Voltámos ao tempo da caça às bruxas
Um movimento machista nas ruas
Há sinais cada vez mais claros de que o machismo não é apenas uma herança cultural ou um conjunto de atitudes individuais: assume hoje a forma de um movimento organizado que ataca os direitos das mulheres de forma sistemática. A violência física, verbal e psicológica que atinge as mulheres não se limita ao espaço privado — está presente nas relações sociais, nos transportes públicos e nas ruas das cidades portuguesas.
Os dados oficiais confirmam a tendência: denúncias de violência doméstica e de assédio em espaço público continuam a crescer, ao mesmo tempo que se intensifica o discurso que procura relativizar conquistas fundamentais, como a igualdade de oportunidades ou a proteção contra a violência de género.
Especialistas alertam para um padrão preocupante: “Não são episódios isolados. Há uma organização implícita, uma rede de comportamentos e discursos que se reforçam mutuamente e legitimam a agressão às mulheres”, sublinha uma socióloga ouvida pelo NotíciasLX.
Seja no olhar intimidatório no metro, no assobio dirigido a quem passa na rua ou nas agressões físicas relatadas diariamente, o que se desenha é um cenário de hostilidade crescente. A rua, espaço de liberdade, transforma-se muitas vezes em palco de medo.
Reconhecer que este movimento existe é o primeiro passo para enfrentá-lo. O silêncio social, a naturalização do assédio e a banalização da violência não podem ser aceites como inevitáveis. A resposta terá de ser política, judicial e cultural — mas também cidadã. Porque cada recuo nos direitos das mulheres significa um recuo coletivo da sociedade.
– António Guedes Tavares, diretor
Editorial
Voltámos ao tempo da caça às bruxas
