Já aqui abordei, neste espaço, temáticas relacionadas com Famões, seja enquanto freguesia, seja enquanto vila, seja também enquanto localidade, com o intuito de divulgar pontos de interesse desta terra, com a “autoridade” de quem aqui criou raízes desde 1971, viu e viveu muita coisa, desde o rápido crescimento urbanístico, ao desenvolvimento das “comoditis” de quem aqui vive ou trabalha.
Volto de novo ao tema.
Algures, que já não consigo precisar, onde, quando e por quem, ouvi falar de um tanque romano votado ao abandono, nas proximidades da igreja paroquial, num espaço verde com muitas oliveiras.
Tanto quanto nos é dado perceber, oliveiras existiam onde agora está um bloco de apartamentos, mesmo em frente ao centro paroquial, e no espaço frente á lateral do centro paroquial, está agora em avançada construção um outro bloco de apartamentos.
Eventualmente terão sido sacrificadas as oliveiras. Já lá vai o tempo em que a oliveira era sagrada, e o seu abate implicava uma multa de 5 soldos.
A oliveira que na idade medieva era uma fonte de riqueza, que o digam os Templários, pois a sua exploração gerava receitas, graças ao seu óleo puro que por cá chamamos de azeite.
Utilizada em múltiplos propósitos, desde logo a culinária, unguentos, e lubrificante, mas também para iluminação pois era de matéria prima combustível para os candeeiros. Nos mistérios iniciáticos o azeite também é conotado com a “luz” que o recipiendário recebia nos variadíssimos ritos e rituais, de iniciação e consagração de templos.
Enfim a tradição já não é o que era, parafraseando uma frase de marketing.
Seja como for, a noticia, ainda que difusa, de uma estrutura romana, não espanta quando sabemos que a ocupação do solo remonta á milhares de anos, como o testemunham as antas, muralhas em pedra, a que se junta tecnologia árabe, tudo aqui em Famões.
Já mais identificável é o antigo depósito de leite, cujo estado de avançada degradação levou a que fosse inteiramente restaurado, segundo julgo saber, pelo município.
Recordo, vagamente, quando miúdo, o modo como se fazia a distribuição do leite por estas bandas, havia uns vendedores ambulantes com aquelas jarras de metal cinzentas, de porta em porta, vendendo leite, sempre fresco.
O depósito do leite servia para ali se recolher o leite vindo do produtor, e depois distribuído pelo tal vasilhame cinzento, levado de porta em porta, mas também se podia transacionar o leite no depósito a quem lá fosse com vasilhame próprio.
Hoje, o depósito ostenta, envergonhadamente uns grafites que uns imberbes resolveram conspurcar.
Este testemunho arquitetónico merecia um pouco mais de atenção, e melhor seria, para todos, se passasse para a propriedade da União de Freguesias de Pontinha e Famões, para assim se lhe dar a dignidade que se impõe.
Por falar em testemunho arquitetónico, ainda que recente, é incontornável falar da COMETNA. Esta importantíssima empresa, criada em 1962, para suceder a uma outra criada em 1898, integrou o grupo Champalimaud, e dedicava-se á produção do aço, em Famões, e a fundição, e os seus altos fornos eram os únicos, na região de Lisboa, que os alunos das engenharias da universidade independente tinham para visitar, o que acontecia com frequência.
O que levou a COMETNA a instalar-se em Famões, desalojada que foi da inicial instalação na Amadora e Palmela, foi a poluição que gerou naqueles locais tornando insustentável a sua laboração.
Ora, ao instalar-se em Famões, rapidamente os malefícios poluidores da sua laboração se fizeram sentir, tendo sido objeto de muita revolta no seio da vizinhança da fábrica, sendo o seu principal detrator o conhecido sr. Mota, apelidado de cientista, bruxo, e mais alguns predicados, que não tinha nenhum problema em denunciar a situação junto de todas as autoridades publicas e politicas, desde a Presidência da República ao Governo passando pelas autarquias.
Encerrou em 2004. A instalações forma compradas pela “Ambimobiliária, investimentos imobiliários SA”, e falou-se, com algum estrondo, na instalação de um Pólo Tecnológico e Empresarial, para acolher várias empresas, e até se falou num Pólo universitário … lembro-me bem do vídeo promocional, que prometia uma revolução no local. Enfim, não aconteceu.
Hoje aquela antiga unidade industrial, é um conjunto de armazéns, que ocupa uma área generosamente grande. Pelo movimento de camiões de distribuição, percebe-se que ali funciona empresas de distribuição, entre elas os CTT.
Já um outro testemunho importante, e que se recomenda, é o Jardim Botânico de Famões, situado no bairro de são sebastião.
Uma estrutura destas é sempre uma mais valia a vários títulos, para a população local, residente, para quem nos visita, mas sobretudo para as populações escolares, de todos os níveis de ensino, que têm no jardim botânico um prazeroso espaço de “aula”, para conhecerem as espécies botânicas ali representadas.
Isto só foi possível porque o vereador da câmara municipal de Odivelas, com o pelouro do ambiente, á época, era ele próprio professor de biologia, dos quados da escola Braancamp Freire, da Pontinha, e que como eleito local, fosse na junta de freguesia de Famões, primeiro, fosse como vereador, mais tarde, soube colocar ao serviço dos cidadãos as suas competências especificas. É de louvar. O nome dele é Carlos Bodião.
Oliveira Dias, Politólogo
Publicado na revista NoticiasLX: