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PORTUGAL ‘AB INITIO’

PORTUGAL AB INITIO 1. O “Ius Impérie” ou “Jus Impérie” de Portugal. Portugal é, como sabemos, a nação que há mais tempo tem as suas fronteiras...
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PORTUGALENSIS PAPUM

Ter um Papa, é decisivo, sempre foi, porque mais que um líder da sua igreja o Pontífice (do latim Pontifex – aquele que lança pontes), é quem estabelece pontes para lá dos muros, alarga os horizontes, e a sua mensagem vai mais longe.

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Na semana em que vi partir o quarto Papa, desde que sou nado, [a contagem iniciou-se com Paulo VI, Italiano, Papa de 21 de julho de 1963 a 6 de agosto de 1978 (15 anos e 46 dias de pontificado), a quem se lhe seguiu João Paulo I, Italiano, Papa de 26 de agosto de 1978 a 28 de setembro de 1978 (33 dias de pontificado), sucedido por João Paulo II, Polaco, Papa de 16 de outubro de 1978 a 2 de abril de 2005 (26 anos e 168 dias de pontificado), sucedendo-lhe Bento XVI, Alemão, Papa de 19 de abril de 2005, a 28 de fevereiro de 2013 (7 anos e 315 dias de pontificado, e agora Francisco, Argentino, Papa de 13 de março de 2013, a 21 de abril de 2025 (12 anos e 30 dias de pontificado)] impõe-se, naturalmente, o Papado e tudo quanto á volta dele gravita, como tema incontornável do momento.

Daqueles 4 Papas, só João Paulo I não visitou o nosso País, pois o seu curtíssimo pontificado (33 dias) não o permitiu.

Paulo VI, visitou Portugal em 1967, já eu por cá andava, mas confesso não me recordo dele, excepto na sua morte. A morte de um Papa é sempre um acontecimento noticioso planetário.

João Paulo II, foi o que mais vezes esteve entre nós – 1982, 1991, e 2000 – tendo tido um impacto, pessoal, muito especial, a sua primeira visita. Estando a trabalhar em alcântara, numa operadora portuária, acompanhava com curiosidade o sobrevoo de um helicóptero que cobria o percurso do Santo Padre, que se deslocava em viatura descapotável, para o estádio do belenenses onde iria encontra-se com jovens, e percebi que iria passar mesmo perto do local onde estava, na avenida das índias. Larguei tudo o que estava a fazer e corri para o local. Queria ver o Papa. Nunca tinha visto um, á distância de dez metros. O cortejo passa por mim, e por outras pessoas que se juntaram ali, o Santo Padre olha para nós e benzeu-nos, com um sorriso nos olhos, era o Papa do sorriso. Ainda hoje não consigo explicar a descarga de emoções que esse momento me proporcionou.

O Papa João Paulo II era tão próximo da juventude que em 1985 criou as “Jornadas Mundiais da Juventude”, que recentemente levou o nosso País á glória, por dois motivos, foi uma das melhores realizações do Papa Francisco, e a sua última jornada da juventude.

Também foi João Paulo II, o Papa peregrino, o que levou a mensagem, o evangelho, a mais países no mundo. SE houve um Papa missionário, pois, para mim, foi ele, os que se lhe seguiram limitaram-se a seguir as suas pisadas.

Outra marca da maior importância para Portugal de João Paulo II, foi a beatificação dos pastorinhos Francisco e Jacinta, algo que culminaria com a canonização já com o Papa Francisco. Um Papa ímpar.

O Papa Bento XVI, sucedendo a João Paulo II, canonizou um nosso herói nacional, D. Nuno Álvares Pereira, como Santo D. Nuno de Santa Maria, e visitou Portugal em 2010, mas já antes aqui estivera como Cardeal Ratzinger, em Fátima, várias vezes, até porque coube-lhe a ele interpretar o terceiro segredo de Fátima, e isso levou-o a ter várias conversas com a irmã Lúcia, a última sobrevivente dos 3 pastorinhos.

Uma curiosidade sobre este Papa, tem a ver com a sua resignação, algo inesperado e que não se via há séculos. Um grande autor, investigador histórico, entre muitas coisas, por quem nutro a maior das admirações, Rainer Daenhardt, contava-me, que ao estudar as vidas dos Papas, descobre que 5 Papas originários da Alemanha, morreram assassinados, envenenados. O Vaticano sempre teve problemas e máfias difíceis de debelar, e Papas houve cuja morte está envolta em mistérios e desconfianças. Os Papas alemães contavam-se nessa lista de mistérios. Rainer apressou-se a dar nota epistolar disso ao Papa Bento XVI. Posteriormente, um dia, na sua quinta de Belas, recebeu o Núncio apostólico em Portugal, que lhe entregou em mão uma missiva de Ratzinger, onde um enigmático texto dizia – não é só por morte que se deixa a cadeira de São Pedro. Uns tempos depois, sem que ninguém o esperasse, o Papa Bento XVI anunciou formalmente ao mundo a sua resignação.

E foi assim com um Papa emérito, que o Papa Francisco, iniciou o seu pontificado, tendo visitado o nosso País em 2017, por ocasião do centenário de Fátima, oportunidade para a canonização como acima referi, dos pastorinhos, e mais recentemente nas jornadas mundiais da juventude em 2023. Dele se diz ter sido próximo da juventude, porque são o futuro, e um peregrino. Diria ter sido um fiel continuador de João Paulo II.

O território português, ao longo da história, viu chegar á cadeira pontifica, 3 Papas, pese embora só se fale e celebre apenas Pedro Hispano, lisboeta, com o nome de batismo Pedro Julião Rebolo, ficou para a história como Papa João XXI, em 1276, cujo pontificado durou somente 8 meses, quando o teto do seu quarto desabou sobre ele e o matou. Era médico pessoal do seu antecessor Gregório X, pois mal se conta com Gregório XI, que sucedendo ao gregório X, morreu 1 dia após usar a tiara papal. Reconhecido médico, professor de medicina, lógica, aritmética, e física, escreveu várias obras naqueles domínios, de que destaco a “Thesaurus Pauperum” (“tesouro dos pobres”), traduzida em vários idiomas, contendo soluções médicas, das quais se socorreu Miguel Ângelo, quando os seus olhos falharam ao pintar a capela cistina.

Mas muito antes dele temos São Dâmaso I, nascido em Idanha-a-Velha, no século IV, esta na altura integrava a província romana da Lusitânia. Eleito papa em 366, a ele se deve o ter ordenado, a São Jerónimo, a tradução da Bíblia, para latim, então escrita em aramaico, tendo ficado conhecida como a “Vulgata”, ou seja, a bíblia vulgar, para que todos, os vulgares, os villões, o povo, a entendessem. Isso teve um impacto absolutamente extraordinário no mundo conhecido de então e de hoje. Equivale, em termos de paralelismo histórico nacional, ao que fez Dom Dinis, quando determinou que os documentos da chancelaria real fossem grafados na língua que o povo falava – o Galaico-Português – ao invés de somente em latim, a que só os clérigos tinham acesso. O que falamos hoje, é disso uma consequência dessa decisão.

Porém, entre o “português” do norte de Portugal, São Dâmaso, e o português de Lisboa, João XXI, temos ainda Maurício Burdino, oriundo da Aquitânia, que ficou para a história como Papa Gregório VIII, tendo sido Bispo de Coimbra, e por instâncias do Conde Dom Henrique, pai do nosso primeiro Rei, arcebispo de Braga, notabilizou-se pela afirmação da Sé de Braga, libertando-se do jugo da Sé de Toledo, (germinava já a semente da Independência do Condado Portucalense), e ao ser enviado, pelo Conde Dom Henrique, á corte do poderosíssimo Imperador Henrique V, foi, por este, designado Papa, em oposição ao Papa Gelásio II, que fugira de Roma, deixando a cadeira de São Pedro vacante, a quem se lhe seguiu, no exilio, após a sua morte, Calisto II, que logrou inverter as coisas a seu favor, com o beneplácito do Imperador, fruto de contingências de uma época em que os Papas e anti-Papas, soçobravam aos interesses dos poderosos. Gregório VIII, foi uma das vítimas desse tempo, ficando para a história como mais um Anti-Papa, após ter conduzido um pontificado de 3 anos para mais de metade dos reinos cristãos da época.

Na vacatura pontifica da cadeira de São Pedro, todas as nacionalidades almejam, ainda que secretamente, ver um dos seus cardeais ser o escolhido em conclave (fechado á chave), anunciado pelo fumo branco da chaminé do mesmo, depois de vários fumos negros, um por cada votação inconclusiva, condição para a porta ser aberta.

Este ritual, sobejamente conhecido, foi instituído quando num passado muito distante, e face á indecisão na escolha de um Papa, a população local fechou os bispos (não havia ainda cardeais) numa sala, fechou-os á chave, e informou-os, de que por cada votação inconclusiva deveriam fazer fogueira expelindo fumo negro, e quando finalmente chegassem á escolha do Papa, deveria sair fumo branco, e assim abriam as portas para saírem.

Ter um Papa, é decisivo, sempre foi, porque mais que um líder da sua igreja o Pontífice (do latim Pontifex – aquele que lança pontes), é quem estabelece pontes para lá dos muros, alarga os horizontes, e a sua mensagem vai mais longe.

Aquando a eleição de Ratzinger, como Papa Bento XVI, havia rumores de ter sido uma eleição disputada, com Mário Bergoglio, e também, com D. Policarpo, Cardeal de Lisboa á época. O Cardeal lisboeta, segundo esses rumores, não confirmados, nem infirmados, alegadamente tinha a desvantagem de só falar fluentemente, para além do português, também o latim, o italiano e o francês, faltava-lhe o inglês.

Nunca se saberá, uma vez que o que se passa no conclave é segredo.

Actualmente existem 6 cardeais portugueses, 2 não eleitores, por causa da idade, D. José Saraiva Martins e D. Manuel Monteiro de Castro, ambos com vastíssima experiência nos governos do Vaticano, com imensa influência e desempenhos extraordinários em vários pontificados, pena não puderem ir a jogo.

E 4 eleitores, e por isso “papibili” como certa imprensa diz, são eles, D. Américo Aguiar, o mais novo, ascendeu ao estrelato com o sucesso da organização das Jornadas Mundiais da Juventude de Lisboa; D. António Marto, que recebeu em Fátima, onde era reitor do santuário, dois papas, Bento XVI, e Francisco; D. José Tolentino Mendonça, o madeirense promovido a Prefeito do Dicastério para a cultura e educação, foi responsável pela biblioteca e o arquivo secreto do Vaticano, encarregado por Francisco de organizar exercícios espirituais para a Cúria Romana; e D. Manuel Clemente cujo mandato em Lisboa não lhe foi favorável por causa do tema da pedofilia na igreja.

Adentrando no mundo da especulação, e se a pátria lusófona, com o peso da sua língua comum, a presença em geografias dispersa por quase todos os continentes, aliada a uma proximidade que aparentemente os portugueses têm sobre os demais da lusofonia, seja pelo sucesso das jornadas mundiais da juventude, seja pelo peso do culto mariano, que trouxe a Fátima 3 Papas, seja pelo facto de como Prefeito de um Discatério, e funções governativas de relevo no Vaticano, arriscaria a dizer que o madeirense, nas suas funções discaterianas, tem muito mais “mundo” que os restantes, e certamente trata por “tu” muitas centenas de cardeais eleitores … Nunca se sabe, se não virá por aí um PORTUGALENSIS PAPUM.

Oliveira Dias, Politólogo

Publicado na revista NoticiasLX:

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Oliveira Dias - rajanioliveiradias@gmail.com
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Oliveira Dias, Politólogo, com diversa obra publicada sobre Poder Local, foi jornalista com mais de 4 centenas de artigos publicados, em diversos órgãos de comunicação social nacionais e estrangeiros.