Dias antes da Cimeira de Ação sobre Inteligência Artificial (AI Action Summit), que decorrerá nos dias 10 e 11 de fevereiro em Paris, um conjunto de 100 organizações da sociedade civil entregou uma carta aberta aos organizadores do evento. O documento apela aos decisores políticos e empresariais para que reconheçam e mitiguem os danos ambientais causados pela Inteligência Artificial (IA).
A missiva, que conta com o apoio da Associação ZERO e de federações ambientais como Beyond Fossil Fuels, Climate Action Network (CAN) Europe, ECOS e European Environmental Bureau, propõe quinze exigências concretas para alinhar o desenvolvimento da IA dentro dos limites planetários. Entre os subscritores encontram-se ainda organizações como AI Now, Athena Coalition, European Digital Rights (EDRi), Amnistia Internacional, Association for Progressive Communications (APC) e La Quadrature du Net.
Exigências para um desenvolvimento sustentável da IA
A carta detalha cinco categorias essenciais de medidas para reduzir o impacto ambiental da IA ao longo de toda a sua cadeia de abastecimento e ciclo de vida:
- Eliminação dos combustíveis fósseis – A indústria da IA deve urgentemente cessar a utilização de combustíveis fósseis em toda a sua cadeia de produção e abastecimento.
- Computação dentro de limites – A infraestrutura computacional da IA precisa de operar dentro dos limites planetários em termos de recursos utilizados.
- Cadeias de abastecimento responsáveis – Empresas com grande peso no setor da IA têm a responsabilidade de garantir que a sua cadeia de abastecimento seja ambientalmente sustentável e ética.
- Participação equitativa – A tomada de decisão sobre a utilização da computação deve envolver o público, e o ativismo climático não deve ser criminalizado.
- Transparência – A sociedade deve ter acesso a informação clara sobre os impactos sociais e ambientais da infraestrutura de IA antes da sua construção e expansão.
Os signatários rejeitam soluções tecnológicas falsas ou enganosas e alertam para a necessidade de medidas concretas para evitar impactos irreversíveis nas economias, sociedades e ecossistemas globais.
A IA e a crise climática
O apelo surge num momento em que estratégias de desenvolvimento de IA altamente intensivas em recursos têm sido questionadas, como demonstrado no recente debate sobre o modelo DeepSeek AI. A crescente demanda por eletricidade da IA pode sobrecarregar as infraestruturas energéticas e prolongar a dependência de combustíveis fósseis, comprometendo metas climáticas internacionais.
Os ativistas defendem que a IA não pode ser considerada uma solução climática se continuar a operar com base em combustíveis fósseis ou for utilizada para extrair petróleo e gás. Defendem ainda que os centros de dados e outras infraestruturas de IA devem ser alimentados por energia renovável nova e adicional, contribuindo para uma transição energética sustentável.
A carta foi entregue oficialmente aos organizadores da cimeira e será debatida no Fórum sobre IA Sustentável, agendado para a manhã de 11 de fevereiro. A ZERO e as demais organizações apelam a um compromisso concreto dos decisores políticos e líderes da indústria para eliminar gradualmente o uso de combustíveis fósseis na cadeia de abastecimento da IA e garantir que a tecnologia seja desenvolvida dentro dos limites ecológicos do planeta. “Precisamos de agir agora”, alertam os subscritores.