10 de Junho Entre Celebração e Violência
“Cada um de nós é uma soma do nativo e do migrante, do europeu e do africano, do branco e do negro e de todas as outras cores humanas. Somos descendentes do escravo e do senhor que o escravizou.”
Palavras de Lídia Jorge no discurso em Lagos, no passado dia 10 de junho. Num dia em que celebrámos o dia de Camões, de Portugal e das Comunidades Portuguesas e os seus valores, mas continuar a testemunhar atos de violência em três eventos distintos, desportivo, político e cultural, faz disparar um alarme:
Até que ponto estamos a honrar verdadeiramente o que nos define como sociedade?
Foram registados incidentes de natureza desportiva, cultural e política. A violência, independentemente da sua forma ou contexto, não pode ser relativizada. Não é aceitável nos estádios, nas ruas, nas celebrações públicas ou nas redes sociais. O seu impacto é profundo e corrosivo. Por isso, é urgente adotarmos, enquanto sociedade, uma postura de tolerância zero.
A justiça portuguesa tem de agir com celeridade e firmeza. O silêncio ou a lentidão institucional abrem espaço para a descrença, para o medo e pior para o ressentimento. A perceção de impunidade é terreno fértil para o crescimento de ideologias extremistas, que encontram eco sobretudo entre os mais jovens, muitas vezes desamparados e desinformados.
10 de Junho Entre Celebração e Violência
Ainda há poucos dias foi divulgado o mais recente Relatório Anual de Segurança Interna (RASI), revelando que os crimes de violência, com particular destaque para a violência contra mulheres jovens, aumentaram significativamente. Este dado não pode ser ignorado. Não se trata apenas de estatísticas, mas de vidas. De rostos. De futuros comprometidos.
As redes sociais tornaram-se terreno fértil para o discurso de ódio. A radicalização não acontece só em fóruns obscuros está à distância de um clique, de um vídeo partilhado, de uma conta que se torna viral. Os grupos extremistas sabem como operar, sabem como seduzir e manipular. E nós, enquanto cidadãos, instituições e comunicadores, não podemos continuar a assistir de braços cruzados.
Os decisores políticos vieram rapidamente a público condenar os atos de violência, como seria de esperar. Mas as palavras, por si só, não bastam. É urgente que essa condenação se traduza em ações concretas: medidas preventivas, reforço de recursos para as forças de segurança, proteção real das vítimas e políticas públicas que combatam o discurso de ódio, sobretudo nas plataformas digitais. O combate à violência e à radicalização não pode continuar a ser reativo tem de ser estratégico, contínuo e eficaz.
O 10 de Junho deve continuar a ser um dia de orgulho. Mas para isso, precisamos garantir que os valores que celebramos nesse dia, liberdade, justiça, dignidade sejam protegidos todos os outros dias do ano. Não basta assinalar a data. É preciso defendê-la, todos juntos.
– Lurdes Gonçalves
Gestora de Empresas | Especialista em Economia Social
10 de Junho Entre Celebração e Violência