Os Apartes do Senhor Jesus
A política regional tem destas coisas: uns debatem, outros insultam, e há sempre quem justifique com um dicionário. Esta semana, a Madeira voltou a entrar no mapa nacional — não pelo turismo, nem pelas lapas grelhadas, mas sim por um espetáculo digno de “praça pública”. Eduardo Jesus, secretário regional do Turismo, Ambiente e Cultura (e agora também da Retórica de Tasca), decidiu oferecer ao Parlamento madeirense um glossário de insultos que faria corar o próprio Sá de Miranda.
Enquanto a oposição expunha argumentos, o governante foi deixando cair pérolas como “burra do cara…”, “aquela gaja”, “bardamerda” e “palhaço-mor”. A quem se dirigia? A duas deputadas do PS e um deputado do JPP — embora, com este léxico, tivesse feito sentido incluir um animador de matinés em Câmara de Lobos.
Os Apartes do Senhor Jesus
Cultura Parlamentar ou Cultura de Café?
Confrontado com a verborreia, o secretário defendeu-se com o zelo de um gramático de bolso: os termos “estão no dicionário” e fazem parte do “léxico popular”. Se calhar também está lá “bardamerda”, embora o Priberam ainda esteja a recuperar da busca.
Mas não ficou por aí: explicou-nos, com ar professoral, que se tratava apenas de “apartes parlamentares”, prática ancestral das ilhas, da república e, ao que parece, de qualquer conversa entre vendedores de peixe. Entre o insulto e a etimologia, ficámos a saber que a agressividade, afinal, é uma figura de estilo.
O Pedido de Desculpas (com Manual de Instruções)
Depois da tempestade veio a brisa — ou, no mínimo, um vento de remorso. Eduardo Jesus lá pediu desculpa. Não por considerar o que disse errado, mas porque “não teve intenção de ofender”. A culpa, diz, foi do “entusiasmo” do debate. O mesmo entusiasmo com que alguns senhores tratam os empregados de mesa no Funchal em agosto.
Ainda assim, houve carta. Missiva formal enviada à Presidente da Assembleia, Rubina Leal, na qual o secretário explica que tudo decorreu da “tensão” e do “calor do momento”. Uma espécie de menopausa política, com afrontamentos verbais.
Os Apartes do Senhor Jesus
Do Plenário às Redes: A Viralização do Verbo
A RTP Madeira transmitiu o momento em direto. Depois vieram os vídeos, os cortes, os gifs, os memes e, claro, os protestos. O PS-Madeira entregou queixa formal. O JPP não ficou atrás. E a internet fez o resto: os insultos de Jesus tornaram-se trending topic, e nem era Natal.
Um Silêncio Gritante
E o PSD nacional? Silêncio. Talvez ainda a consultar o Houaiss, na esperança de encontrar “gaja” entre os epítetos parlamentares permitidos. Montenegro, o líder, optou por não descer à ilha — nem ao nível.
Os Apartes do Senhor Jesus
Epílogo: Se os Apartes Tivessem Classe
O Parlamento é casa de palavras — não de palavrões. E se é verdade que há uma certa indulgência para o aparte sarcástico, também é certo que há um abismo entre o espírito de Churchill e a língua de tasca. O senhor secretário pode continuar a insultar dicionários. Já o respeito pela democracia, esse, não tem entrada no léxico populista.
Dos Vídeos e do mais que só podemos imaginar
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