Cinematographia Republicana
Lisboa, 8 de agosto de 2025 — Há quem diga que o cinema português anda moribundo. Felizmente, a Presidência da República mantém o género vivo — não com histórias pungentes ou dramas universais, mas com um enredo de luxo: “Como Usar uma Condecoração”.
Marcelo Rebelo de Sousa, sempre preocupado com a literacia nacional, decidiu que o assunto mais urgente para os jovens não é, por exemplo, perceber a taxa de esforço ou a dívida pública, mas sim dominar a arte ancestral de pendurar uma medalha ao peito sem deixar o casaco descair.
Para tal, nada como um filme de animação. A “Pinguim Atrevido” — nome que, convenhamos, já soa a metáfora política — levará 17.896 euros (IVA incluído) para nos ensinar, com “bonecada”, a etiqueta das dez dezenas de condecorações que raramente descem à plebe.
O contrato foi feito por ajuste direto (porque a urgência de ensinar a nação a usar fitinhas não se compadece com concursos), e publicado discretamente no Portal Base um mês depois. Objetivo declarado? Nenhum. Talvez “entreter enquanto se espera pela próxima selfie presidencial”.
Mas não é caso isolado. Há poucos dias, mais 3.752 euros foram gastos para remodelar o filme “Palácio de Belém: Vivências”, obra-prima de 2005 que agora terá direito a nova edição — talvez para incluir a era Marcelo em slow motion e com banda sonora épica. Antes disso, já se tinham encomendado outros filmes: sobre ordens honoríficas (18.327 €) e sobre presidentes passados (11.622 €).
Total da trilogia presidencial: 51.597 euros em três anos. Um investimento modesto, se pensarmos que poderia dar para um blockbuster nacional… ou para um documentário sobre como se gasta o dinheiro público. Esse, claro, talvez fosse demasiado realista para entrar em cartaz no Palácio.

Ridículos da Semana
- Condecorar animadores antes de animar condecorados.
 - Contratos “à mão beijada” para explicar como se coloca uma fita no peito — e não como se apertam as contas do Estado.
 - A promessa de transparência que, como no cinema, fica sempre para o “próximo episódio”.
 

