Da Partilha ao Conflito – a origem do Estado de Israel e a primeira guerra
O fim do Império Britânico e a semente do conflito
No final da Primeira Guerra Mundial, a região da Palestina passou a estar sob controlo britânico, através do Mandato Britânico da Palestina, aprovado pela Liga das Nações em 1922. Esse território, até então parte do Império Otomano, tornou-se palco de crescentes tensões entre judeus sionistas e árabes palestinianos.
O movimento sionista, fundado no final do século XIX por Theodor Herzl, procurava estabelecer um Estado judeu na “terra dos antepassados”. As perseguições na Europa e, especialmente, o Holocausto durante a Segunda Guerra Mundial aceleraram a migração judaica para a Palestina.
Entretanto, a população árabe local, que também aspirava à independência, via esta imigração como uma ameaça existencial. O confronto entre os dois grupos aumentou, colocando os britânicos numa posição insustentável.
A proposta da ONU: duas terras, dois povos
Com a incapacidade britânica de manter a ordem, a questão foi entregue às Nações Unidas. Em 29 de novembro de 1947, a Assembleia Geral da ONU aprovou a Resolução 181, propondo:
- A criação de dois Estados independentes: um judeu e um árabe;
- A internacionalização de Jerusalém, sob administração da ONU.
O plano previa que os judeus, que representavam cerca de 33% da população e possuíam menos de 7% das terras, ficassem com 56% do território.
🔵 Resultado da votação (Resolução 181):
- 33 votos a favor
- 13 contra
- 10 abstenções
Entre os que votaram a favor: EUA, URSS, França.
Contra: todos os países árabes e muçulmanos presentes.
A liderança sionista, representada por David Ben-Gurion, aceitou o plano. A liderança árabe palestiniana e os países árabes recusaram-no, considerando-o injusto e colonial.
1948: A criação de Israel e o início da guerra
A retirada britânica estava prevista para 15 de maio de 1948. Na véspera, a 14 de maio, Ben-Gurion declarou a independência do Estado de Israel em Telavive. O novo país foi imediatamente reconhecido pelos EUA e pela URSS.
No dia seguinte, os exércitos de cinco países árabes (Egito, Jordânia, Síria, Líbano e Iraque) invadiram o território da Palestina, dando início à Primeira Guerra Árabe-Israelense ou Guerra de Independência de Israel.
Consequências imediatas
- Israel não só sobreviveu à guerra, como expandiu o seu território para além do previsto pela ONU.
- A Jordânia anexou a Cisjordânia e Jerusalém Oriental.
- O Egito passou a controlar a Faixa de Gaza.
- Cerca de 750.000 palestinianos foram expulsos ou fugiram, dando origem ao êxodo conhecido como Nakba (catástrofe, em árabe).
- A Palestina prevista no plano da ONU nunca chegou a existir.
As resoluções da ONU pós-guerra
- Resolução 194 (1948): Defende o direito de retorno dos refugiados palestinianos e compensações para os que não queiram regressar.
- Resolução 273 (1949): Admite Israel como Estado-membro da ONU, com a condição de aceitar as resoluções anteriores, nomeadamente a 194. Israel foi aceite, mas a questão dos refugiados continua sem resolução.
Conclusão: o conflito estrutural
O nascimento de Israel e a primeira guerra moldaram o conflito que perdura até hoje:
- Um povo com Estado, mas em permanente insegurança.
- Um povo sem Estado, vivendo sob ocupação, exílio ou bloqueio.
O que se seguiu foram mais guerras, mais refugiados, mais tentativas de paz — e mais fracassos.

