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O Antes do 25 de Abril e os Mitos de Alguns Pretensos”Anti-Fascistas” que Sempre Apoiaram Ditaduras

O Antes do 25 de Abril e os Mitos de Alguns Pretensos”Anti-Fascistas” que Sempre Apoiaram Ditaduras

Não é possível no pouco espaço de um editorial entrar em detalhe em alguma traves mestras da narrativa que ao longo dos últimos 50 anos, e mais além, foi construída pela propaganda que apresenta o pcp como o único e fundamental opositor ao regime do Estado Novo.

O pcp nasce após a revolução Russa (1917) e encontra em Portugal um terreno fértil em todos os que “deslumbrados” pelo que a propaganda soviética lhes prometia e ávidos de poder, começaram o grande ataque aos Sindicatos e não se pense que a conquista desses sindicatos foi pela via política e sindical… para os que investiguem muito para além deste editorial poderão encontrar relatos do que na altura era chamada a “legião vermelha” que assassinavam a tiro dirigentes sindicais1.

Sobre o movimento e a organização sindicais, que serve apenas como uma fonte de análise e não abarca o movimento sindicalista revolucionário, antes e após a nacionalização dos sindicatos e com a reforma marcelista, ver o texto de Hélder Miguel Marques aqui.

Documento fundamental para compreender o que foi o movimento sindical na 1ª Republica e os princípios e a história da maior central sindical de sempre em Portugal, a CGT e o seu jornal diário “A Batalha”, recomendo a leitura do livro: “Emídio Santana Memórias de um militante anarco-sindicalista” da editora “Tinta da China”.

A partir de 1921, com a revolta dos marinheiros de Kronstad2 (Revolta de Kronstadt), começam a chegar os ecos de que afinal a chamada revolução russa era um embuste de um regime ditatorial onde todos eram iguais, mas uns eram mais iguais que outros

Até ao 18 de Janeiro de 1934, assiste-se em Portugal a uma luta desigual entre a ditadura do Estado Novo e a sua implementação da Nacionalização dos Sindicatos e o Movimento Operário e Sindical. O 18 de Janeiro é em termos de grandes movimentos de massas a última grande ação de contestação à ditadura e os factos comprovam mais uma vez que os comunistas do pcp eram uma entre várias organizações envolvidas na ação 3.

O Antes do 25 de Abril e os Mitos – O Tarrafal

A 23 de Abril de 1936 abre o campo de concentração do Tarrafal, na ilha de Santiago em Cabo Verde, destinado aos presos políticos. Dos 340 antifascistas portugueses que passaram pelo campo, morreram 34, tendo assim uma taxa de mortalidade de 10%. As vítimas mais ilustres são Bento Gonçalves, então dirigente do pcp, e Mário Castelhano, então líder da Confederação Geral do Trabalho (CGT).

Mais uma vez os factos vêm comprovar que no Tarrafal não estavam apenas militantes do pcp. Embora a máquina de propaganda, mesmo no wikipédia, tente sempre salientar os militantes do pcp, na verdade, no Tarrafal existiam vários militantes de movimentos políticos e sindicais mas deixo para outro artigo, análise mais profunda do que foi o Tarrafal, não sem antes vos deixar três episódios que são, a meu ver ilustrativos:

– O médico do campo na prática limitava-se a passar certidões de óbito e os prisioneiros tinham as suas próprias “farmácias” – a do pcp era apenas para os seus militantes…

– O “Pacto Molotov-Ribbentrop” entre o regime Nazi e a URSS e as suas repercussões no Tarrafal.

– Foi Bento Gonçalves, secretário geral do pcp, um dos presos no Tarrafal, quem construiu a placa para comemorar a visita do Marechal Carmona em 1939 a Cabo Verde.

Com a prisão dos mais destacados opositores ao Estado Novo e com o aumento brutal da repressão é natural que se tenha assistido a uma aparente “pacificação” social. A nacionalização dos sindicatos retira a força ao movimento sindical e à sua Confederação Geral do Trabalho.

Importante também para a evolução da situação política em Portugal, aqui mesmo ao lado, na guerra civil espanhola (1936-1939) os ideais revolucionários são esmagados pela brutalidade dos exércitos de Franco com a ajuda de mercenários do norte de África e do regime Nazi que em Espanha testa as suas armas de guerra. Para esta derrota muito contribuiu a cobardia do Estado Francês que tendo prometido ajuda militar optou por abandonar os revolucionários à sua sorte o que mais tarde lhe veio a ser fatal quando chegou a sua vez de enfrentar o poderio militar Nazi.

O Atentado a Salazar em 1937, organizado pela Frente Popular e pelos anarco-sindicalistas, tendo como coordenador Emídio Santana, marca o fim de uma era de grandes ações mediáticas que só voltarão a ter expressão com Humberto Delgado e Henrique Galvão, nenhum deles com qualquer apoio do pcp.

Em Agosto de 1940, é assassinado Leon Trótski (fundador da IV Internacional por oposição à III dos Stalinistas) a mando de Staline. Este facto vai aumentar a divisão entre os comunistas a nível internacional e os trotskistas são, após o 25 de Abril em Portugal, um dos partidos que mais tarde virá com a UDP (linha ML) a fundar o atual BE.

O Antes do 25 de Abril e os Mitos – As Grandes Ações de Oposição ao Estado Novo, depois de 1940, não contaram com o pcp

A candidatura presidencial do general Humberto Delgado em 1958 motivou uma grande onda de apoio popular e ficaram célebres estas suas declarações: Numa conferência de imprensa da campanha eleitoral, realizada em 10 de Maio de 1958 no café Chave de Ouro, no Rossio em Lisboa, quando lhe foi perguntado pelo jornalista Lindorfe Pinto Basto (representante da France Press em Lisboa), que postura tomaria em relação ao Presidente do Conselho Oliveira Salazar, respondeu com a frase “Obviamente, demito-o!”.

Henrique Galvão, em 1961, toma de assalto o paquete Santa Maria a que se segue o sequestro de um avião da TAP de onde são lançados cem mil panfletos a apelar à revolta contra a ditadura. Ambas as ações tiveram grande repercussão internacional chamando a atenção para a ditadura em Portugal.

O Antes do 25 de Abril e os Mitos – A Invasão pelas tropas Russas da Hungria e Tchecoslováquia

A invasão pelas tropas russas da Hungria em 1956 e da Tchecoslováquia em 1968 marcam o declínio do movimento comunista na Europa e nomeadamente do movimento de oposição à ditadura Portuguesa no exterior. É por esta altura que surgem os movimentos informais mais tarde partidos, que em Portugal se viriam a chamar os partidos ML (marxistas leninistas) que acusam o pcp de traição aos ideais comunistas e de revisionismo.

Álvaro Cunhal ganha grande apoio do PCUS pelas suas posições pró URSS na invasão da Hungria e Tchecoslováquia.

Não é surpresa para ninguém o apoio do pcp aos regimes ditatoriais hoje como no passado, o pcp apoia regimes como o da Venezuela, Cuba, Rússia, China, Coreia do Norte e outros que tais.

O Antes do 25 de Abril e os Mitos de Alguns Pretensos”Anti-Fascistas” que Sempre Apoiaram Ditaduras – O Avante denuncia a Entrada Clandestina em Portugal de Anti-Fascistas

O Antes do 25 de Abril
O Antes do 25 de Abril – entrevista de José Mário Branco

Em 1965 um grupo de militantes ML decide entrar clandestinamente em Portugal para organizar a FAP e o CMLP. Isto incomodou de tal forma o pcp que, na 1ª página do Avante, foi publicado um artigo com o título “Cuidado com Eles” com os nomes dos antifascistas que tinham entrado em Portugal. Uma semana ou duas depois, a PIDE apanhou-os e foram presos e condenados a penas pesadíssimas. O testemunho de José Mário Branco.

Aliás, o pcp sempre condenou aquilo que não controlava. Veja-se a propósito as declarações de Álvaro Cunhal no Diário Popular de Outubro/1974 em que condenava a ocupação de terras no Alentejo classificando-as como uma “anarqueirada” e como mudou de opinião quando o seu partido passou a controlar as unidades de produção e as ocupações de terras.

Na década de 70, os partidos comunistas francês e italiano entram em recessão e apenas o pcp era a exceção na Europa, mas como é visível nos últimos resultados eleitorais, tem cada vez menos representantes eleitos em Portugal e caminha a passos largos para a insignificância.

– António Guedes Tavares, diretor

Editorial

O Antes do 25 de Abril e os Mitos de Alguns Pretensos”Anti-Fascistas” que Sempre Apoiaram Ditaduras

1A seguir ao 25 de Abril tive oportunidade de falar com um dos dirigentes do Sindicato dos Padeiros cujo irmão foi morto a tiro pela legião vermelha.

2A Revolta de Kronstadt foi uma insurreição dos marinheiros da Frota Naval Militar da União Soviética da cidade portuária de Kronstadt contra o governo da República Socialista Federativa Soviética da Rússia. Foi a última grande revolta contra o regime bolchevique no território russo durante a guerra civil que assolou o país. A revolta iniciou-se em 1º de março de 1921 na fortaleza naval da cidade, localizada na ilha de Kotlin, no golfo da Finlândia. Tradicionalmente, Kronstadt servia como base da frota russa do Báltico e da defesa de São Petersburgo (então Petrogrado), localizada a 30 km da ilha. Durante dezesseis dias, os rebeldes insurgiram-se em oposição ao governo soviético que eles mesmos haviam ajudado a consolidar.

3Várias associações comunistas, socialistas, anarquistas e sindicalistas realizaram, em cooperação, várias greves e manifestações em Lisboa, Porto, Coimbra, Braga, Leiria, Almada, Anadia, Setúbal, Silves e Sines, assim como em muitas outras localidades do país, sendo realizados atos de sabotagem e de violência. A greve teve um forte impacto na vila vidreira da Marinha Grande, razão pela qual o evento é também referido pela população local como a Revolta da Marinha Grande

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Publicado no NoticiasLx:

NoticiasLx de 03 de Agosto de 2024 – Loures, Lisboa, Odivelas, Sintra, Almada – Semanário | Informação | Opinião | Agenda Metropolitana | Grande Lisboa
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