As imagens dantescas que os portugueses maiores viram em 1967 – onde os números oficias reportaram 462 mortos – caem no esquecimento com o avançar dos anos. A maioria dos políticos da actualidade não eram nascidos, mas mesmo que os seus pais e avós lhes recordem, são tão imprudentes que não interiorizam.
Embora à distância de 1.500 quilómetros e 58 anos depois das cheias de Lisboa, existem imagens que não se esquecem e pior, as que vivi recentemente aqui em Espanha com o diluvio na Comunidade Autónoma de Valência, a 29 de outubro passado, onde perderam a vida 224 pessoas. Então, chegaram a cair do céu 445,4 mm de chuva em menos de 24 horas. E só 343 mm caíram em apenas 4 horas.
Finalmente devemos juntar as profecias do final de 2024 que sugeriram – e houve quem garantisse, em pleno círculo das instituições europeias – que 2025 seria um ano de seca extrema, no Sul da Europa. Naturalmente – por que o ‘movimento Woke’ impõe que assim seja – resultado do aquecimento global, sempre e só por causa das emissões de CO2 dos escapes dos automóveis com propulsão térmica. Isso mesmo, os ecologistas de meia tijela ignoram os 100.000 voos comercias diários, as emissões de gases das fábricas, a exploração dos metais raros e o astronómico consumo de água para alimentar a fúria da electrificação a 100% e a tecnologia da comunicação digital. Também fingimos que não existe uma crise meio ambiental com os desperdícios do plástico e da descoberta, em 1997, realizada pelo oceanógrafo estadunidense Charles Moore, da ilha do plástico do pacífico que já atinge mais de 1,5 milhões de quilómetros quadrados segundo um estudo da revista Nature, relativo a observações de 2023, que calcula que se encontram concentradas, pelo menos, 80 mil toneladas de plástico.
Nunca se preparou o território a Nordeste da Área Metropolitana de Lisboa. Continua-se a admitir construções em leito de cheias. Manipularam-se as recomendações da Agência Portuguesa do Ambiente para conseguir fazer aprovar o primeiro Plano Director Municipal (PDM) de Odivelas que aconteceu na Sessão Extraordinária de 2015, de 29 de junho. Recordo que se impunha aprovar o documento por estratégia e deixar de ter Odivelas vinculada à gestão territorial da era anterior à constituição do concelho, ou seja, da que foi estabelecida pela autarquia de Loures
Antes, perguntava: como foi possível autorizar a construção na Rua Augusto Alexandre Jorge, contigua ao Rio da Costa, assente literalmente em leito de cheia e que, no essencial faz de barragem às águas pluviais que escorrem do Bairro da Memória, que se situa na cercadura da Avenida D. Dinis e na Rua dos Bombeiros Voluntários. Também não esquecer as inundações nas que ocorrem invariavelmente, nas Patameiras, principalmente nos pisos térreos das ruas Filipa de Lencastre e Nuno Montemor.
Já em Loures, assustei-me com a autorizou de construir a Urbanização do Infantado e o Loures Shopping, onde antigamente existiam algumas das maiores hortas do vale e da Várzea de Loures e da Área Metropolitana de Lisboa. Era a porta da “região Saloia” que abastecia os mercados lisboetas Aí, assisti à facilidade como se inundavam alguns espaços dedicados a garagens dos edifícios durante a construção de alguns imóveis.
Agora, fechem os olhos e imaginem o que podia suceder se tivesse chovido 100 ou mais litros por metro quadrado em menos de 1 hora?
Seguramente, ouviríamos os líderes políticos autárquicos desculparem-se com a divina providência da natureza porque a culpa é sempre de outros e acaba por morrer solteira nas sociedades contemporâneas, onde a maioria não aporta grande cultura geral e a mediocridade acaba por se impor. Infelizmente é assim e será nas democracias do centro e Sul da Europa, onde os mais sábios são sinalizados como hostis; onde não se promove a meritocracia, aproveitando o investimento que se faz no ensino técnico superior e na investigação. A Ocidente, muitas governanças insistem nas crenças em vez de se debruçarem nas evidências.
– Texto por José Maria Pignatelli (Texto não está escrito ao abrigo do novo acordo ortográfico)