Não é preciso gastar uma fortuna para dispormos de um carro de corrida, um dos veículos mais disposto a ziguezaguear uma estrada de montanha; a subir ou a descer, de fazer inveja ao melhor dos grandes desportivos. Tenerife têm imensas estradas destas bem asfaltadas e sinalizadas que nos permitem vibrar sem abandonar os limites da segurança. A potência de 140 Kw, 190,4 cavalos, um binário de 250 Nm e um rácio peso / potência de 5,8 quilogramas por cavalo chegam perfeitamente para conseguir atingir a velocidade de 100 quilómetros por hora a subir, em menos de 6 segundos. É ¡entusiasmente!
Depois, junta-se a percepção de que a estrada é nossa – do condutor, entenda-se – porque estamos numa viatura com 3,7 metros, sentados num belíssimo banco Sabelt – bem ajustado, mas confortável – mais ou menos a um palmo do solo e com uma alavanca do selector da caixa de velocidades à altura do volante que não nos faz perder tempo, ou seja, podemos manter o braço à altura e ângulo do guiador. É como se estivéssemos sentados numa máquina de ralis, um WRC.
Estamos a bordo do Abarth 500 ‘695’ Biposto, proposto em 2019 para comemorar o 70º aniversário da marca, fundada pelo engenheiro ítalo-austríaco Carlo Abarth e pelos cofundadores Guido e Armando Scagliarini, em 1949. É, em todo, semelhante ao que serviu para comemorar o 75º dia de anos, em 2024, precisamente o último das versões térmicas. ¡Um fatalismo! Mas este modelo oferece um preceito tecnológico muito especial…
.A ‘cereja no topo do bolo’ do trem de força – o conjunto motor, transmissão, eixo de transmissão, diferencial e rodas – é a caixa de transmissão manual (padrão H de 5 velocidades) de competição tipo Dog Box da Bacci Romano, um cofre de engrenagens também designado de “dog-ring” ou “dog clutch“, que é um tipo de transmissão manual caracterizada por engrenagens que utilizam dentes volumosos e robustos – “dogs” -, em vez de sincronizadores, para enganchar as marchas. Assim, podemos trocar de marchas muito rapidamente – as crescentes até podem ser engatadas sem pisar a embraiagem -, embora se exija maior precisão e rigor… E dispõe de um exemplar diferencial de deslizamento limitado por sistema de discos. Como se impõe: Não há ABS; estimula-se a possibilidade de bloqueio, ou seja, a condução mais refinada e sábia. É possível atingir os 180 Km/h em cerca de 21 segundos. Esta versão consegue uma velocidade máxima estável de 230 Km/h.
Este é um 695 de competição mais civilizado que o primeiro Biposto – um 2 lugar – apresentado no Salão de Genebra de 2014. Já não é surpreendentemente espartano, radical como um carro de corrida que vimos na exposição Suíça de há 11 anos. É mais prazenteiro, confortável e elegante para um sexagenário:
- Mantém o ‘rollcage’, ou seja, a jaula anti-rolamento ou capotagem, de titânio realizada pela Poggipolini.
- Mas tem as portas com forras interiores, elevadores dos vidros eléctrico.
- Tem rádio, GPS e sistema de entretenimento, neste caso perfeitamente dispensável porque não falamos de um veículo convencional e onde se p+ossa perder tempo com acessórios.
- Os cintos de segurança Sebelt de 4 pontos foram substituídos por cintos convencionais de 3 pontos.
- Acrescentaram o recente dashlogger ou data logger MXL2 da AiM, instrumentação que fornece todas as informações necessárias muito utilizada em veículos destinados a pilotos profissionais e iniciantes. Trata-se de um produto dedicado a tornar a configuração e uso fácil para os condutores… É este o dispositivo que se encontra diante do condutor no espaço do tradicional velocímetro com apresentação em círculo.
- Incluíram lava-faróis luzes de presença e traseiras LED.
Os materiais são de boa qualidade ao toque: Há detalhes que não foram deixados ao acaso. Afinal, também se trata de um modelo que pode valorizar-se com o passar dos anos, dependendo da sua condição e manutenção, tanto mais que apenas se fabricaram 1.949 exemplares. Encontramos exemplares usados com preços entre os 29.990 e 58.000 euros, embora haja alguns que já valorizam até aos 70.000€ por causa dos equipamentos exclusivos que incluem. Detalhe não menos importante é o facto dos mais valiosos serem os que foram pintados em ‘verde Monza’, uma cor que notabilizou nos primeiros Abarth 500 de 1958 a 1960 que foram transformados pela marca num momento em que não pertenciam ao universo Fiat.
Estamos perante um modelo destinado a entusiastas da coisa automóvel, provavelmente assumido como segundo carro de uma família. Para aspirantes a grandes desportivos que se cansaram de só contemplar os automóveis de sonho. Este 695 acaba por ser uma fantasia, acessível, gratificante para quem sabe conduzir em modo menos defensivo e gosta de sentir potência, vibração e ouvir uma espécie de composição musical. Esta versão é um salto à frente da versão especial do modelo Abarth 695 do actual Fiat 500, que consagra os carros de corridas que ostentaram as insígnias da Gulf Oil que está na origem do meu artigo do passado dia 5 de maio, sob o título: “Para entusiastas, colecionistas… E fãs das decorações mais célebres” em:
A Abarth rendeu-se ao paradigma – despropositado – dos 100% electrificados e de Abarth apenas resta o nome… E o sistema de som que simula o típico ‘roncar’ do motor térmico com escapes Akrapovič.
A marca, adquirida pela Fiat em 1971, decidiu eliminar os motores a combustão, incluindo as versões híbridas, focando o esforço industrial exclusivamente em veículos eléctricos. Na Europa, o modelo é vendido em duas versões Abarth 500e e Abarth 500e Turismo. Ambas possuem motor de 113,7 kW (154,6 cavalos) e uma bateria de 42 kWh.
Encontram-se limitados a 155 Km/h.
Mas voltemos ao ‘nosso’ 2 lugares: Abarth aumentou os seus créditos. Não se esqueceu de adaptar o automóvel a mais de um tipo de condução: Há diferenças entre circular em vias urbanas, numa estrada de montanha ou numa autoestrada. Equipou o Biposto com amortecedores ajustáveis em carga e altura da Extreme Shox; sistema de travagem Brembo com discos ventilados e perfurados, na dianteira de 305 x 28 mm, e atrás de 240 x 11 mm. Nas primeiras unidades, a Fiat optou por jantes ‘Corsa’ de 17 polegadas (43,18 cm) para equipar pneumáticos de 205/40. No entanto, as últimas versões – tal como a aqui apresentada – dispunham de jantes OZ de 18 polegadas (45,72 cm) e pneus 215/35.
Este Abarth 695 inclui o dispositivo electrónico MXL2 – dashlogger ou data logger – da AiM, instrumentação que fornece todas as informações necessárias para os condutores, particularmente utilizado nos veículos de competição. É um produto desenvolvido para tornar a configuração e uso fácil… E é este o dispositivo que se encontra diante do condutor no espaço do tradicional velocímetro com apresentação em círculo.
Tem 8 entradas analógicas configuráveis; 10 luzes de mudança RGB 6 luzes de alarme RGB; Tempos de volta com tempos até 5 splits; 4 entradas de velocidade; Sensor de aceleração triáxica e giroscópio; indicação de engrenagem e conta-quilómetros; 16 MB de armazenamento; 3 interfaces CAN Interface de ecu (CAN, RS232 ou OBDII); Módulo GPS e WiFi com configuração e download de dados. E outras 3 minúcias: incorporação das tampas dos reservatórios de combustível e óleo, e parafusos das rodas em titânio.
Para este modelo comemorativo de dois lugares, a Abarth reduziu o peso do veículo em 144 quilos, passando dos 1.141 kg da versão do 500 Abarth de produção em série, para 997 kg, muito por força:
- Da inclusão de uma tampa do vão do motor em alumínio 7075, ou seja, Zicral (também designado por Constructal);
- Dois componentes aerodinâmicos na carroceria, como o splitter frontal e o extractor – alerón – traseiro ajustável, construídos em fibra de carbono, da autoria da Zender e da Adler Plastic. E a Fiat foi ainda mais longe com a incorporação das tampas dos reservatórios de combustível e óleo, e parafusos das rodas em titânio.
- O alerón pode regular-se em posições diferentes de 0 e 60 graus, dependendo da necessidade de ter maior aderência ao solo ou dinâmica. Esta peça foi desenhada na base da projectada nos ‘anos 60’ por Carlo Abarth.
Resumindo a s características: Motor T-JET, com 1368 cm³, 4 cilindros em linha, 4 válvulas por cilindro, Turbo Garrett GT 1446; Sistema de admissão BMC de alto rendimento; Escape Abarth com 4 saídas e válvula “Record Monza”. As dimensões são: Comprimento – 3657 mm; Largura – 1627 mm; Altura – 1488 mm: Entre eixos – 2300 mm. A capacidade do porta bagagem é de 185 litros e o peso com condutor (estimado em 75 Kg.) é de 997 quilogramas. Em 2020, em Espanha, podia-se adquirirum Abarth 695 Biposto por 40.900 euros, sendo certo que o valor quase chegava aos 70 mil euros de acordo com os acessórios que se quisessem acrescentar.
Em 1964, tinha um motor de 2 cilindros de 689,5 cm3 e 32 CV
Regressar a 1964: A versão do Fiat 500 apresentada pela Abarth com a designação 695 SS, no Salão de Genebra de então, era equipado com um motor de 2 cilindros OHV de 2 válvulas por cilindro de 689,5 cm3 – com pistões e árvore de cames específicas – colocado na traseira, atrás do eixo, que debitava 32 CV, com uma relação de compressão de 9.8:1; e carburador Solex 34PBIC original que aumentou de tamanho, para desenvolver 38 CV e conseguir ultrapassar a fasquia dos 130 Km/h.
Este modelo pesava 470 Kg (anunciado pelo fabricante), mas cuja verificação revelava em algumas unidades 605 Kg. Tinha 2,970 metros de comprido, largura de 1,320 mts. e altura de 1,325 mts..
– Texto por José Maria Pignatelli (Texto não está escrito ao abrigo do novo acordo ortográfico).