Sol na eira e chuva no nabal, a política de Portugal para a NATO 2024

Portugal, em 1949, apesar da sua situação política não democrática e das posições dúbias que assumiu durante a Segunda Guerra Mundial, ora apoiando os Aliados, ora o Eixo, foi convidado para participar na fundação da NATO, o que foi aceite, revelando uma grande clarividência diplomática do Governo, presidido por António de Oliveira Salazar, colocando o país no lado certo da Guerra Fria que então já se tinha iniciado.

Política de Portugal para a NATO 2024

Política de Portugal para a NATO 2024
Política de Portugal para a NATO 2024

Portugal é membro da Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO) desde 1949, sendo um dos 12 países fundadores, a par da Bélgica, do Canadá, da Dinamarca, dos Estados Unidos, da França, da Islândia, da Itália, do Luxemburgo, da Noruega, dos Países Baixos e do Reino Unido.

Portugal, em 1949, estava em pleno Estado Novo, com um sistema político de partido único, a União Nacional, mas isso não foi impeditivo de integrar o lote dos outros 11 países fundadores da NATO, todos eles com democracias instaladas. Foi pura realpolitik em que interesses geoestratégicos globais prevaleceram perante questões ideológicas ou de regime político.

Não sendo Portugal à época da criação da NATO uma democracia, importa saber qual a razão de lhe ter sido formulado o convite para ser um dos países da sua fundação, o que se deveu, entre outras razões, à posição geoestratégica da Base Aérea das Lages, situada na Ilha Terceira nos Açores, que estava em funcionamento desde 1930, ainda hoje mantendo a sua importância na estratégia de defesa do Atlântico Norte ou de apoio a outras operações militares.

Política de Portugal para a NATO 2024 – A Fundação e o Estado Novo

Portugal, em 1949, apesar da sua situação política não democrática e das posições dúbias que assumiu durante a Segunda Guerra Mundial, ora apoiando os Aliados, ora o Eixo, foi convidado para participar na fundação da NATO, o que foi aceite, revelando uma grande clarividência diplomática do Governo, presidido por António de Oliveira Salazar, colocando o país no lado certo da Guerra Fria que então já se tinha iniciado.

Portugal ao aceitar ser país fundador da NATO pretendeu, com relativo sucesso à época, afastar o isolamento internacional a que estava sujeito por não ser uma democracia, para além de se querer afirmar diplomaticamente após a neutralidade assumida durante a Segunda Guerra Mundial.

Portugal, apesar da ausência de democracia entre 1926 e 1974, não descurou a sua participação em diversas organizações internacionais, tendo sido em 1948, um dos países fundadores da estrutura que antecedeu a Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Económico (OCDE), tendo também integrado em 1960 o lote dos países que fundaram a Associação Europeia do Comércio Livre (EFTA), que só abandonou em 1986, já em plena democracia, na sequência da adesão à Comunidade Económica Europeia (CEE).

Política de Portugal para a NATO 2024 – O Império Colonial

Verifica-se, pois, que a participação de Portugal na fundação da NATO insere-se na política internacional e diplomática adotada pelo Estado Novo, perfeitamente alinhada com os países ocidentais, não tendo constituído fator impeditivo dessa adesão, a manutenção, à época, do mais antigo Império Colonial europeu.

Internacionalmente a guerra diplomática contra Portugal foi protagonizada pela Organização das Nações Unidas (ONU), pelo facto do nosso país querer manter, a todo o transe, o seu Império Colonial, que acabou por se desfazer em 1975.

Aliás, o Império Colonial Português nunca poderia ter sido fator impeditivo de adesão à NATO porque a integram vários países democráticos, por exemplo, a França que possui territórios ultramarinos na América, em África, na Oceânia e na Antártida.

Um à parte para dizer que Portugal foi obrigado, sem referendar a vontade das populações, a abandonar Cabo-Verde e São Tomé e Príncipe, territórios onde não havia guerra de independência e que poderiam continuar a ser portugueses, como Regiões Autónomas, à semelhança do que acontece com os Açores e Madeira, tendo, aliás, este último arquipélago uma latitude alinhada com o continente africano. Os novos censores do sistema woke podem abrir o cardápio dos epítetos do costume, mas serei sempre fiel à palavra e opinião livres, mesmo que contrárias ao politicamente correto.

O surreal de toda esta situação é que, por força da aplicação do famoso artigo 5.º da NATO que considera que um ataque contra um dos seus membros é considerado um ataque contra todos, Portugal poderá ser obrigado a participar na defesa dos territórios ultramarinos da França, do Reino Unido e dos Países Baixos, embora tenha sido coagido a abdicar de Cabo-Verde e de São Tomé e Príncipe, sem referendar a vontade das populações locais. Uma Ironia da História.

Política de Portugal para a NATO 2024 – Os 2%

O Primeiro-Ministro, Luís Montenegro, enviou recentemente uma carta ao Secretário-Geral da NATO, anunciando que só em 2028, é que Portugal cumprirá o objetivo de alocar ao Orçamento da Defesa, 2% do Produto Interno Bruto (PIB), o que é gravíssimo se considerarmos os riscos de guerra alargada que se verificam em várias latitudes geopolíticas, nomeadamente, na Europa.

Não se compreende que os Governos socialistas de António Costa, nos últimos oito anos, tenham descurado negligentemente o Orçamento da Defesa, situação que não foi corrigida de imediato pelo atual Governo, o que deixa Portugal numa situação muito frágil, perante os seus parceiros. Espera-se, pelo menos, que a infestação de corrupção a granel que se vivia no Ministério da Defesa já tenha começado a ser combatida e erradicada.

Razão teve e provavelmente terá no futuro, Donald Trump, ao criticar veementemente os países que não cumprem os Orçamentos de Defesa a que se comprometeram, estando Portugal nessa lamentável situação. São países que pretendem manter a segurança de pertencerem à NATO, mas que não contribuem de acordo com o estabelecido. A esta chico-espertice aplica-se na perfeição o ditado popular “sol na eira e chuva no nabal”. Veremos até quando, dependendo do resultado das próximas eleições nos Estados Unidos.

– Fernando Pedroso, Líder da bancada do CHEGA na AMO e Adjunto do Conselho Jurisdicional do CHEGA

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Publicado no Semanário NoticiasLx:

NoticiasLx de 20 de Julho de 2024 – Loures, Lisboa, Odivelas, Sintra, Almada – Semanário | Informação | Opinião | Agenda Metropolitana | Grande Lisboa

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