ANDRÉ VENTURA

O título de um artigo é muito importante porque é o chamariz, para o leitor sobre o mesmo se debruçar, razão porque, por vezes, não é fácil gizá-lo da melhor forma, ou pelo menos de forma mais eficiente.

Desta vez, para mim, foi facílimo dar título a este texto, depois de acompanhar, com atenção, a entrevista da SIC a André Ventura, coisa que faço sempre que um político é entrevistado nas Tv’s.

Já tenho abordado o assunto que me traz aqui em outros artigos, seja sobre comunicação política, seja sobre propaganda cinzenta, seja mesmo sobre manipulação do vulgo, do povo.

Durante mais de dois mil anos a instituição que monopolizava a forma como se manipulava populações, através de catequese individual, e liturgias pessoais, visando vincular o recém-nascido cidadão a certos valores, princípios e sistema de crenças foi a Igreja Católica Apostólica Romana, recorrendo a vários instrumentos e ferramentas de que se destacou a “confissão”, permitindo á hierarquia católica, assegurar o controlo das mentalidades, pelo acesso ao poder que isso possibilitava.

Com o advento da Revolução industrial, a transformação das sociedades, das mentalidades, da liberdade que uma cada vez maior mobilidade das populações, á escala mundial permitia, os grilhões religiosos foram-se estilhaçando, e novas formas de manipulação em massa surgiram, sendo o apogeu, da quebra daquele monopólio, a televisão.

Não foi preciso muito para o povo, a massa de cidadãos demasiado ocupados ou cansados para pensar por si próprio, passou a acolher como verdadeiro tudo quanto a televisão debitava diariamente.

Assim o controlo da manipulação de massas passou das mãos dos padres para os pivots televisivos.

Isto tudo numa perspetiva simplista, para não maçar o leitor com filosofias sobre o processo comunicacional.

O que temos hoje?

A SIC convidou André Ventura para uma entrevista, cedo se percebendo que o “leitemotiv” eram as malas de um deputado açoriano eleito pelo CHEGA, com a estonteante novidade de uma foto com 4 malas, num espaço, anunciado como sendo o gabinete daquele deputado, e, embora não dizendo, mas a ligação “assunto + foto”, a imprimir no subconsciente do incauto espectador, que, ah, ah, aquelas são as malas roubadas (no caso furtadas, mas não me apetece explicar a diferença entre roubo e furto, porque eu cá é mais croquetes).

Um mínimo de imparcialidade jornalística impõe, desde logo, que quando se faz uma pergunta, se ouça a resposta, é isto que querem pelo menos 3 partes interessadas – os que gostam de André Ventura, na expetativa de o ver brilhar; os que não gostam de André Ventura, ansiando por se embrulhar nas explicações; e os que, onde me incluo, aqueles que querem entender o “enredo”, o conhecer a verdade.

Percebeu-se que a senhora jornalista, pivot, não estava nem ali para as respostas, do homem.

E assim o tempo que a senhora jornalista dedicou á tal foto exibindo malas, foi de uma inutilidade confrangedora, pois a foto não passava disso mesmo, e quem esperava ser esclarecido sobre se as mesmas eram as retiradas do tapete do aeroporto pelo deputado em questão, ficou-se por isso mesmo, porque o jornalismo “isento” e “imparcial” da SIC não informou ninguém sobre o assunto.

O resto foram frugalidades, sem interesse político.

É bizarro, nesta altura não se saber coisas tão simples como: as malas “capturadas” pelo deputado eram de terceiros? Se sim, houve participação disso? Se sim as malas encontradas na residência do deputado, apresentavam indícios de arrombamento? Sim porque não acredito que o deputado levasse uma mala de outra pessoa, e a mala tivesse lá a chave do cadeado … é que as malas da foto não apresentavam sinais de abertura forçada … ah, e tal, não eram aquelas, então devia ser dada essa informação… ah, e tal aquilo foi só para as pessoas perceberem que tipo de malas se falava … .

E aqui é que bate o ponto, os atestados de burrice, que as tv´s impingem, ofendem as pessoas, admito que não todas, mas certamente a esmagadora maioria das pessoas.

Mas o que se seguiu, correspondendo a uma técnica cada vez mais usada, foi muito pior. Seguiu-se, no final da entrevista, um programa, com dois opinadores sobre a entrevista, como que, garantindo-se que, se por ventura alguém não ficou suficientemente catequizado sobre o político, transformado em alvo, aqueles dois opinadores encarregar-se-iam, de o garantir.

O vazio da argumentação de ambos, pejada de achismos, como se a mais pura e vestal verdade estivesse a eles confiada, mal-escondeu o desprezo que nutrem por André Ventura, elaborando sobre tudo e o seu contrário, sem uma única concretização do que afirmavam.

Sabemos que as entrevistas e os debates, hoje, são uma mera desculpa para realizar programas de opinião sobre os mesmos, com uma duração este muito superior á concedida aos entrevistados ou debatentes, é prática corrente. Mas isso empobrece o debate político, porque retira o contraditório aos visados, que se não podem defender das atoardas que lhes são dirigidas, consequentemente fragilizado a democracia, tal o desequilíbrio provocado.

Em suma, estas entrevistas e debates não passam de manipulação de mentalidades, por parte do 5º poder.

Um democrata, genuinamente embebido dos princípios que subjazem á democracia, pode não se rever em determinadas apologias, pode não gostar até de determinados políticos, mas não pode falhar á isenção, liberdade, e respeito pelo outro, pois os que hoje não respeitam o outro, amanhã podem muito bem acontecer ser respeitado.

Oliveira Dias, Politólogo

Publicado na Revista NoticiasLx:

NoticiasLX de 25 de Janeiro de 2025 – Loures e Grande Lisboa Informação | Opinião | Área Metropolitana

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