Crítica a Novas Travessias Rodoviárias no Tejo: Um Retrocesso na Mobilidade Sustentável

- 64

A recente divulgação de planos do governo para a construção de duas novas travessias rodoviárias sobre o rio Tejo tem gerado forte oposição. A associação ambientalista ZERO considera tais propostas inaceitáveis, destacando que, num contexto de urgência climática, aumentar a capacidade rodoviária da capital agrava os desafios ambientais e contraria os objetivos de redução de emissões.

Impacto da Expansão Rodoviária e a Necessidade de Transportes Sustentáveis

A ZERO alerta que a principal prioridade deve ser a redução do transporte individual, promovendo alternativas sustentáveis como a melhoria do transporte público e a eletrificação dos veículos de grande circulação. O investimento em grandes infraestruturas rodoviárias, como um novo túnel entre Algés e Trafaria e o reforço da ponte ferroviária Barreiro-Chelas, será um incentivo ao uso do automóvel particular, cuja taxa média de ocupação é de apenas 1,2 passageiros por veículo.

Dados Históricos Mostram que o Tráfego Rodoviário Não Diminuiu

A implementação do serviço ferroviário na Ponte 25 de Abril em 1997 deveria ter resultado numa redução significativa do tráfego rodoviário. No entanto, os dados demonstram que, apesar do aumento da população na margem sul e do crescimento da utilização dos comboios, o número de veículos que atravessam as pontes de Lisboa continua praticamente inalterado.

Ano25 Abril (veículos dia)Vasco da Gama (veículos dia)Total veículos diaPassageiros ferroviários dia
1997~150.0000~150.0000
2008152.24664765217.01162.971
2019140.62768.638209.26565.708
2023146.49170.928217.41973.922

Entre os fatores que contribuem para o congestionamento crescente estão a falta de investimento na expansão da oferta ferroviária, a inexistência de corredores dedicados ao transporte público rodoviário e os incentivos empresariais ao uso de transporte individual, como a oferta de combustível e estacionamento.

Propostas para Reduzir o Congestionamento

A ZERO defende três medidas imediatas para começar a inverter o congestionamento nas travessias sobre o Tejo:

  1. Aumentar a capacidade ferroviária com aquisição ou aluguer de novas carruagens.
  2. Criar corredores dedicados ao transporte público rodoviário em ambos os lados das travessias, conforme previsto no Plano Metropolitano de Mobilidade Urbana Sustentável (PMMUS).
  3. Introduzir portagens diferenciadas conforme a taxa de ocupação dos veículos, desincentivando a circulação de automóveis com apenas um passageiro.

Fim das Concessões Rodoviárias: Uma Oportunidade para a Mobilidade Sustentável

O fim das concessões das pontes sobre o Tejo, previsto para 2030, representa uma oportunidade para reorientar as políticas de mobilidade, direcionando as receitas das portagens para projetos sustentáveis. A ZERO sugere que esses fundos financiem a expansão do Metro Sul do Tejo, a criação de mais corredores dedicados ao transporte público e o reforço dos interfaces de mobilidade em ambas as margens.

A expansão e integração das redes metro-ferroviárias, incluindo os interfaces de Alvito/Alcântara Terra, Campolide e Olaias/Chelas, é vista como uma solução essencial para transportar milhares de passageiros adicionais diariamente e reduzir a dependência do automóvel.

Uma Terceira Travessia Ferroviária para um Futuro Sustentável

A ZERO defende que a Terceira Travessia sobre o Tejo deve ser exclusivamente ferroviária, ligando Chelas ao Barreiro. Essa infraestrutra traria vários benefícios, incluindo:

  • Reforço do sistema de transporte público ferroviário na Área Metropolitana de Lisboa;
  • Redução dos tempos de viagem e atração de mais passageiros para o transporte público;
  • Maior eficiência no transporte de mercadorias, conectando os portos do sul às plataformas logísticas do norte;
  • Diminuição do uso de voos Lisboa-Madrid, com a Alta Velocidade Ferroviária reduzindo significativamente o tempo de viagem entre as duas capitais.

A ZERO argumenta que essa travessia deve ser financiada por fundos públicos nacionais e europeus, garantindo sua execução sem o incentivo ao transporte individual. Além disso, propõe a expansão do Metro Sul do Tejo até ao Lavradio, a reativação do ramal do Montijo e a modernização do ramal da Siderurgia em Paio Pires, ampliando a rede ferroviária e incentivando a mobilidade sustentável.

Em tempos de crise climática e desafios ambientais crescentes, a construção de novas vias rodoviárias é vista pela ZERO como um retrocesso. A solução passa por investimentos estruturais no transporte público, tornando-o mais eficiente e acessível, e reduzindo a dependência do automóvel individual na região metropolitana de Lisboa.

Fonte: Zero.ong

TOP da Semana

Produção local de hidrogénio em Leiria é exemplo para descarbonização da indústria, defende ZERO

A associação ambientalista ZERO destacou o projeto Nazaré Green...

Mais vale …

Se Luís Montenegro, tivesse como leitura de cabeceira clássicos...

11 de março de 1975

Esta semana passaram 50 anos sobre o 11 de...

NoticiasLX de 15 de Março de 2025 – Loures e Grande Lisboa

NoticiasLX de 15 de Março de 2025 - Consultar...

Artigos Relacionados