Nascimento das Linhas Verdes
1. Contexto histórico (pós-guerra de 1948)
O conflito iniciado a 15 de maio de 1948 — no dia seguinte à declaração de independência de Israel — envolveu os exércitos de Egito, Jordânia, Síria, Líbano e Iraque contra as recém-criadas Forças de Defesa de Israel (FDI).
Quando a guerra terminou, Israel não só manteve o território previsto no Plano de Partilha da ONU de 1947, como conquistou cerca de 23% a mais, incluindo zonas atribuídas ao futuro Estado árabe da Palestina.
Em 1949, sob mediação da ONU, começaram negociações separadas com cada país árabe beligerante para encerrar formalmente as hostilidades — sem que isso significasse reconhecimento diplomático de Israel.
2. Principais pontos dos acordos de armistício
- Egito (24 de fevereiro de 1949)
- Israel manteve o Negev até à fronteira egípcia.
- A Faixa de Gaza permaneceu sob administração egípcia.
- Criação de uma zona desmilitarizada ao longo de parte da fronteira.
- Líbano (23 de março de 1949)
- As fronteiras seguiram essencialmente as linhas pré-1948 estabelecidas pelo Mandato Britânico e pelo Mandato Francês.
- Estabelecimento de um cessar-fogo sem grandes alterações territoriais.
- Jordânia (3 de abril de 1949)
- Israel manteve Jerusalém Ocidental.
- Jerusalém Oriental e a Cisjordânia ficaram sob controlo jordano.
- Linha de armistício marcada em verde nos mapas da ONU — origem do termo Linha Verde.
- Síria (20 de julho de 1949)
- Definição de zonas desmilitarizadas nos Montes Golã e áreas adjacentes.
- Disputa latente sobre soberania nessas zonas permaneceu em aberto.
3. Implicações para refugiados palestinianos
O armistício não abordou de forma definitiva o destino dos cerca de 700 mil palestinianos que tinham fugido ou sido expulsos durante a guerra.
- Israel recusou permitir o retorno em larga escala, alegando razões de segurança e equilíbrio demográfico.
- Os países árabes vizinhos — especialmente Jordânia, Líbano e Síria — passaram a acolher centenas de milhares de refugiados, frequentemente em campos sob administração da recém-criada UNRWA (Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina).
- A questão dos refugiados tornou-se uma das pedras angulares do conflito.
4. Mapa político resultante
Após os armistícios de 1949:
- Israel controlava cerca de 78% do território do antigo Mandato Britânico da Palestina.
- Jordânia anexou formalmente a Cisjordânia e Jerusalém Oriental.
- Egito administrava a Faixa de Gaza.
- Nenhum Estado árabe palestiniano foi criado, apesar das resoluções da ONU de 1947.
A Linha Verde tornou-se a fronteira de facto, embora oficialmente fosse apenas uma linha de cessar-fogo e não um limite reconhecido internacionalmente.
5. As Linhas Verdes: referência e disputa
- Originalmente traçadas com caneta verde nos mapas da ONU para diferenciar as posições militares de 1949.
- Tornaram-se, ao longo das décadas, o ponto de referência para negociações de paz, especialmente nas resoluções da ONU pós-1967.
- Para Israel, não eram fronteiras fixas; para a comunidade internacional, representavam a base para um acordo de dois Estados.
- Desde 1949, qualquer expansão israelita para além da Linha Verde — como a construção de colonatos — passou a ser vista como alteração unilateral do status quo.
Conclusão:
Os acordos de armistício de 1949 encerraram a primeira fase militar do conflito, mas criaram um mapa de divisões que nunca foi consensual. A Linha Verde, nascida como um traço temporário, acabou por se tornar um símbolo duradouro das fronteiras da discórdia no Médio Oriente.