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Uma Coligação AD-PSD/CDS em Fora de Jogo — Crónica Alegre sobre a Não-Vontade de Vencer em Odivelas

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António Guedes Tavares
António Guedes Tavares
Diretor do NotíciasLx - Notícias da Grande Lisboa
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Coligação AD-PSD/CDS em Fora de Jogo

Ou como transformar uma vitória nacional numa derrota local… com método e sem remorsos

Foi com a solenidade de um lançamento lateral que a coligação AD-PSD/CDS apresentou, no Salão Polivalente de Odivelas, o seu candidato à presidência da Câmara Municipal para as Autárquicas de 2025. Senhoras e senhores, entrem em campo com Marco Pina — especialista em gestão e administração pública, comentador de arbitragem e, para os mais atentos, vereador do PSD no atual executivo, embora sem pelouros, sem funções executivas e com presença tão discreta quanto protocolar.

Não é um novato. Está em campo há anos — mas sem tocar verdadeiramente na bola.

A escolha de Pina como cabeça-de-lista tem tanto de previsível como de reveladora. Num concelho onde a coligação AD venceu nas legislativas, seria de esperar um nome de peso, mobilizador, com ambição real de disputar o poder local. Mas não. O que tivemos foi um nome já conhecido, sem projeção nacional, sem margem de autonomia — mas com a vantagem de não incomodar a máquina que comanda a concelhia.

E isso levanta a questão decisiva:
O PSD Odivelas quer mesmo ganhar as Autárquicas de 2025?

Ou melhor ainda: o PSD local quer arriscar perder o controlo do partido e do seu poder negocial pós-eleitoral?

Porque vejamos: atualmente o PS governa com maioria absoluta, mas os ventos mudam, e tudo indica que essa maioria está por um fio. Ora, num cenário sem maioria absoluta, bastarão um ou dois vereadores da oposição para garantir a governação socialista — desde que, claro, esses vereadores não estejam obcecados em ganhar a câmara, mas sim disponíveis para negociar discretamente nos bastidores.

E aqui está o verdadeiro plano. Não é ganhar. É garantir que não ganhe ninguém — sem que o PSD perca o seu valor de troca. Marco Pina, já vereador, é o nome ideal: respeitável, não conflituoso, e sobretudo controlável pela estrutura local, que assim preserva o poder de veto, o acesso à negociação e a ilusão de influência.

Se o cabeça-de-lista fosse uma figura nacional com ambição própria e peso político, esse poder desapareceria. Com uma vitória real na mesa, o partido deixaria de pertencer à concelhia — e passaria a obedecer a uma liderança autárquica com legitimidade direta. E isso, para os guardiões do aparelho, seria uma tragédia maior do que mais quatro anos de PS.

Também por isso nenhum jornal local foi convidado ao lançamento da candidatura. Não foi um lapso. Foi uma escolha. A comunicação foi feita apenas para dentro — para militantes, simpatizantes e alguns porta-chaves institucionais — longe das perguntas desconfortáveis sobre passado, estratégia e ambição.

O slogan diz:
“É por ti — por cada um de nós, por Odivelas, pelo futuro que queremos.”

Mas o que se quer, ao que tudo indica, não é o futuro de Odivelas. É o futuro da concelhia.

Com um ou dois vereadores, podem manter a mão no tabuleiro. E se o PS precisar de apoio para continuar a governar “com mão de ferro”, como se diz nas entrelinhas, a fatura virá — com juros, claro.

E assim se constrói uma campanha alegre. Com outdoors nos sítios habituais, palmadinhas nas costas, frases gastas, candidatos obedientes e um plano que não passa pela vitória. Passa pela sobrevivência.

– António Guedes Tavares, diretor

Editorial

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