Operação Concerto: PJ investiga cartel de agências de comunicação e adjudicações públicas irregulares

Operaçao Concerto

A Polícia Judiciária (PJ) está a investigar um alegado esquema de corrupção e favorecimento envolvendo agências de comunicação e entidades públicas. A chamada Operação Concerto, conduzida pela Unidade Nacional de Combate à Corrupção, visa apurar a eventual prática de crimes como corrupção ativa e passiva, prevaricação, abuso de poder e participação económica em negócio.

Tudo terá começado com uma denúncia anónima em 2022, relativa a factos ocorridos entre 2020 e 2024. Segundo a PJ, o foco está na adjudicação direta de contratos por parte de entidades públicas a empresas de comunicação, publicidade e marketing político, em violação das regras da contratação pública e com forte prejuízo para o erário público.

Primeiras buscas em julho de 2024

A primeira vaga de buscas ocorreu a 4 de julho de 2024, envolvendo 34 locais — entre os quais câmaras municipais, empresas, institutos públicos e residências de empresários. Participaram cerca de 150 inspetores da PJ, apoiados por peritos financeiros e informáticos, sob coordenação de oito magistrados do DCIAP.

As diligências destinaram-se a consolidar indícios de que as empresas visadas beneficiaram de ajustes diretos e consultas prévias manipuladas, contornando os princípios da concorrência e da transparência. As entidades públicas envolvidas terão atribuído contratos de forma sistemática a um núcleo de empresas, causando distorção do mercado e prejuízo ao Estado.

Operação Concerto

Nova ronda de buscas em julho de 2025

Um ano depois, novas buscas voltaram a ser realizadas. Apesar de a operação ter decorrido com discrição, a PJ confirmou ao Diário de Notícias que estas visaram várias autarquias: Barreiro, Faro, Campo Maior, Póvoa de Lanhoso e a Junta de Freguesia de Penha de França.

Estas buscas complementam a primeira fase da operação, aprofundando a investigação sobre um alegado cartel de consultoras de comunicação.

Empresas e figuras visadas

O inquérito incide sobre uma dezena de empresas, incluindo:

  • Wonderlevel Partners (WLP), de Luís Bernardo
  • First Five Consulting (FFC), de João Tocha e Rui Farias
  • Remarkable
  • Sentinelcriterion

As autoridades suspeitam que estas empresas formaram um esquema concertado de divisão de mercado, apresentando propostas fictícias ou combinadas para assegurar a vitória nos concursos públicos.

As investigações incluem escutas telefónicas que revelariam contactos comprometedores entre empresários e decisores públicos, sugerindo a manipulação deliberada de concursos. O objetivo: criar uma aparência de concorrência legal, garantindo, na prática, que contratos iam sempre parar às mesmas empresas.

Perfis em destaque

Luís Bernardo, figura central da WLP, é ex-jornalista e ex-assessor de António Guterres, José Sócrates e Manuel Maria Carrilho. Já trabalhou com o Sporting, o Benfica e esteve ligado ao grupo Global Media. Atualmente, integra a equipa de campanha presidencial de Henrique Gouveia e Melo.

João Tocha, da FFC, colaborou com figuras de vários quadrantes políticos, como António José Seguro, Luís Filipe Menezes e António Costa, tendo também prestado serviços à Associação Nacional de Municípios e à Liga de Clubes.

Ambos negam qualquer ilegalidade. Luís Bernardo classificou as suspeitas como “especulações absurdas” e garantiu não ser arguido. João Tocha argumenta que o mercado da comunicação é pequeno e que é normal haver cruzamentos de serviços entre empresas.

O que está em causa?

O alegado cartel teria utilizado técnicas típicas de conluio em contratos públicos, como:

  • Propostas rotativas (as empresas alternam vitórias)
  • Propostas de cobertura (ofertas fictícias para simular concorrência)
  • Subcontratação acordada (empresa vencedora subcontrata as restantes)
  • Supressão de concorrência (acordos para não apresentar proposta)

A Autoridade da Concorrência classifica este tipo de práticas como Bid Rigging, altamente danoso para a economia e para a confiança nas instituições públicas.

Situação atual do processo

Apesar de extensas diligências, ainda não há arguidos formalmente constituídos, embora nomes como Luís Bernardo e João Tocha sejam considerados pessoas de interesse no processo. A PJ continua a analisar o vasto conjunto de provas recolhidas.

A Operação Concerto prossegue sob segredo de justiça, mas promete marcar a agenda política, por envolver figuras com forte ligação aos bastidores do poder, comunicação e campanhas eleitorais.

Operação Concerto

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