Se Luís Montenegro, tivesse como leitura de cabeceira clássicos obrigatórios, para quem exerce o Poder, como Nicolau Maquiavel (autor de o Príncipe), Tsun Tzu (autor de a Arte da Guerra), e outros, e os revisitasse com alguma frequência, ao invés de repristinar posturas como as de Cavaco Silva, com a sua esfíngica gestão do silêncio, e lemas como “deixem-me trabalhar”, e as “forças de bloqueio” (segundo ele constituídas por todos os partidos da oposição, o tribunal de contas, constitucional, provedoria de justiça, etc), cujas obras mais impactantes foram textos de opinião filosofando sobre “O Monstro” na administração pública portuguesa, e a solução que preconizava, então, para o excesso de funcionários públicos, pois segundo ele o problema resolver-se-ia á medida que fossem morrendo os mais velhos.
Mas também foi pernicioso, Luís Montenegro, seguir a “cartilha” de Alberto João Jardim, figura reformada da politica, que nos seus tempos áureos utilizava a tática de simplesmente ignorar os seus adversários políticos, durante o seu “reinado” de quase cinco décadas. Esta técnica política resultou na Madeira, mas no continente “ardeu”, como se viu.
Dos muitos conselhos de Nicolau Maquiavel, para o seu Príncipe de Médicis, um se destacava pela sua importância, e sobretudo pela amplitude da sua aplicabilidade, em matéria de PODER, no caso a manutenção do mesmo: “Mais vale ser AMADO, ODIADO OU TEMIDO?”, e permitam-me inverter a ordem pelo qual ele apresenta o seu dogma, porque na verdade a dúvida era “Mais vale ser amado ou temido?”, mas o excesso de temor, segundo Maquiavel, redundaria em ódio e isso seria fatal para o Príncipe.
Vejamos então a premissa e apliquemo-la ao caso em apreço.
Luís Montenegro, em virtude da vitória da coligação da AD, por pouco mais de 50 mil votos, logra a alcançar o poder, mas em igualdade, no parlamento, em número de deputados com o Partido Socialista.
Nestas condições a conquista nominal não correspondente exatamente á conquista real do poder, pois depende de terceiros, com a desvantagem de ter de ser fiel á premissa, por si assumida em campanha, do “não, é não”.
Esta premissa revelou-se uma autêntica “espada de damôcles” pois ficando a AD incompatibilizada com a esquerda ideologicamente presente no parlamento, afastou-o também de quem lhe podia garantir a estabilidade de que tanto necessitava, o CHEGA.
Vendo-se assim “isolado” Luís Montenegro tinha de escolher entre ser AMADO, ODIADO ou TEMIDO.
O inconveniente de ser amado, reside na circunstância do amor depender da satisfação de necessidades do outro, e aplicando a premissa ao caso temos a célebre questão da recuperação do tempo de serviço dos professores, ora naturalmente Luís Montenegro acreditava no amor que os professores lhe creditariam se satisfizesse essa sua necessidade.
Igualmente sucederia com os aumentos reivindicados pelas forças policiais, cuja satisfação, por parte de Luís Montenegro, lhe dedicariam o tal “amor” em troca. De igual modo sucedeu com as forças armadas, e por aí fora.
O problema do amor, já Maquiavel o antecipava, é que não há amor que sempre dure, e a satisfação de uma necessidade, gera quase de imediato outra ou outras necessidades, cuja satisfação se exige, caso contrário o amor acaba, e dá-se a ruptura, o divórcio.
Foi o que aconteceu. Satisfeitas as exigências referidas, de forma tão imediata, logo surgiram outras, esgotando rapidamente a capacidade de ir ao encontro das novas exigências. Isso aconteceu na classe dos professores, nas forças policiais, nas forças armadas, e noutros sectores que se sentiram marginalizados.
Portanto manter o Poder escorado no Amor, é efémero, é sol de pouca dura, e não prognostica nada de bom para Luís Montenegro para o próximo dia 18 de maio de 2025. Esta premissa deve dosear-se, e diferida no tempo. Não foi assim.
Depois temos a premissa do “ser odiado”. Esta está nos antípodas do Amor, um é 8 o outro 80. Ser odiado conduz, quase sempre, a comportamentos de “vendetta”, de modo a eliminar o personagem, ele e toda a família, porque deixar pontas soltas é deixar semente para germinar no futuro, e virar-se o feitiço contra o feiticeiro. Por isso não convinha para Luís Montenegro ser odiado, tudo menos isso, talvez tenha sido por isso que se manteve fiel á sua premissa do “não, é não”.
Por fim temos a premissa do “ser temido”. É uma espécie de meio termo entre o amor e o ódio, porque quando se é temido, receia-se a sanção, penalização, castigo, e isso restringe de forma poderosa iniciativas como as consequências do amor e as do odio, permitindo uma vida mais longeva na manutenção do poder.
Luís Montenegro, optou por ser amado, e esse esgotou-se rapidamente.
Numa análise ligeira sobre quem no parlamento teve nas suas mãos a premissa do temor, percebe-se claramente que foi o PS, pois foi a bancada mais temida por Luís Montenegro, que não logrou evitar cair no seu colo, como se viu logo na eleição do Presidente da Assembleia da República, reforçada pela não rejeição do seu programa de governo. Devia temer o PS e não o fez, talvez por falta de arte ou de engenho ou das duas. O desprezo do outro, nunca conduz a resultados felizes.
Oliveira Dias, Politólogo
Publicado na revista NoticiasLX: