaria em todo o mundo, nem federação, nem confederação, são das organizações iniciáticas mais descentralizadas que existem.
A disseminação das maçonarias pelo planeta organiza-se em Grandes Orientes nacionais, ou Grandes Lojas Nacionais, também conhecidas por obediências, independentes entre si, com a particularidade de países com estados federados, como por exemplo os EUA e o Brasil, existirem tantas Grandes lojas quanto estados.
E mais a pulverização pode ainda ir mais longe, consoante se tratem de obediências regulares ou não regulares, coexistindo pacificamente em cada país.
Na Madeira, a obediência maçónica que mais incomodava (incomoda?) AJJ, não é o Grande Oriente Lusitano, que lá existe, nem uma ou outra Obediência dita “selvagem”, porque não se identifica nem com os regulares, nem com os irregulares, por não seguir nenhum dos vários ritos existentes, ás centenas, nas regulares e irregulares, e tem raízes, os “selvagens” nas canárias. Não.
A obediência que mais mexe com AJJ é a Grande Loja Regular de Portugal, GLLP/GLRP, ali instalada (com levantamento de colunas) em Abril de 2009, de uma loja (oficina) azul (portanto tendo simbolicamente, o céu por tecto), trabalhando nos três graus simbólicos (aprendiz, companheiro e mestre) justa e perfeita (ou seja, composta por 7 mestres).
Antes desta data, existia num estado de hibernação permanente um Triângulo (estrutura inferior a uma Loja, composta por 3 mestres, e portanto apenas justa), mas perfeitamente inofensiva, para os receios de AJJ, basicamente por dois motivos, o líder do Triângulo era um primo da sua mulher, advogado, conhecido pelo seu jeito verbalmente brigão, desajeitado, na vida profissional, familiar, e devidamente arrumado numa prateleira da administração pública regional, ganhando pó. Era em suma inofensivo, mas dotado de uma invulgar cultura, falando 4 línguas com á-vontade.
O outro motivo assentava na impossibilidade de reunião, do Triângulo, porque apenas provido de 2 mestres, apesar de ser criado com 3 peticionários, o terceiro nunca apareceu. O segundo Mestre fazia companhia ao primeiro quanto a ganhar pó, lá na sua direcção da administração pública regional, não passava de um lambe botas, desprezado até pelos próprios colegas.
Por todas estas razões o triângulo da GLLP/GLRP, não passava de uma piada.
Sucede que a GLLP/GLRP, teve a oportunidade de designar um Mestre, para liderar a sua plena implantação na ilha. O seu Grão Mestre, e Vice-Grão Mestre, este até padrinho do Mestre que viria ser designado para aquela tarefa, cometeram a ingenuidade de solicitar uma audiência a Alberto João Jardim, para lhe dar nota das suas intenções, e assegurar, de viva voz, a Alberto João, que nada havia contra ele, pois um dos mandamentos da obediência maçónica, seja ela qual for, é respeitar os poderes instituídos, políticos, de soberania e de Estado.
Não se sabe ao certo como correu semelhante audiência, não se exaram actas destas coisas, mas o estado de felicidade do Grão Mestre e do Vice-Grão Mestre eram tal que se adivinhava ter corrido pelo melhor, e o jornal de caserna até apregoava que o Presidente do Governo Regional tinha sido feito Mestre, ao Malhete (martelo de poder do Mestre), prerrogativa dos Grãos Mestres, para casos especiais.
A verdade é que os impropérios contra a maçonaria e as sociedades secretas, vociferadas por Alberto João sucediam-se a uma cadência sistemática.
O Mestre designado para levantar colunas na Madeira, haveria de ser despedido da sua profissão, em virtude da sua condição maçónica, e banido da ilha. A ele os detractores imputavam uma agenda secreta, para a tomada de poder, apresentando como provas irrefutáveis a circunstância dele ter conseguido, em muito pouco tempo, e com alguma mestria, recrutar e iniciar no grau de Aprendiz, autoridades regionais das forças de segurança, de informações, só não tendo chegado aos militares da região militar da madeira, por falta de tempo para o efeito.
Aquele Mestre ali deixou como sementeira, políticos, eleitos locais, membros do governo, deputados á Assembleia legislativa, entre outros, só não tendo iniciado jornalistas, por razões óbvias.
Alberto João Jardim, nunca perdoaria o atrevimento de tanta ousadia, e ainda hoje vê fantasmas onde eles não existem.
Um guru da gestão disse um dia “Quando um decisor como único instrumento apenas tem um martelo, então todos os problemas, para ele se assemelham a pregos”.
É o que sucede a Alberto João Jardim, que vê um Miguel Albuquerque, que em tempos foi capa da revista sábado, e onde se dava nota da sua putativa condição maçónica, mas pertencendo a uma loja secreta, cujo objectivo era acolher os maçons de forte exposição pública.
Verdade ou não, a urticária é garantida no vetusto Alberto João Jardim.
Oliveira Dias, Politólogo