A anunciada “longa noite” nas eleições americanas, afinal não foi longa, em contraste com o sucedido à 4 anos, a qual se espraiou por penosos longos dias, com a incerteza de quem tinha vencido as eleições, tendo por corolário, então, o anuncio oficial da vitória do candidato democrata, Joe Biden, não aceite, pelo anunciado oficialmente derrotado candidato dos republicanos, Donald Trump.
Desta vez, 4 nos volvidos, foi o oposto, literalmente o oposto, na mesma noite, o derrotado oficial de à 4 anos, foi hoje anunciado como o vencedor, com uma diferença, é que o partido republicano, desta vez, venceu em toda a linha, as eleições de 2024, ou seja conquistaram a Presidência da Federação Americana, sob a batuta de Donald Trump, o que só por si deixou em choque o mundo, para além, de kamala Harris, conquistaram as duas Câmars legislativas, desde logo o Senado, e o Congresso (câmara dos representantes), e como se não fosse pouco, conquistam a maioria dos juízes do Supremo Tribunal (objecto de escolha popular na américa, algo que por cá devia ser copiado). Ou seja ganharam TUDO, para desespero do Parido Democrata.
Bem tinha avisado Bill Clinton, na concentração máxima dos democratas, que serviu para entronizar Kamala Harris, depois da desistência da corrida presidencial de Biden … ninguém lhe deu ouvidos, e o homem sabia do que falava.
O Embaixador Francisco Seixas da Costa, na manhã seguinte à apoteótica noite de Trump e dos Republicanos, dizia aos microfones da TSF, em reposta ao pedido de comentário sobre o sucedido, algo como “Bom falharam todas as sondagens, falharam 99% dos comentadores que nas nossas televisões nacionais, em Portugal, deram a sua opinião, mais parecendo achismos e desejos pessoais, sem fazerem verdadeiramente análise política imparcial”.
O senhor embaixador tirou-me as palavras da boca. Para não falar em nomes, porque não lhes quero dar publicidade, direi apenas que só houve 1 comentador/analista, profundo conhecedor da realidade americana, e deste digo o nome, porque o merece, é Mário Crespo, que fazia análise da realidade americana com os “olhos americanos” e não como erradamente todos os restantes comentadores e pseudo analistas fizeram com os “olhos europeus”.
Não compreendo, de resto, como uma RTP, uma TVI uma SIC uma CNN, uma Sic noticias, uma Now, uma CMTV, se dispõem a gastar milhares de euros em remunerações de comentadores tão ineptos, tão incompetentes, porque o que debitam nos nosso écrans não passa de catequese pseudo informativa, que nem para manipulação serve, por uma razão dramaticamente singela – nós não votamos nos states.
Agora a diversão, por cá, é ver aqueles achistas todos (um achista é um dos que acha sempre qualquer coisa) a justificar a razão da vitória de Donald Trump, e dos Republicanos. Confrangedor.
Assim como confrangedor foi, observar alguns chefes de Estado estrangeiros, a vaticinarem, antes das eleições, qual oráculo falhado, que Kamala era o futuro, e a melhor coisa para os americanos e para o mundo, era ela vencer a corrida … isso não seria perturbador para nós se, o Presidente da República de Portugal e o Presidente da Federação do Brasil não tivessem “escorregado” nessa casca de banana.
Arrisco a avançar que a nossa pretensão a ter um acento permanente no Conselho de Segurança, da ONU, no próximo mandato daquele órgão, ao qual o governo português prepara a sua candidatura, está condenado ao falhanço. Assim como o Brasil, cuja pretensão é a mesma.
Depois de conhecido o vencedor, Marcelo, expedito, qual Lucky Luck, o tal mais rápido que a sua própria sombra, expressou e deu a conhecer ao mundo as felicitações a Trump (engolir um sapo destes é obra), e de forma algo provinciana (para ser simpático) foi rebuscar ao baú a circunstância de Portugal ter sido o primeiro país, não alinhado, a reconhecer a independência dos Estados Unidos … o “não alinhado” é para ofuscar o facto de ter sido a França o primeiro País no mundo a reconhecer a Independência dos Estados Unidos, e depois foi buscar o encontro que teve com Trump, durante a sua presidência há não sei quantos anos e como foi simpático. Que provincianizes. Haja paciência.
A diplomacia, os negócios estrangeiros, entre estados, recomenda o recato nas relações internacionais, e as preferências pessoais de cada um deve ficar bem fechada na gaveta. Os interesses dos estados sobrepõem-se aos desejos e preferências pessoais, e políticas de cada um.
Em política tudo é efémero, nunca nada é definitivo, nem vitórias, nem derrotas. Como é que todos, ou quase todos se enganaram? Isto devia induzir uma profunda reflexão.
Não esqueço, por exemplo, o debate entre Trump e Kamala, anunciado pela comunicação social, e comentadores de serviço, como uma rotunda derrota de Trump, face ao brilhantismo de Kamala, que o teria encostado ás cordas (sic). Este apodo de Trump ter sido encostado ás cordas, verberado por TODOS os comentadores que vi, fez soar campainhas de alerta (essa unanimidade soou-me a achismo), e por sorte encontrei um vídeo no Youtube com todo o debate. Conclui, no final, que ou os comentadores não assistiram ao mesmo debate que eu acabava de visionar, ou o whisky, falou mais alto obnubilando a razão.
O que vi foi precisamente o contrário, foi um Trump muito seguro, desmontando facilmente todas as poucas apologias de Kamala, de resto Kamala não foi capaz de avançar com nenhuma proposta ou medida política para o seu mandato, e não só não foi capaz de defender o seu governo, do qual ela era co-responsável com Biden, aliás, afastou-se dele, como de um cão com sarna, o mesmo homem, que poucos dias antes ela defendia com todos os dentes, asseverando que Biden estava em perfeitas condições para se recandidatar.
O americano médio não perdoa esse tipo de coisas. Kamala foi candidata ser ter sido eleita candidata, foi digamos, designada, herdeira de Biden, como se numa monarquia se estivesse, e o americano médio, que lutou contra a monarquia inglesa, não aceita isso de animo leve.
Assim como o americano médio não gosta de ver um partido tentar prender numa prisão o seu rival, receando perder para ele, e ainda por cima, na campanha utilizarem todos os processos judiciais para prejudicar a imagem do opositor.
Alguém acha mesmo que o americano médio se incomoda com o pagamento dos serviços de uma prostituta? Claro não. Bill Clinton deu facadas no matrimónio e o ideário calvinista do povo americano deu-se por satisfeito com o pedido de desculpas de Clinton.
Imaginem lá se fosse em Portugal e saísse uma notícia dando conta que Montenegro pagou os serviços de uma prostituta, ou que teria feito sexo com a secretária no Palácio de São Bento, e depois viesse pedir desculpas publicamente? Ninguém lhe perdoaria, nem o povo nem a esposa, e o homem cairia, seria o fim da vida política do homem. Mas isso seria cá.
A cultura de base Calvinista, que moldou os states ao longo da sua história, é bem diferente desta outra, mais europeia, católica, onde o perdão só é a sério se sofrido, e sobretudo, consequente. Sem consequências, não se ganha o céu.
É assim. Agora temos todos de viver com Trump. A boa noticia é que não será novidade, já o fizemos, e o mundo não acabou.
Agora a europa que se cuide. A Ucrânia também, os triliões que a guerra custa aos contribuintes americanos vai acabar. No médio oriente a coisa é muito preocupante, sobretudo para os palestinianos, aparentemente condenados á extinção.
Trump é um pragmático. Muitos tentam mostrá-lo como um néscio … mas nunca vi um néscio ter tantos sucessos profissionais nos negócios, como ele, algum predicado terá de ter.
Agora, uma coisa é certa, para quem prevê um armagedão americano, nenhum país, mesmo a América do Norte, pode tudo sozinho, aqui e ali, numa ou noutra questão, os europeus terão a sua utilidade e … Portugal também. E, atenção, isto não é um achismo.
Oliveira Dias, Politólogo