Liberdade de expressão e humor
Em 23 de dezembro de 2008, a Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC) decidiu, por unanimidade, não dar provimento às 122 queixas contra o famoso sketch “Louvado sejas ó Magalhães”, emitido no programa Zé Carlos, dos Gato Fedorento, na SIC.
Os participantes encararam o humor como uma ofensa — afinal, evocar a missa como paródia a um portátil nacional pode ter sido demais para alguns. Mas a ERC foi clara: a religião não é território vedado à sátira e o sketch, embora provocador, situava-se dentro dos limites da “liberdade de programação”, já que a crítica visava o Governo e não a instituição religiosa.
O humor é a piada… e a pólvora
Gato Fedorento atacam outra vez — com spiritual vibes. Em vez de uma crítica à fé, o alvo foi o portátil Magalhães. Mas quem viu a paródia sentiu chover bênçãos e saiu a rezar pela censura. A crítica atingiu o poder político — e nisso, a ERC disse “amém”.
Num Estado democrático, a piada tem peso — e liberdade. A deliberação sublinha que, embora possam chocar, as sátiras simbólicas não extrapolam os limites legais. E, de facto, o regulador concluiu que não compete à ERC avaliar o “bom ou mau gosto”, mas sim preservar o espaço do humor.
A piada causou furor — e provocou perguntas
- É sinal de uma esquerda nervosa? Quando o GPS da sátira apontou para as portas da fé, a reação foi de indignação moral, mas não de censura legal.
- Quem define os limites do riso? A ERC responde: um regulador prudente, uma sociedade plural e a liberdade de criação.
- Podemos rir de tudo? Nem sempre. A deliberação lembra que um sketch pode chocar, mas se se mantiver dentro dos marcos da lei e do contexto simbólico — e tiver consciência desses limites — a liberdade prevalece.
Liberdade de expressão e humor
E agora?
Os Gato Fedorento respiram aliviados. A comédia portuguesa mantém-se viva e capaz de incomodar — sem perigo jurídico. E a ERC reforça que o humor é, também, um valor democrático.
Ainda que para alguns a piada tenha sido santo demais.
Reflexão final:
No nosso Portugal de muitas crenças, o humor não é blasfémia — é voz. E se fizer chorar de riso ou raiva, é sinal de que ainda estamos vivos.
Até sexta-feira na próxima semana,
A pena é nossa, a sátira é vossa.
Liberdade de expressão e humor
Voltamos sexta-feira, 11 de Julho, com novas farpas igualmente distribuídas – porque, nesta República, o ridículo é verdadeiramente universal.