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O Voto Útil: Estratégia ou Última Esperança?

Mas o que é, afinal, o voto útil? Não é um voto mais valioso do que os outros. É uma escolha ponderada, muitas vezes feita por eleitores indecisos, apartidários ou desiludidos com o sistema político. É o voto de quem, à última hora, decide não votar em quem mais acredita, mas em quem tem mais hipóteses de travar uma opção que considera indesejável ou de garantir estabilidade política. É um voto pragmático, por vezes feito contra alguém, mais do que por alguém.

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Lurdes Gonçalves
Lurdes Gonçalves
– Lurdes Gonçalves Gestora de Empresas | Especialista em Economia Social

O Voto Útil

Em vésperas de eleições legislativas, o conceito de voto útil regressa ao centro do debate público. Desde o 25 de Abril de 1974, quando os portugueses se dirigiram às urnas com entusiasmo e esperança, muita coisa mudou. Se nas primeiras eleições livres se formaram filas longas e se viveu um envolvimento emotivo com a democracia, nas últimas décadas, a abstenção foi ganhando terreno — a ponto de, em muitos atos eleitorais, ser mais “votada” do que qualquer partido.

Contudo, algo mudou nas legislativas de 2024: a taxa de abstenção desceu para 33,8%, a mais baixa desde 1995. Este dado não pode ser ignorado. Uma das explicações para esta inversão é a crescente influência do voto útil — uma forma de participação estratégica que, apesar de controversa, devolve centralidade ao eleitor.

O Voto Útil

Mas o que é, afinal, o voto útil?

Não é um voto mais valioso do que os outros. É uma escolha ponderada, muitas vezes feita por eleitores indecisos, apartidários ou desiludidos com o sistema político. É o voto de quem, à última hora, decide não votar em quem mais acredita, mas em quem tem mais hipóteses de travar uma opção que considera indesejável ou de garantir estabilidade política. É um voto pragmático, por vezes feito contra alguém, mais do que por alguém.

Nas eleições de 2024, por exemplo, a Aliança Democrática (AD) venceu com 28,8% dos votos, seguida muito de perto pelo Partido Socialista (PS), com 28,0%. A curta distância entre ambos demonstra o peso real de cada voto e, sobretudo, o impacto que os indecisos e os votos de última hora podem ter.

Neste contexto, o voto útil deve ser visto como uma expressão de poder individual. Longe de ser uma rendição ao sistema, pode ser interpretado como um protesto inteligente um voto que resiste à abstenção e procura ainda influenciar o rumo do país. O eleitor, mesmo desiludido com as opções disponíveis, recusa cruzar os braços e joga com as regras do jogo para fazer a diferença.

Este fenómeno revela uma forma mais sofisticada de participação cívica. Num país onde o número de indecisos pode superar o eleitorado de partidos estabelecidos, o voto útil surge como um gesto de maturidade democrática. Não substitui o debate profundo, nem resolve as fragilidades da política, mas reafirma o valor do voto como instrumento de influência e mudança.

Se a abstenção é uma desistência, o voto útil é um sinal de persistência. E talvez seja esse o maior contributo que este conceito pode dar à nossa democracia: recordar que, por mais imperfeitos que sejam os sistemas políticos, o voto continua a ser a arma mais poderosa do cidadão comum.

– Lurdes Gonçalves

Gestora de Empresas | Especialista em Economia Social

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