As recentes decisões do Presidente americano, o republicano, Donald Trump, tomadas na sala oval, da casa branca, em Washington, D.C. (District Capital, conferindo a esta cidade o estatuto idêntico aos dos Estados da federação americana) são muito semelhantes àquela imagem do elefante numa sala de cristais, e a irónica coincidência, do elefante ser o símbolo do partido republicano, na américa, é notável.
O mundo, para o Presidente da federação de estados americana, é um jogo, e um tabuleiro a mesmo tempo. E no jogo não há amigos, apenas existem interesses, e contrapartidas.
Já ele dizia a Zelensky “you d’ont have the cards”, que é como quem diz, dita as regras quem tem as cartas.
Em qualquer manual do tipo “Gestão para Tótós”, encontramos “leis” cuja aplicação é bem real, e uma das que mais encontro por aí, e Trump é um exemplo disso mesmo, é a máxima que sentencia: “quem apenas tem, como ferramenta de trabalho, um martelo, todos os problemas lhe parecerão pregos”.
Assim está Trump, que como habilidade instrumental apenas tem a capacidade negocial nos negócios, tudo á sua volta no planeta se lhe assemelhará a bons negócios ou maus negócios. O seu mundo é assim, dual, como a linguagem máquina de 1 e 0.
Chegam-nos noticias de ganhos, em bolsa, absolutamente milionários, com um simples twit de Trump.
Em Portugal, o senhor tinha já o MP á porta da Trump Tower, ás sete da manhã, mas lá nos states “it’s the game”.
Para além da óbvia sensação de bullying que o mundo sente, perante estas “brincadeiras”, o que nos entra pelos olhos dentro é algo que já se fazia sentir há muito tempo, embora com outras designações, que é o retorno do Proteccionismo, comercial, económico e até financeiro, neste caso por causa do dólar.
Lembremo-nos, quando a ainda CEE (comunidade económica europeia) praticava o armazenamento dos excedentes agrícolas de cada País, com enormes custos que essa logística impunha, porque não se podia impor aos estados-membros a não produção agrícola (não ficava lá muito bem), por exemplo algo como “Portugal, Espanha, Itália, França, etc, não cultivem batatas, porque aqui a Holanda é o epitome da batata e tem de a escoar” alguém teve a brilhante ideia de propor a concessão de subsídios aos países que se abstivessem de o fazer.
Com um tiro matava-se dois coelhos, se por um lado desaparecia a dor de cabeça com a logística do armazenamento de produto, por outro era mais fácil financiar a abstenção produtiva, os agricultores ficavam felizes, dinheiro em caixa para nada fazerem, e a holanda virava o fornecedor da CEE daquele produto.
Foi assim com agricultura, com a lavoura, com as pescas com a indústria, e por aí fora.
Ora isto era uma forma de proteccionismo, para os países que apostavam na produção em quantidades industriais de certos produtos.
Por essa razão, nos nossos pontos de venda das grandes superfícies, podemos encontrar toda uma panóplia de produtos alimentares e não só, cuja origem não é nacional, e a que há, é muito mais cara, logo preterida pelo consumidor, pois o consumidor não tem “nacionalidade”.
Ao nível dos países é a mesmíssima coisa.
Se olharmos para a história dos Estados Unidos da América, basta ver o quanto beneficiou, com as duas grandes guerras, não porque as tenha estimulado de alguma maneira, não, esse pecadilho foi sempre responsabilidade alemã, mas sim com fornecimento, primeiro, de materiais de guerra, armamento, maquinaria, para o esforço de guerra da europa, a par de bens essenciais para a depauperada industria europeia para o básico, e depois das guerras, a reconstrução, plano Marshall, etc, e tudo com retorno de mais valias enormes. Ou seja, os Estados Unidos da América só produziam para o esforço de guerra da europa.
E não só … nem vou abordar a “esquecida” questão do ouro confiscado pelos americanos aos nazis e aos japoneses. Tudo despojos de guerra.
A América fornecia o mundo, em quase todas as áreas, e o mundo agradecia. O fluxo monetário durante séculos fluiu entre o continente americano e a europa.
Maus hábitos. Durante o século XX outros mercados começaram a despontar, chamavam-lhes “mercados emergentes”, países a produzir o mesmo que os americanos produziam, concorrência global.
O aço, o petróleo, a indústria alimentar, indústria automóvel, aeronáutica, a criação de gado, a agricultura em larga escala, deixou de ser o exclusivo americano.
Ao dogma do mercado livre e livre comércio, que tanto jeito dava aos produtores quase exclusivos do planeta de muitas comodidades, porque isso lhes permitia colocar além fronteiras os seus produtos, e até, imagine-se, exportar o desemprego, garantindo pleno emprego intra-muros, opunha-se o proteccionismo, praticado por alguns vetustos países, que paulatinamente foi-se esfrangalhando ao longo dos tempos.
Mas, quando toda a gente (China, Índia, Países Árabes, BRICS e etc) se põe a seguir os exemplos dos maiores, naturalmente os grandes começam a ficar preocupados.
Trump, preocupado com a disseminação do controlo do mercado livre, chegou á conclusão que é preciso, agora, abraçar o ideal do proteccionismo.
A questão é saber se a moda pega, e se pegar, se vamos regressar á idade das trevas, como se apodou a idade média, em que os países se fecharam ao exterior.
Já agora qual foi a nação que rompeu com isso, e por isso até dizem que foi ela a começar a globalização?
PORTUGAL.
Oliveira Dias, Politólogo
Publicado na revista NoticiasLX: