Programa do Governo XXV
Programa, Programa, Programa
Foi com a solenidade dos dias grandes — e a duração também — que o Primeiro-Ministro Luís Montenegro apresentou à Assembleia da República o Programa do XXV Governo Constitucional. A sala encheu-se de deputados, jornalistas e silêncios estratégicos. Afinal, tratava-se de revelar o plano que “o povo confiou e reforçou” — embora a geometria da confiança parlamentar continue a ser, digamos, de geometria variável.
O Primeiro-Ministro foi claro: Portugal tem rumo. O que, depois de várias comissões de inquérito, três eleições e um SNS em estado de pré-consulta, já é mais do que se esperava. Há uma Agenda Transformadora com dez reformas, da habitação à água, da fiscalidade à defesa. Um catálogo de boas intenções com cheiro a power point, mas sem a barra de carregamento visível.
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“Declaramos guerra à burocracia”, disse Montenegro.
Burocratas de todo o país tremeram.
Os carimbos da função pública começaram a bater mais devagar.
E alguém, algures numa conservatória, engasgou-se com um agrafo.
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Na economia, a promessa de cortar 500 milhões de euros em IRS até ao 8.º escalão foi recebida com aplauso tímido da maioria e crítica sonora da oposição. O contribuinte, que continua à espera do reembolso de 2022, espera sentado — mas com esperança.
Na segurança, o Governo aposta em mais GNR e PSP, porque não há nada como reforçar as forças para parecer forte. Na imigração, a revisão da Lei da Nacionalidade promete ser “humanista”, mas regulada. Como um abraço… com controlo de fronteiras.
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Na defesa, o compromisso com os 2% do PIB deu um ar marcial ao hemiciclo, e alguém na bancada do Chega confundiu “indústria nacional” com a retoma dos estaleiros de Viana — mas era só figura de estilo. Felizmente.
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Montenegro quis também mostrar que sabe ouvir: o Programa inclui 80 propostas da oposição. E garantiu que cumprirá a legislatura inteira — o que, em português político, significa “salvo moção de censura, coligação rebelde ou escândalo em pasta sensível”.
No fim, com humildade democrática, o Primeiro-Ministro deixou uma mensagem conciliadora: ao Governo cabe executar; às oposições, negociar. Um aviso? Um convite? Um desafio? Os deputados dispersaram-se com cara de quem ouviu tudo e concordou com quase nada.
Para já, fica a promessa de transformação.
Resta saber se será de Portugal ou apenas da agenda de eventos do Terreiro do Paço.
“A República às Sextas” regressa para a semana. Até lá, mantenha os papéis em ordem — a guerra à burocracia pode estar mais próxima do que pensa.
Programa do Governo XXV – A República às Sextas – Episódio de 21 de junho de 2025