Por Redação | Ambiente | 24 de maio de 2025
Organizações da sociedade civil alertam para os riscos ambientais e sociais associados ao projeto da Mina da Lagoa Salgada, nos concelhos de Grândola e Alcácer do Sal, cuja consulta pública do Estudo de Impacte Ambiental (EIA) terminou a 30 de abril. O projeto visa a exploração subterrânea de metais como cobre, chumbo, zinco, ouro e prata, numa área de 1.649 hectares, e terá uma duração estimada de apenas 11 anos.
Entre as preocupações centrais está o planeamento da utilização de cianeto de sódio no processamento do ouro — substância altamente tóxica, com riscos amplamente reconhecidos. Apesar de existirem alternativas tecnológicas no mercado, os promotores justificam a escolha por razões técnicas e económicas, o que, segundo os críticos, é inadmissível sem garantias sólidas de segurança.
As associações ZERO, FAPAS, GEOTA, SPEA, Proteger Grândola e a Associação de Agricultores de Grândola denunciam o que consideram ser um uso abusivo do estatuto de Potencial Interesse Nacional (PIN), atribuído ao projeto em abril de 2022, como forma de contornar restrições legais e acelerar a sua aprovação, sem salvaguardar devidamente os impactes ambientais e sociais.
Três riscos hídricos críticos
As preocupações com os recursos hídricos são destacadas em três níveis:
- Falta de plano alternativo para escassez de água – A mina irá depender exclusivamente de água subterrânea, sem recurso a fontes externas, num volume médio de 864 m³/dia. Não há, no entanto, um plano B para situações de seca, o que pode pôr em risco tanto a operação como os ecossistemas.
- Possibilidade de escorrências ácidas – A presença de rochas potencialmente geradoras de drenagem ácida representa risco de contaminação duradoura da água, mesmo após o encerramento da mina.
- Contaminação por cianeto – O uso de cianeto no processamento de ouro é considerado perigoso, dado o potencial de acidentes e a ausência de medidas preventivas robustas.
Habitats frágeis e compensações florestais insuficientes
O projeto afeta habitats prioritários como os *charcos temporários mediterrânicos (habitat 3170)**, cuja análise foi considerada superficial. Além disso, prevê a perda de 32,5 hectares de sobreiros, com promessa de compensação futura através de plantações em Herdade da Nogueirinha — uma medida que produzirá efeitos apenas a longo prazo, e com eficácia incerta face às alterações climáticas.
As organizações alertam ainda para o fracionamento artificial do projeto, deixando de fora da avaliação pública infraestruturas complementares como a linha elétrica e a conduta de água, em clara violação do espírito da Avaliação de Impacte Ambiental (AIA).
Um modelo de transição energética em questão
As entidades subscritoras concluem que, num momento em que se intensificam os impactos das alterações climáticas, não é admissível promover projetos mineiros de curto prazo com elevado custo ambiental sob o argumento da independência energética. Acreditam que tal abordagem compromete a credibilidade e os objetivos da transição ecológica, e apelam a uma avaliação rigorosa e transparente de todos os projetos com impacte relevante.
Fonte: Zero.ong