As long as it takes
«É necessário deixar, de uma vez por todas, muito claro que a Ucrânia não vai só ter o apoio até que seja necessário, a Ucrânia vai ter o apoio até que prevaleça sobre a Rússia», afirmou o Primeiro-Ministro Luís Montenegro
Não sou especialista em assuntos de Política internacional, geopolíticos, ou de estratégias, tácticas e operações de natureza militar, como as que decorrem um pouco por todo o planeta, com especial destaque, promovido pela comunicação social, das guerras da Ucrânia e da Palestina.
Não me vou debruçar na hipocrisia que descaradamente alguns protagonistas exibem, quando condenam veementemente uma, dada a invasão de território alheio, e as violações ao direito internacional e pior, ao direito humanitário, mas simultaneamente, apoiam denodamente a outra, aí, já não importando se quem apoiam também invadiu território alheio, e também violam o direito internacional e o direito humanitário.
Também não vou perder tempo na origem do problema, de ambas as guerras, pois quanto ao “clik” que despoletou a guerra da Ucrânia já falei sobejamente sobre o assunto, e até chamei já à colação um artigo de opinião do saudoso Mário Soares, publicado em 2008, onde previu tudo isto, face, à sua constatação, do erro em que se metia a NATO, ao avançar direito à Rússia.
Não. Vou apenas dar aqui a minha percepção dos factos e fazer alguma especulação, sem tomar partido, por qualquer das partes, e muito menos, sem me preocupar com a justiças, ou falta dela, porque em matéria internacional, não conta a justiça, mas sim os interesses conjunturais de cada País.
Imaginem, o seguinte: se um País, precisar de se afirmar no cenário internacional, e para tanto tiver de largar duas bombas atómicas para subjugar um outro País, e ao mesmo tempo mostrar aos restantes que não vale a pena veleidades, esse país falo-à, Hiroshima e Nagasaki que o digam.
Não há Tribunal Internacional que puna, quem pugna pelos interesses geo-estratégicos da sua nação. Os exemplos são muitos. O resto é conversa.
O que aqui vou fazer, de forma simples, é especular um pouco sobre a actualidade e demonstrar, pelo menos tentar fazê-lo, por que razão acho um imenso disparate, quando a frase em título, é utilizada, gratuitamente, por pessoas com demasiadas responsabilidades pelo mundo.
As long as it takes – A Teoria dos Jogos
Para tanto vou convocar a “Teoria dos Jogos”, um exercício de gestão que ajuda a prever cenários.
Na Teoria dos jogos existem pelo menos os seguintes cenários: “win/Win”, onde todas as partes ganham, é o cenário mais feliz, tudo acaba bem, para todos, Aqui o principal instrumento é a “colaboração mútua”, e costuma ser teatralizada, com o dilema do prisioneiro;
“Lose/Lose”, fica nos antípodas do anterior, todos perdem, é a desgraça total, o único instrumento é o armagedão;
“Win/Lose”, neste cenário um ganha o outro perde, é o cenário menos mau, mas longe de ser bom, para as partes. Neste cenário só conta a capitulação de uma das partes. Um bom exemplo foi como soçobrou o Japão, na segunda grande guerra, ficando subjugado á suzenaria dos EUA, assim como as Filipinas, países que ficaram sob protetorado dos EUA, até muito recentemente. Da mesma forma a Alemanha, ao capitular, foi espartilhada entre os EUA, Grã-Bretanha, URSS e França, ficando sob protetorado, durante muitas décadas.
No caso da Ucrânia, cujo apoio das forças da NATO é feito ás claras, e a propósito desse conflito, o ocidente clama aos sete ventos que o seu apoio e envolvimento será feito “as long as it takes”.
Especulando, afigura-se de uma cristalina evidência, que o cenário Win/Win está liminarmente afastado, pois não se vê como a Rússia e a Ucrânia, se possam entender, colaborando para uma solução, na medida em que a Ucrânia e os seus apoiantes acreditam na capitulação da Rússia.
Isto conduz-nos ao segundo cenário o lose/lose, e a razão é simples, uma vitória, no campo de batalha da Ucrânia sobre a Rússia, levará este País, detentor do maior arsenal nuclear do mundo a reagir com todo o seu arsenal. Putin já o declarou, uma vitória do ocidente, na Ucrânia, coloca directamente em crise a existência da nação russa, afinal se a queda do muro de Berlim em 1989, conduziu á desagregação da URSS, um dos maiores objectivos do ocidente naquela época, o objectivo seguinte, é naturalmente a desagregação da Federação Russa, e assim o domínio total do planeta pelo ocidente, e isso os Russos, não vão aceitar nunca.
Assim é fácil prever que uma derrota militar convencional para os russos na Ucrânia, levará a uma chuva de misseis Russos, com ogivas nucleares, tácticas e estratégicas, sendo que as tácticas visarão a Ucrânia, Finlândia e a Suécia, limpando os vizinhos, de forma terminal, e as ogivas estratégicas visarão o resto da Europa, começando pelos países que albergam ogivas nucleares americanas (a Alemanha, a Bélgica, e a Itália, ficando de fora a Turquia, por ser visto como País amigo).
Os submarinos nucleares russos equipados com misseis (vectores), transportando ogivas nucleares múltiplas, cuja velocidade (cerca de 10 mil kilómetros hora) os tornam impossíveis de ser interceptados, afundarão toda a frota de porta aviões americanos, caso os EUA respondam aos ataques russos na europa, e isso será incontornável á luz do artigo 5º do tratado Nato.
Aqui entrarão em acção os misseis intercontinentais, de ambos os lados (EUA versus Rússia), porém quando os misseis americanos atingirem a Rússia a Europa já não existirá. Daí chamar-lhe o armagedão.
Face a isto resta-nos, de acordo com a teoria dos jogos, o cenário de win/lose, ou seja a capitulação, não da Rússia, porque o corolário seria passar ao cenário de lose/lose, mas da Ucrânia.
A capitulação da Ucrânia não espoletará uma reacção nuclear do ocidente, porque em bom rigor a Rússia não está em guerra com o ocidente, e o artigo 5º do tratado do atlântico norte não pode ser invocado.
Tem vindo a ser cultivada a ideia, e nas nossas televisões isso é patente numa base diária, que uma vitória Russa na Ucrânia colocaria a segurança da europa em risco. Só ninguém explica o que levaria Putin a meter-se com países NATO, sabendo que isso redundaria no cenário lose/lose. Ora Putin pode ter muitos defeitos, mas estúpido não parece ser.
A NATO logrou chegar onde chegou, excepto à Ucrânia e à Bielorrússia, dois territórios considerados a última linha pela Rússia, a qual se ultrapassada, redundaria no desaparecimento da Federação Russa, permitindo assim controlar melhor pequenos territórios.
E é este jogo de interesses geo-politicos que está em causa, fazendo com que a expressão “as long that it takes”, uma patetice ignominiosa, pois a ser levada a sério, conduz ao armagedão, pelo menos da europa.
A irreversibilidade da adesão da Ucrânia à NATO, saída da cimeira em Washtington está ao mesmo nível da idiotice reinante, aliás na linha daquela gague de Biden chamar a Zelensky, de Putin, mesmo na cara dele, ou ainda de dizer que escolher Trump, para seu vice-presidente foi coisa acertada.
Só espero que o homem não confunda o botão da bomba nuclear, com o botão da campainha de casa. Aí estamos feitos.
Se estas coisas não fossem tão sérias era de nos mandarem ao chão a gargalhar até doer.
Oliveira Dias, Politólogo
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Publicado no Semanário NoticiasLx: