Recente notícia sobre o transporte, da Estação Espacial Internacional (ISS sigla em inglês) de astronautas, e são 4, na estação, e cosmonautas, 3, para o planeta terra, causaram espanto, desde logo porque sendo astronautas trata-se de ocidentais, e cosmonautas Russos, e ainda por cima o veículo utilizado foi uma nave Russa a Soyus, e que vai fazendo as vezes de táxi espacial, entre a estação espacial e o nosso planeta.
Desta vez os passageiros foram 1 Bielorusso, 1 norte-americano e 1 russo, após uma permanência na estação internacional de 204 dias, tratando-se da 51ª viagem da Soyus, desde 1967,
Quando em terra americanos e russos são antagonistas, e ambos são protagonistas numa guerra por procuração, na Ucrânia, no espaço, aparentemente são cooperantes, isso é credor de uma certa estranheza, espanto mesmo.
Na verdade, se o nosso planeta ainda tem muito por conhecer, o futuro da humanidade está mais vocacionado para o espaço, afinal de onde viemos, e por certo, para onde retornaremos, às origens.
Mas o potencial, em matéria de ameaças, vindas do espaço sideral é muito grande, e a dúvida não é se dele virá algo, mas quando virá algo, e nessa altura a humanidade terá de se unir, pondo de lado todas as diferenças, e são muitas, para um esforço comum de defesa.
Países como os Estados Unidos da América, e a federação Russa, por exemplo, já têm um quarto ramo das forças armadas, e para além dos convencionais exércitos, marinha e força aérea, têm já a Força Espacial dos EUA e a Força Aeroespacial da Rússia, respectivamente.
Este novo ramo das forças armadas destes países precede duas organizações a quem cabe a responsabilidade de todos os programas espaciais, no caso a NASA (Administração Nacional da Aeronautica e Espaço), na América, e a ROSCOSMOS (Corporação Estatal de actividades espaciais), na Rússia.
Curiosamente, note-se a diferente designação adoptada, para os americanos, seguidos por todo o ocidente, os exploradores do espaço sideral chamam-se astronautas, dando primazia aos astros, aos corpos celestes, ao seu estudo e exploração, os russos chamam-lhes cosmonautas, quiçá uma designação mais abrangente porque alargado ao cosmos, ou seja ao próprio universo.
Mas esta louvável cooperação, entre americanos e russos, não foi sempre assim, e se recuarmos á época da guerra fria, então com a União Soviética como protagonista, a corrida ao espaço, andava de mãos dadas com a corrida do poder atómico, esse ganho, pelos americanos, tendo sido a vítima o Japão, com Hiroshyma e Nagasaki, visados pelas bombas atómicas a primeira delas lançadas de um avião baptizado enola gay.
Nesta corrida, inicialmente a vantagem caía para a União Soviética, com o lançamento, com sucesso, em Outubro de 1957 do primeiro satélite artificial, construído pelo ser humano, – o Sptunik, logo seguido de um segundo lançamento, 4 meses depois, desta vez transportando uma cadela viva, a Laika, cabendo-lhe a honra de primeiro ser vivo terráqueo a ir ao espaço.
O primeiro ser humano, o segundo ser vivo a ir ao espaço, acabaria por ser Yuri Gagarin, em 1961, celebrizando-se herói nacional na URSS, por esse feito excepcional, e em 1963 seria a vez de uma mulher, Valentina Tereskova, a ficar em órbita terrestre, e dois anos deposi a primeira caminhada no espaço sideral caberia a outro russo, Alexey Leonov, em 1963.
Todos estes sucessos foram pulverizados, em 1969, pela alunagem do módulo da Apollo, com os astronautas Buz Adrin, e Neil Armstrong, a serem os primeiros terráqueos a pisar a lua, satélite natural da Terra, cumprindo um sonho de Kennedy, que seria assassinado, em 1963, antes de o pode contemplar.
Americanos e Russos, percebendo os benefícios de uma cooperação mútua, principio teorizado a partir do “dilema do prisioneiro”, hoje muito usado em gestão, iniciaram esse caminho, sendo selada, essa cooperação, com a acoplagem em 1975, da nave americana Apollo, com a nave russa Soyus, com sucesso.
Inevitavelmente, o passo seguinte foi a construção e colocação, em órbita baixa, cerca de 400 quilómetros de altura, de estações espaciais.
A primeira estação foi a russa Salyut (saudação) lançada em 19 de abril de 1971, seguindo-se a Almas de cariz militar mas sendo abandonada.
Seguiu-se a Salyut 6 lançada em 29 de Setembro de 1977 e com fim de vida em 1982, e a Salyut 7 lançada em 19 de Abril de 1982 com fim de vida em 7 de Fevereiro de 1991.
Coube aos americanos lançar a sua Skylab em 14 de maio de 1973, a qual viria a cair, em 1979, por problemas técnicos.
Recordo que quando dava formação no domínio dos sistemas de gestão da qualidade, e a propósito do principio da “melhoria contínua”, tão americano, referia os diferentes tipos de abordagem entre americanos e russos, sendo que para os primeiros o principio da melhoria contínua levava a constantes melhorias nas tecnologias e componentes, porque vinculados á ideia de que era sempre possível melhorar, diferentemente dos segundos, para quem não se mexe se funciona bem, e dava o exemplo das estações espaciais, enquanto a melhoria continua não impediu a Skylab de cair, as estações espaciais dos russos só caíam quando se carregava no botão para elas caírem. Enfim uma brincadeira, para animar sessões.
Em 1989 a Rússia lança a sua MIR (esperança), cujo fim de vida aconteceu em 1998, de forma programada.
Antes de mesmo da MIR chegar ao fim de linha, os russos em parceria com os americanos lançam então a ISS, em 1994, celebrando o segundo acto cooperativo desde a acoplagem de 1975, em matéria de exploração espacial.
A China, outro protagonista espacial, corre, ainda, em pista própria, tendo lançado o seu “Palácio celeste” (TIANGONG) em 29 de Setembro de 2011, tendo fim de vida em 2018, a que se seguiu o TIANGON 2, em 2016, com fim de vida em 2019, e anunciaram para breve o TIANGON 3.
Portugal, longe de outros tempos em que marcava a evolução em matéria de descobrimentos para a humanidade, estreou-se modestamente com o seu primeiro satélite o POSAT, lançado em 1993, com o forte envolvimento de um dos vice reitores da minha universidade independente, o cientista Carvalho Rodrigues, ficando conhecido como o “Pai” do primeiro satélite português. Em 2006, perderam-se as comunicações com ele, e entrou numa rota descendente, prevendo-se que se venha a desintegrar na atmosfera terrestre lá para 2043.
Recentemente, foi lançado o segundo satélite português, da classe dos nano satélites, baptizado como “Aeros”, mas designado como “MH-1”, em homenagem a Manuel Heitor, ex-ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino superior.
Portugal também tem uma Agência Espacial Portuguesa, com sede nos Açores, onde se prevê vir a construir um porto para lançamento de foguetões e satélites, em especial o “space rider”, um projecto de transporte da ESA (Agência europeia para o Espaço) e disporá de um centro de controlo de aterragem, plataforma de processamento e análise de cargas, apostando em instalações e competências altamente qualificadas.
Em matéria de astronautas, e segundo Carvalho Rodrigues, a honra cabe ao empresário Mário Ferreira, cujo bilhete na nave da missão “new sheppard” da empresa privada “Blue Origin”, possibilitou entrar no espaço sideral, ainda que por breves segundos, regressando á terra em segurança.
Porém a lusofonia já tinha um astronauta brasileiro, Marcos César Pontes enviado à ISS em 2006.
Possam os nossos jovens universitários abraçar este ideal, e Portugal fará parte certamente do clube espacial.
O futuro é esse.
OVNIS FALAR DISTO
Oliveira Dias, Politólogo
Publicado no Semanário NoticiasLx: