Rentrée política de mais do mesmo
Em Portugal há o hábito dos partidos políticos abrandarem a sua atividade na chamada silly season, com os seus líderes e respetivas nomenclaturas a darem conhecimento público das zonas turísticas e balneares do país que elegeram para o gozo de férias.
Normalmente os líderes políticos portugueses só publicitam o local das respetivas férias quando isso acontece em território nacional, sendo raro haver notícia quando viajam em lazer para o estrangeiro. Contudo, este ano, provavelmente por fuga de informação, verificou-se uma exceção à regra e houve detalhado conhecimento das férias de luxo do Primeiro-Ministro, Luís Montenegro, num dos paraísos do Nordeste brasileiro, onde obviamente não faltaram os respetivos seguranças, pagos pelo Estado português.
A grave crise nos serviços públicos que se verifica em Portugal, o risco de incêndios à época e o facto do Governo estar em modo de sobrevivência periclitante, dependente de todos os partidos da oposição, da esquerda à direita, e a necessitar de preparar e negociar, numa autêntica quadratura do círculo, o seu primeiro Orçamento de Estado, não foi razão suficiente para que o Primeiro-Ministro se mantivesse em funções, protelando o seu período de férias para altura mais oportuna. Como sempre, o país pode esperar.
Apesar de grande número dos portugueses que trabalham arduamente fazerem férias nos seus locais de residência, muitos até em trabalhos paralelos, sendo-lhes vedado o acesso às praias do Algarve e do Litoral Alentejano, o conhecimento dos locais de lazer de Luís Montenegro, seja em Portugal ou no estrangeiro, deve continuar a ser do domínio público, a bem de uma política de transparência que se deveria manter no futuro. Veremos.
Rentrée política de mais do mesmo – O SNS
A elite partidária com responsabilidades executivas de governação esteve a banhos durante a silly season e o Serviço Nacional de Saúde (SNS) também meteu férias em muitas das urgências gerais, obstétricas e de pediatria, que encerraram por falta de médicos, tendo-se massificado os nascimentos de crianças em ambulâncias (são conhecidos 41 casos recentes), com o apoio e o suporte dos abnegados e valorosos bombeiros voluntários que, apesar de maltratados pelo poder político, continuam a prestar um serviço público de elevado valor acrescentado para todos os portugueses.
Rentrée política de mais do mesmo – Os Bombeiros
A propósito do trabalho dos soldados da paz, muitas vezes voluntário e sempre mal pago, seria conveniente que os poderes públicos, sejam eles, nacionais, regionais ou locais, fizessem contas de quanto poupam ao erário público, com o trabalho desenvolvido pelas corporações de bombeiros voluntários que existem por todo o país. Se essas contas fossem efetuadas com certeza que o apoio financeiro às corporações de bombeiros voluntários, não seria tão escasso e regateado.
Rentrée política de mais do mesmo – O Ano Escolar 24/25
O ano escolar de 24/25, como é regra, também esteve sujeito aos problemas do costume, tendo havido constrangimentos no Portal das Matrículas devido ao elevado número de acessos, ao que acresce se estimar que no início das aulas mais de 30% dos alunos tenham falta de professores, o que será colmatado, segundo a estratégia do Ministério da Educação, com recurso a trabalho extraordinário.
Rentrée política de mais do mesmo – O Trabalho Extraordinário
A sacrossanta figura do trabalho extraordinário, a velha receita para a falta de planeamento estratégico de recursos humanos, tudo resolve, servindo para suprimir as carências de professores e médicos, mas também de outras classes profissionais, por exemplo, a dos polícias, ou seja, o Governo está a demonstrar ser incapaz de encetar no Estado uma profunda reforma na gestão dos seus recursos humanos, de forma a atrair e a reter consistentemente talento para a Função Pública. Mais do mesmo.
A estratégia de obrigar os médicos e agora até os professores a aceitarem massivamente trabalho extraordinário para manterem o nível de vida a que aspiram, é uma receita desadequada e ultrapassada porque atualmente os mais jovens querem manter um equilíbrio saudável entre a vida pessoal, familiar e profissional.
A par do trabalho extraordinário começam a desenhar-se outras estratégias, com recurso a expedientes administrativos, para captar e reter profissionais na Função Pública, nomeadamente, os médicos, estando a ser congeminada a obrigação de terem de trabalhar para o Estado um determinado número de anos, antes de puderem livremente fazer as suas opções no mercado de trabalho. Trata-se de uma autêntica chico-espertice, de legalidade duvidosa, porque as universidades públicas não formam quadros para o Estado, mas sim para o país, com o dinheiro proveniente dos impostos gerados por todos os setores da economia portuguesa.
A novos tempos, devem corresponder novos desafios no que concerne à gestão das pessoas que trabalham para o Estado português, mas isso parece não fazer parte da agenda do Governo do PSD que prefere manter as velhas receitas do PS, ou seja, há uma perfeita identidade e fidelidade com as políticas já gastas do Bloco Central que originaram a profunda crise atualmente existente na maioria dos serviços públicos portugueses. Mais do mesmo.
Rentrée política de mais do mesmo – A Imigração
Um outro tema que o Governo está a empastelar diz respeito à imigração ilegal e descontrolada, tendo parecido que o fim das manifestações de interesse seria o início da resolução deste candente assunto que tanto preocupa a sociedade portuguesa, mas tal não aconteceu e continua a manter-se a situação herdada dos governos socialistas e da geringonça. Mais do mesmo.
Aliás, não se percebe a cerrada barreira que a generalidade da comunicação social e dos partidos políticos tradicionais (PSD, CDS, PS, IL, BE, PCP, L e PAN) estão a fazer à proposta do CHEGA de se realizar um referendo, nos termos da lei e da Constituição, sobre a imigração. O que é pretendido é perguntar aos portugueses se concordam com o seguinte: a) que haja uma definição anual de limites máximos para a concessão de autorizações de residência a cidadãos estrangeiros; b) que seja implementado um sistema de quotas de imigração revisto anualmente.
O PSD demonstra medo da opinião dos portugueses ao não aceitar o mais genuíno instrumento de democracia direta que é o referendo, perdendo-se uma grande oportunidade de se saber definitivamente se o eleitorado concorda ou não com a atual bagunça babilónica que se vive no país em torno da imigração ilegal e descontrolada.
Mudou o Governo, mas aplica-se na perfeição a célebre frase do romance “O Leopardo”: “É preciso que tudo mude para que fique tudo na mesma…”.
– Fernando Pedroso, Líder da bancada do CHEGA na AMO e Adjunto do Conselho Jurisdicional do CHEGA
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Publicado no Semanário NoticiasLx: