Demagogia do presidente de Odivelas … A estranha ‘vida nova’ do Mosteiro de Odivelas

Estranha vida nova do Mosteiro de Odivelas

O socialista Hugo Martins escusa de fazer demagogia para voltar a ganhar as eleições autárquicas do próximo domingo, 12 de outubro, e renovar o mandato que será o seu último. O acordo de cedência do Mosteiro de Odivelas data de 18 de julho de 2017 e a mensalidade acordada é de 23.200€ (‘actualizável anualmente pela aplicação do coeficiente de actualização dos diversos tipos de arrendamento’), enfim o que decorre da legislação em vigor.

Ou seja, pelo menos a câmara municipal de Odivelas já pagou à administração central 1.948.800€, caso só se tenha iniciado o pagamento em janeiro de 2018 e não se tenham produzido actualizações.

Estranha vida nova do Mosteiro de Odivelas
Estranha vida nova do Mosteiro de Odivelas – Era assim que a Câmara Municipal de Odivelas publicitava o futuro do Mosteiro. O painel esteve exposto em 2017 e 2018 – (fotografia de J.M.P.)

Em 50 anos que durará o contrato os munícipes com as suas contribuições assumem 13.920.000 euros sem actualizações. Mas há mais: O presidente avocou um compromisso contratual de investir 19 milhões de euros no equipamento durante o período do contrato de cedência que termina em 2068.

Agora, o candidato Hugo Martins na sua página de Facebook afirma que “o espaço que durante várias décadas serviu as alunas do antigo Instituto de Odivelas, acolhe, desde setembro, cerca de 210 estudantes do ISCTE, que aqui encontram uma moderna Residência Universitária”.

Vale tudo na campanha eleitoral. Em Odivelas, o recandidato socialista Hugo Martins publicita uma residência universitária para “cerca de 210 estudantes do ISCTE”, nas enormes instalações do antigo Instituto de Odivelas, ou em parte do Mosteiro de S. Dinis e S. Bernardo. Mostra fotografias. Engana os munícipes eleitores com uma obra de fachada que esconde os 23.200 euros mensais que a Câmara paga à administração central, desde janeiro de 2018. Embora desconheça a obra, estou em condições de afirmar que Hugo Martins manipula a opinião pública: Esta residência universitária não ocupa a totalidade do espaço dos edifícios do Mosteiro D. Dinis que serviu o Instituto de Odivelas durante mais de um século. Nem preciso alongar-me em considerações…. Tão-só, pergunto: Encontram-se requalificados espaços como o ginásio multifunções que tem uma galeria e um palco, a piscina, o anfiteatro, os dormitórios colectivos, o edifício da cozinha, o refeitório e a copa correspondente e a casa do Capelão? Em 2018, em declarações à LUSA, Hugo Martins anunciava projectos como a criação de um Centro Interpretativo sobre o Mosteiro de São Dinis e São Bernardo, a construção de um centro de ensino e ainda a instalação da Divisão da PSP de Odivelas.

Estranha vida nova do Mosteiro de Odivelas
Estranha vida nova do Mosteiro de Odivelas – O recandidato socialista Hugo Martins publicita uma residência universitária para “cerca de 210 estudantes do ISCTE”, nas enormes instalações do antigo Instituto de Odivelas, ou em parte do Mosteiro de S. Dinis e S. Bernardo. Mostra fotografias. Engana os munícipes eleitores com uma obra de fachada que esconde os 23.200 euros mensais que a Câmara paga à administração central, desde janeiro de 2018. Embora desconheça a obra, estou em condições de afirmar que Hugo Martins manipula a opinião pública: Esta residência universitária não ocupa a totalidade do espaço dos edifícios. Tão-só, pergunto: ¿Encontram-se requalificados espaços como o ginásio multifunções que tem uma galeria e um palco, a piscina, o anfiteatro, os dormitórios colectivos, o edifício da cozinha, o refeitório e a copa correspondente e a casa do Capelão que tem entrada junto ao Largo D. Dinis? – (fotografias de José Maria Pignatelli captadas em 13 de fevereiro de 2017)

Recordo ainda uma curiosidade: No início de 2018, em declarações à Agência de Notícias LUSA, Hugo Martins, na qualidade de presidente da Câmara, referiu que a autarquia já tem (tinha) alguns projectos pensados para este local, nomeadamente “a criação de um Centro Interpretativo sobre o Mosteiro de São Dinis, a construção de um centro de ensino e ainda a instalação da Divisão da PSP de Odivelas”.

Agora, vemos o exercício de reconversão de parte do imóvel em residência universitária e, a avaliar pelas fotografias publicadas pelo próprio presidente da Câmara, temos uma cozinha que mais se parece com uma kitchenette e uma lavandaria com (pelo menos) 4 máquinas de lavar roupa domésticas e umas tábuas de engomar iguais ás que encontro aqui – em Espanha, entenda-se – na Toys”R”Us… Tudo para cerca de 210 estudantes. O que falta saber é quanto pagará cada estudante e qual foi o acordo com Iscte – Instituto Universitário de Lisboa.

É redutor e inaceitável utilizar parte do Mosteiro para fazer residências universitárias e deixar parte maior ao abando a degradar-se tal como se encontrava no final de 2018. assiste-se a propostas casuísticas, relativamente incompletas que nem sequer são produzidas observando o todo, o Mosteiro, o gigantesco edificado. Impõe-se coragem política para se pedir um projecto global, propondo um caderno de encargos racional, exequível e capaz de servir os interesses sociais e económicos do concelho. E se dentro dos Serviços Municipais não houver essa capacidade que se abra um concurso público, transparente, sem nenhuns favorecimentos.

Estranha vida nova do Mosteiro de Odivelas
Estranha vida nova do Mosteiro de Odivelas – Em 2017, a Casa do Capelão, de interesse arquitectónico, do lado oposto à entrada do Instituto de Odivelas, já mostrava a necessidade de intervenção no alpendre da varanda superior e reparações nas paredes exteriores. O encerramento do Instituto não deixou avançar o projecto de reparação do imóvel, então da responsabilidade do Ministério da Defesa. A Piscina do IO tinha uma cobertura insuflável durante o Outono e Inverno. A Câmara Municipal não explica o que vai fazer destes equipamentos pelos quais paga renda – (Fotografia da casa do capelão de José Maria Pignatelli e fotografia da piscina é do Instituto de Odivelas e foi captada em 1989 e mais recentemente publicada por Fatima Ferraz em “Instagram: fatima_ferraz16”)

A história da humanidade lê-se nos testemunhos vivos do passado e eles devem ser preservados, esta é a premissa que devia nortear a Câmara Municipal de Odivelas nas opções para o futuro a dar ao Mosteiro de S. Dinis e S. Bernardo. Hoje, a razão assiste-me: Foi uma iniciativa megalómana; a Câmara comprou uma gigantesca dor-de-cabeça, uma espécie de poço sem fundo, ao querer ficar com a gestão daquele património e não faz ideia do que lhe fazer. Agora inventa uma residência universitária que ocupa parte do enorme edificado que era o Instituto de Odivelas, simplificando o que foi durante mais de um século o Colégio Militar para jovens do sexo feminino, onde se leccionava desde a primária ao décimo segundo ano, ou seja se preparavam raparigas para entrar na universidade e faziam-no com rigor e disciplina, embora os politicos de esquerda e extrema-esquerda detestem estes princípios que no essencial pretendem juntar o conhecimento à cultura global que também deverá presidir ao ensino.

Haja coragem política: Copiem o que se fez no Convento de São Paulo, em Elvas, ofereçam espaço ao Centro de Formação para o Sector Alimentar (singular na Europa), instalado numa encruzilhada de três edifícios, na Pontinha, construam uma creche digna que a cidade bem precisa e ainda sobra espaço. Todavia, o espaço também podia ser utilizado para o Centro Administrativo, para acabar com as rendas que a Câmara paga para manter os seus serviços. O município pagava uma barbaridade em rendas anuais: 241.757,97 €, pelo menos até 2020.

A gerência dos imóveis do antigo Instituto de Odivelas são um enorme incómodo para o Executivo da Câmara Municipal que se bateu por ficar com a gestão daquele património, como bandeira maior da campanha das eleições autárquicas de 2017, sem saber se tinha capacidade para isso, ou seja dinheiro para investir e ideias para a sua reconversão.

Não tinha então, como eu me cansei de dizer no final do mandato anterior 2013-2017, nas sessões da Assembleia Municipal; nem tem presentemente e pergunto qual é afinal a nova vida do Mosteiro prometida pelo presidente Hugo Martins: Uma residência universitária para 210 estudantes? Seguramente não será esta utilização nem o seu planeamento de manutenção que salvará o edificado, pois não deixa de ter parte vazia – parcialmente abandonado – e isso jamais evitará a sua degradação. Alguns técnicos dos serviços municipais sabem disso, mas não se atrevem a dizê-lo.

É uma fatalidade em Portugal: Os técnicos fazem quase sempre os projectos à medida das vontades dos políticos…. Infelizmente, há que garantir o sustento, a sopa e o pão à mesa. O espaço é tão grande que também podia ser utilizado para o Centro Administrativo municipal, para acabar com as rendas que a Câmara paga para manter os seus serviços. Gasta-se uma barbaridade em rendas anuais: 241.757,97 €, pelo menos até 2020. É escasso que e a nova vida do Mosteiro – prometida pelo presidente Hugo Martins em 2017 – seja uma residência universitária para 210 estudantes e a reconversão da quinta em parque urbano. Falta ambição e visão para requalificar a totalidade do enorme conjunto imóvel do IO. E se não o querem transformar no Centro administrativo municipal, então ofereçam espaço ao Centro de Formação para o Sector Alimentar (singular na Europa), instalado numa encruzilhada de três edifícios, na Pontinha, um espaço sem futuro.

O poder político não tem coragem para dizer abertamente que não tem ideias precisas sobre o que fazer àquele património imenso, nem dinheiro para investir. Que explique aos munícipes que também foram incapazes de decidir, em definitivo, sobre a reabilitação global do centro histórico da cidade, que custará milhões, uma promessa feita nas campanhas eleitorais de 2009, de 2013 e de 2017.

Pelo que leio e oiço à distância, em Odivelas não há massa critica nem os munícipes são chamados verdadeiramente a empenharem-se na mudança, na reabilitação e modernização do concelho, fazendo dele uma referência na Área Metropolitana de Lisboa.

O encerramento do Instituto de Odivelas, em 2015, e a sua anexação ao Colégio Militar, no Largo da Luz, não terminou de forma inglória, mas foi o esvaziamento de 113 anos de histórias (1902-2015). Seria uma injustiça afirmar-se que a luta pela manutenção do estabelecimento de ensino terminou de forma inglória. Seria aceitar que foram um conjunto de batalhas ignoradas e isso não é verdade. Participei em vários fóruns e estive acompanhado por gente gira e culta, na Assembleia da República, por mais de três vezes. A última, acompanhei a delegação oficial das alunas do Instituto de Odivelas. Odivelas fez-se ouvir, foi a debate…

O encerramento do Instituto de Odivelas, em 2015, e a sua anexação ao Colégio Militar, não terminou de forma inglória, mas foi o esvaziamento de 113 anos de histórias (1902-2015). Assumo um sentimento de tristeza e derrota…  Meia ingenuidade em não acreditar que a vida política não fosse limpa, transparente, num caso destes de vital importância para todos, mesmo para os mais indiferentes para as coisas da cultura.

Estranha vida nova do Mosteiro de Odivelas
Estranha vida nova do Mosteiro de Odivelas – Em 2017, registaram-se muitos recantos interiores e exteriores a necessitar de reparações e limpeza urgentes – (fotografias de José Maria Pignatelli)
Estranha vida nova do Mosteiro de Odivelas
Estranha vida nova do Mosteiro de Odivelas – Em 2017, registaram-se muitos recantos interiores e exteriores a necessitar de reparações e limpeza urgentes – (fotografias de José Maria Pignatelli)

Assumo um sentimento de tristeza e derrota…  Não quis acreditar que a vida política não fosse limpa, transparente, num caso destes de vital importância para todos, mesmo para os mais indiferentes para as coisas da cultura.

Primeiro, acreditei que o então ministro da Defesa Nacional, o social-democrata Aguiar Branco – agora presidente da Assembleia da República – acabaria por aceitar conhecer o Instituto de Odivelas e a vê-lo em duas perspectivas, pela importância enquanto património e como estabelecimento de ensino diferenciado. Afinal, encolher as despesas às cegas, fazendo o frete à Troika foi a sua maior prioridade. Nunca esteve em Odivelas, nunca nos ouviu, nunca nos quis receber, mas em boa verdade nunca fui conhecedor que tivesse sido formalmente convidado pela governação municipal de então, a coligação pós-eleitoral entre PS e PSD, primeiro liderada por Susana Amador e depois por Hugo Martins que se volta a candidatar à presidência da Câmara, em último mandato possível.

Estranha vida nova do Mosteiro de Odivelas
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Estranha vida nova do Mosteiro de Odivelas
Estranha vida nova do Mosteiro de Odivelas – Os quartos, a lavandaria e a kitchenette da residência universitária do ISCTE qu,  segundo o portal da CMO, se trata de um novo modelo de residências universitárias. Mas a cereja sobre o bolo é a velha afirmação conhecida na Càmara: Hugo Martins considera um “trabalho de excelência feito pelos parceiros deste projecto, permitindo alavancas de desenvolvimento, de futuro” – (fotografias publicadas na página de Facebook de Hugo Martins)

Segundo, recordo a inabilidade e falta de coragem da maioria dos deputados do CDS, na Assembleia da República, para fazer ouvir as nossas reivindicações e influenciar positivamente um governo de que faziam parte. Venceu o politicamente correcto, a vontade maioritária de não incomodar o parceiro de coligação.

Terceiro, a desunião entre os eleitos políticos de Odivelas, os ‘jogos de bastidores’, as desmedidas ansiedades de protagonismo dos autarcas, principalmente dos socialistas liderados por Susana Amador. Recordo que apenas em duas circunstâncias aconteceu unanimidade: a primeira, em 24 de setembro de 2012, quando todos votaram favoravelmente a minha moção contra o encerramento do instituto e a sua anexação ao Colégio Militar em Carnide que já se adivinhava e foi uma espécie de advertência que fiz por ter informação privilegiada; a segunda, em vésperas do irreversível encerramento do Instituto de Odivelas e já depois do ‘afastamento’ do seu director, o coronel José Serra.

Tenho a convicção que este foi o pior acontecimento na minha carreira política, curta e por empréstimo, de quase 9 anos!

– Texto por José Maria Pignatelli (Texto não está escrito ao abrigo do novo acordo ortográfico).

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Texto do despacho de cedência de utilização do complexo do Mosteiro de São Dinis e São Bernardo, de 5 de maio de 2017, posteriormente assinado pelos então secretário de Estado do Tesouro, Álvaro Novo, e o secretário de Estado da Defesa Nacional, Marcos Perestrelo

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