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    LUÍS VAZ DE CAMÕES

    Camões, o poeta que pouco ligava á estratificação social da época, tanto se perdia de amores por princesas, segundo uns, a causa do seu degredo para a India, como se entregava, qual cativo, á sua cativa oriental, a quem dedicou a sua pena, imortalizando-a “aquela cativa que me tem cativo”. Ele era uma espécie de poeta socialmente ecuménico.

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    Este ano celebram-se, e comemoram-se, os 500 anos de Camões, o vate maior da nossa história, pelo menos, e segundo alguns, um pouco mais que isso.

    Não sendo um camoniano – especialista na prosa de Camões – nem especialista do seu versejar, na sua vida, nem noutra coisa qualquer relacionada com Camões, sou, ainda assim, um dos privilegiados que se orgulham de com ele partilhar a nacionalidade, o amor á Pátria – a língua portuguesa – e á Mátria – a terra que nos viu nascer, pese embora se encontre envolta por um manto de mistério, o natal de Camões, onde terá nado o nosso maior, terá sido em Coimbra, Constância, Lisboa, ou, ou, que importa em que ramo nasce o fruto, se é a mesma árvore? Tal nos basta.

    Os Lusíadas são, sem grande controvérsia a sua “opus prima” – obra prima, que significa, a primeira obra perfeita. Dito de outra forma, um artista, poeta ou seja o que for não tem obras primas, mas sim uma única obra prima, aquela a partir da qual já não é mais possível fazer melhor, e com Camões são os “Os Lusíadas”.

    Os Lusíadas, por sua vez, segundo alguns autores, que sigo e subscrevo, são várias coisas em simultâneo, desde logo o nome da obra – Os Lusíadas – não teria sido este o original mas … “As Lusíadas”, pois se a obra épica narra os feitos portugueses, o apogeu é a “prenda”, o prémio, oferecido aos grandes nautas portugueses, quando aportam a ilha dos amores e aí se deliciam com mulheres deslumbrantes, ninfas, na pena do poeta, num festival carnal, terreno, que os Deuses, oferecem aos lusos navegadores.

    A alteração do original “As Lusíadas”, para “Os Lusíadas” adequava-se melhor á sociedade profundamente machista da época, e, mais importante ainda, evitava que a épica obra de Luís Vaz de camões, fosse lançada para o tenebroso INDEX da igreja católica – os livros proibidos – com as naturais e consequentes encómios ao poeta.

    Talvez exagerada seja a lenda de ter salvo o manuscrito dos Lusíadas de um naufrágio, mais uma tragédia, como tantas outras da sua vida. Talvez sim, talvez não, a verdade é que ele sobreviveu a um acidente, sempre presente nas embarcações portuguesas, fazendo dos naufrágios um fado bem português. Camões fez parte desse fado.

    Também a perda de um olho em combate, em Ceuta, é-lhe reconhecida como imagem de marca, mas a verdade é que lesões corporais eram outra característica do militar português,  bem longe da imagem do aventureiro, com uma vida de adrenalina, vinho e mulheres.

    Camões, o poeta que pouco ligava á estratificação social da época, tanto se perdia de amores por princesas, segundo uns, a causa do seu degredo para a India, como se entregava, qual cativo, á sua cativa oriental, a quem dedicou a sua pena, imortalizando-a “aquela cativa que me tem cativo”. Ele era uma espécie de poeta socialmente ecuménico.

    Dele se dizia ter pertencido a uma ordem iniciática de trovadores conhecida como “os cavaleiros do amor”, porém, a palavra amor, neste contexto, era um acrónimo invertido de ROMA, significando esta a Santa Sé, a que se opunham, de forma sofisticada, os trovadores e poetas da época, sobretudo por causa da santa inquisição, e do seu índex, razão principal da alteração do nome da obra de Camões como assinalámos.

    Certo dia, em Caracas, Venezuela, um adjunto de gabinete de Hugo Chavéz, após me dar conta, com enorme entusiasmo, da história de Simon Bolívar, o libertador das américas, e celebrado herói venezuelano, perguntou-me qual era o maior herói de Portugal … respondi-lhe que em 9 séculos de história não tínhamos um, mas vários grandes heróis, mas Luiz Vaz de Camões personificava o herói típico português, fidalgo, cultíssimo, poeta, soldado, aventureiro, arrojado, amante da sua pátria.

    Foi também na Venezuela, no centro português de caracas, o maior do mundo no género, um enorme condomínio fechado, tipo cidade, com toda a espécie de serviços, que ao ser recebido na sal de honra do centro, integrando uma comitiva de São vicente, Madeira, me foi pedido que rubrica-se o livro de honra com uma mensagem, e, reparando na efigie de Luís Vaz de Camões dominando a sala,  essa foi a oportunidade de citar Camões “Aqueles que da lei da morte se vão libertando”, tendo, na mesma mensagem incluindo referências a Fernando Pessoa e ao Padre António Vieira.

    Camões é um terreno fértil para citações, e até um dos ícones dos tempos modernos vindo das américas, a Coca Cola, pelo menos em Portugal, usa uma citação camoniana quando a propósito da Coca Cola se dizia “primeiro estranha-se, depois entranha-se”.

    Camões
    Luís Vaz de Camões

    Luís Vaz de Camões é português, de nascimento, e universal em matéria de dimensão, e a sua vida e obra são o seu melhor testemunho.

    Dele se diz que no leito de morte as suas últimas palavras terão sido: “morro, mas morro com a minha Pátria” numa alusão á usurpação do trono de Portugal pelo que viria a ficar conhecido como a dinastia espanhola Filipina.

    Mas Portugal, não pereceu. Luís Vaz de Camões, também não, pois ele próprio sentenciou “e aqueles que por obras valerosas, se vão da lei da morte libertando”. Aplica-se a ele e a Portugal. SEMPRE.

    Oliveira Dias, Politólogo

    Publicado no Semanário NoticiasLx:

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