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Cartilha de Generalidades

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Cartilha de Generalidades

Estamos em pleno período de eleição para a Assembleia da República (Legislativas 2025).

Nesta fase estamos no auge da Campanha Eleitoral, onde aos eleitores, as diferentes sensibilidades políticas devem apresentar ao que vêm, i.e., o que desejam promover acaso sejam eleitos.

Para o efeito, é necessário (1) ter ideias perante os desafios, i.e., capacidade de sonhar filtrado com o necessário conhecimento técnico-científico que garanta a viabilidade do sonhado; (2) debater internamente nas estruturas políticas a concurso o que se vai propor ao eleitorado; (3) a síntese das duas etapas anteriores traduzir-se-á na Proposta Inicial de Programa Eleitoral a sufragar; (4) divulgação junto dos eleitores dos respectivos programas com disponibilidade para também ouvir os eleitores e assim produzir o Programa com estes conciliado e certamente melhorado; (5) finalmente o debate destes Programas consolidados com os outros projectos políticos a concurso.

Naturalmente, que numa democracia adulta e racional, chegados a este ponto os cidadãos poderiam escolher – ao fim e ao cabo é isso que significa votar – racionalmente e firmes no que é apresentado, podendo assim o próprio cidadão ser um observador actuante do cumprimento do sonhado e prometido por cada projecto político. Por esta altura tenho consciência de que alguns dos que me lêem devem estar a um passo de desistir de ler a reflexão que aqui trago, pois para já, alguns pensarão que sou um “menino” ingénuo. Dêem-me mais um pouco para que possa explanar o motivo porque titulei este texto de “Cartilha das Generalidades”.

Seria estranho ter ultrapassado meio século de vida e ainda não tivesse percebido que nada disto é feito, por ninguém. Pois, mas permitam-me, numa democracia que se quer adulta, este deveria ser o mote, todavia quando finalmente vemos os partidos envolvidos neste processo eleitoral já vão na etapa 5 (vide acima), mas como não percorreram as etapas anteriores e teimam em desconhecer com extremado fervor o que preocupa as populações e podem, no conforto das suas torres de marfim, com a ajuda de alguma media, impingir-nos necessidades inexistentes, ou mal estruturadas sempre pela rama atiram-se a generalidades.

Sim, os processos eleitorais reiteradamente têm sido períodos de retorno da Cartilha de Generalidades. Generalidades essas, que nalguns casos não passam do mero diagnóstico macro do que julgam afectar-nos, sendo que nestes casos, é comum o diagnóstico vir acompanhado de estridente gritaria que se resume a isso mesmo, ruído inconsequente.

Noutros casos, as macro-questões, além do diagnóstico surgem acompanhadas de ideias de como-fazer, como-resolver, que visam consolidar diferenças no espectro político tendo por base questões doutrinárias, embora importantes, tendem a olvidar e a suplantar as necessidades reais a suprir.

Não é por acaso, que a resolução de temas como a Saúde são reduzidos ao “vamos fazer mais hospitais e contratar mais pessoal”, deixando-nos a pensar como nos trataremos hoje, pois nem um hospital, nem os técnicos de saúde necessários se fazem de um dia para o outro, mesmo quando alguns nos dizem que utilizarão o que existe fora da esfera do Estado, sem que se escreva uma linha que aponte para os impactos de tal sobre o SNS e sobre as contas públicas.

Cartilha de Generalidades

No domínio da habitação o cenário é idêntico, onde num esforço quase demente se procura fazer esquecer o que nos fez chegar ao actual ponto de situação, sendo que tal nos conduz ao nada fazer para estancar a especulação gerada. No dossier da segurança os populistas de formulação fascista criaram uma agenda logo abraçada por muitos dos restantes, deixando-nos perante o abismo das soluções trumpistas que em tudo contrariam o nosso abrilismo.

É no domínio da mobilidade e dos transportes que me indignarei com maior ênfase nesta reflexão. Já que o espectro político não toma a iniciativa nem do debate prévio aos Programas com as populações, nem sair das generalidades, o Movimento de Cidadãos “Contra o Fim da Linha Amarela“, recentemente dirigiu uma Carta Aberta a todas as forças políticas listadas pela Comissão Nacional de Eleições (ver aqui), em devido tempo noticiada pelo NotíciasLx (ver aqui), suscitando a todos que se posicionem e expressem o que pensam fazer face à problemática de corte da Linha Amarela do Metro de Lisboa.

Cartilha de Generalidades
Cartilha de Generalidades

Até ao momento, nada foi respondido aos cidadãos deste Movimento, nem tão-pouco aos cerca de 800.000 cidadãos afectados por este malfadado projecto que claramente prejudicará a mobilidade da zona a norte e a norte da cidade de Lisboa. Não se pode dizer que se quer estimular a política participativa, i.e., a cidadania activa e depois a praxis contrariar esta dialéctica e ignorarem-se aqueles que se dirigem ao espectro político.

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Recordando, os argumentos apresentados para justificar a Linha Circular continuam a ser falsos ou enganosos, pois sustentam-se em teses como:

→   A Linha Circular permite aumentar as frequências (número de comboios por intervalo de tempo, ou seja, o contrário do espaçamento temporal médio entre comboios). É falsoA frequência não depende da forma da Linha, mas da disponibilidade de comboios e maquinistas, i.e., as mesmas frequências podem obter-se com as Linhas existentes.

→   A Linha Circular melhora a ligação da Linha de Cascais, no Cais do Sodré, ao eixo central da rede do Metro (percurso de Entrecampos ao Marquês de Pombal). É verdade, mas omite que a ligação do Rato a Alcântara-Mar também melhoraria essa ligação, seria mais barata (se a ligação a Alcântara Mar fosse em viaduto como seria desejável), e mais eficiente, porque reduziria o tempo total de percurso, por eliminar o trajecto de Alcântara ao Cais do Sodré na linha de Cascais.

Além disso a defesa da Linha Circular omite o efeito nefasto do transbordo adicional na estação do Campo Grande para a maioria dos passageiros que vêm do norte da cidade e de Odivelas, Loures e Oeste, bem como de Telheiras para o centro da cidade, sendo ainda que por tal se desincentivará o uso do transporte ferroviário, e dessa forma estimulará o uso do automóvel nos acessos da periferia ao centro de Lisboa, contribuindo assim para degradar o ambiente e as condições de mobilidade na Área Metropolitana de Lisboa (AML). Estes e outros argumentos são detalhados no vídeo disponível aqui.

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A construção de transbordos evitáveis está ser aplicada em toda a AML, conduzindo a uma rede ferroviária que é uma manta de retalhos ineficiente, apostada no interface ao invés de ligações fluídas, conforme se fundamenta aqui.

Durante a Audição Parlamentar descentralizada o Movimento de Cidadãos “Contra o Fim da Linha Amarela“, detalhadamente expôs as incongruências dos motivos apresentados e das consequências que virão a ocorrer se a Linha Circular não for travada.

Quando votar nestas Eleições Legislativas de 2025 pense nisto: Escolherá a Cartilha Generalista ou o Programa que se preocupa consigo, que o/a ouve e que decide no sentido da melhoria da sua qualidade de vida?

Paulo Bernardo e Sousa

Politólogo

Porta-Voz, do Movimento de Cidadãos “Contra o Fim da Linha Amarela

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Paulo Bernardo e Sousa Politólogo Porta-Voz, do Movimento de Cidadãos "Contra o Fim da Linha Amarela"