A Guerra dos Seis Dias: vitória relâmpago e ocupação duradoura (1967)

A “vitória relâmpago” redesenhou o tabuleiro do Médio Oriente e cristalizou muitos dos dilemas ainda hoje presentes no conflito.

Vitória relâmpago e ocupação duradoura

A 5 de junho de 1967, quando os primeiros aviões israelitas levantaram voo numa operação que duraria apenas algumas horas, o Médio Oriente entrou numa nova era. O conflito que se seguiu — breve, fulgurante e decisivo — alterou fronteiras, equilíbrios regionais e, sobretudo, a vida de milhões de pessoas. Em apenas seis dias, Israel venceu militarmente; politicamente, porém, começou uma ocupação que moldaria o conflito durante as décadas seguintes.


A crise que fermentava desde 1956

O terreno para a guerra estava preparado muito antes de junho de 1967. A década anterior fora marcada por:

  • confrontos fronteiriços persistentes com a Síria,
  • ações de fedayeen e retaliações israelitas,
  • uma disputa crescente pelo controlo da água,
  • e o fortalecimento do nacionalismo árabe sob a liderança de Gamal Abdel Nasser.

O Egito, pressionado por alianças, propaganda e pela exigência de uma postura firme perante Israel, retirou a UNEF do Sinai em maio de 1967 e voltou a bloquear o Estreito de Tiran. Para Israel, este bloqueio equivalia a casus belli — e assim foi entendido pelo governo de unidade nacional liderado por Levi Eshkol.

No espaço de semanas, diplomatas percorriam capitais, generais discutiam cenários e a imprensa mundial antecipava o pior. A sensação de inevitabilidade pairava no ar.


A Operação Focus: o golpe que decidiu a guerra ao nascer do dia

Às 7h45 da manhã de 5 de junho, Israel desencadeia a Operação Focus (Moked): um ataque aéreo massivo destinado a neutralizar as forças aéreas do Egito, Síria e Jordânia antes de estas conseguirem descolar. Num golpe quase cirúrgico, aviões israelitas destruíram cerca de 300 aeronaves egípcias em solo em menos de três horas.

Sem cobertura aérea, os exércitos árabes ficaram drasticamente expostos. Era o início de um efeito dominó militar que definiria o resto da guerra.


Vitória relâmpago e ocupação duradoura

O Sinai: uma frente aberta e uma retirada caótica

Enquanto a aviação egípcia era aniquilada, as forças terrestres israelitas avançavam pelo Sinai. As linhas egípcias, desorganizadas pela ausência de comunicações eficazes e por ordens contraditórias vindas do Cairo, começaram a colapsar rapidamente.

A retirada transformou-se em debandada. Veículos militares ficaram abandonados no deserto; soldados tentavam escapar a pé; e a cadeia de comando egípcia, tomada de surpresa, demorou a reagir. Em apenas três dias, Israel controlava todo o Sinai e aproximava-se do Canal de Suez.

Vitória relâmpago e ocupação duradoura
Vitória relâmpago e ocupação duradoura

Jerusalém e a Cisjordânia: a frente jordaniana reabre velhas feridas

A entrada da Jordânia no conflito — incentivada por informações erradas da rádio egípcia, que anunciava vitórias imaginárias — abriu um segundo teatro de guerra. Depois de ataques jordanianos contra Jerusalém Ocidental, Israel respondeu com força total.

Em 7 de junho, unidades israelitas capturaram a Cidade Velha de Jerusalém, numa operação carregada de simbolismo histórico e religioso. A imagem de soldados israelitas junto ao Muro das Lamentações tornou-se um ícone imediato da guerra e uma marca profunda do conflito futuro.

A ofensiva continuou pela Cisjordânia, ocupada desde 1948 pela Jordânia. Em poucas horas, cidades como Nablus, Jenin, Hebron e Belém passaram para controlo israelita. Era uma transformação territorial de enorme escala — e um novo capítulo para milhões de palestinianos que, pela segunda vez em duas décadas, viam o seu futuro mudar sem aviso.


Vitória relâmpago e ocupação duradoura

Os Montes Golã: o último teatro da guerra

A Síria, que durante anos mantivera artilharia apontada ao norte de Israel, tornou-se a terceira frente. Após difíceis combates terrestres e intensos ataques aéreos, Israel lançou a ofensiva final em 9 de junho.

Os Montes Golã, fortificados e de difícil acesso, caíram no dia 10. Com este avanço, Israel garantiu uma posição estratégica de enorme peso militar ao controlar um planalto que dominava a Galileia.

No final do sexto dia, cessavam os combates. Israel controlava agora:

  • o Sinai e Gaza (antes sob administração egípcia),
  • a Cisjordânia e Jerusalém Oriental (antes sob domínio jordano),
  • e os Montes Golã (sírios).

A linha do armistício de 1949 deixava, assim, de existir como referência prática.


Vitória relâmpago e ocupação duradoura

Um mapa redesenhado: vitória militar, dilema político

A vitória israelita foi rápida e total — mas as suas consequências seriam profundas e duradouras.

Israel viu-se agora responsável por governar territórios densamente povoados, sobretudo na Cisjordânia e em Gaza, onde viviam mais de um milhão de palestinianos. Rapidamente se colocou a questão que moldaria todas as décadas seguintes: o que fazer com estes territórios?

As opções eram três:

  1. negociar trocas territoriais por paz;
  2. integrar os territórios e as populações;
  3. manter a ocupação enquanto se procurava uma solução futura.

Nenhuma seria simples; a terceira acabou por dominar.


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As Nações Unidas intervêm: a Resolução 242

Depois da guerra, o Conselho de Segurança adotou a Resolução 242, estabelecendo dois princípios fundamentais:

  • a inadmissibilidade da aquisição de território pela guerra,
  • e a necessidade de Israel se retirar “de territórios ocupados” em troca de paz e reconhecimento por parte dos Estados árabes.

A formulação ambígua — intencionalmente redigida sem artigo definido antes de “territórios” — permitiu interpretações divergentes que perduram até hoje. Para Israel, a retirada não precisava de ser total; para os países árabes, significava saída completa. Era o início de debates infindáveis que marcariam toda a diplomacia do pós-1967.


Consequências imediatas para os palestinianos

Para os palestinianos, 1967 significou o início da ocupação moderna. Controlo militar, administração direta e novas dinâmicas territoriais mudaram radicalmente a vida quotidiana.

Ao mesmo tempo, o impacto psicológico e político da derrota árabe levou a uma mudança interna: a OLP, até então dominada por governos árabes, começou a ganhar autonomia e visibilidade, preparando-se para assumir um papel mais assertivo nos anos seguintes.


Seis dias, seis décadas

A guerra durou seis dias, mas os seus efeitos prolongaram-se por mais de seis décadas:

  • o controlo israelita sobre Jerusalém Oriental tornou-se o cerne de disputas religiosas e políticas,
  • a ocupação da Cisjordânia originou colonatos que continuam a crescer,
  • Gaza entraria num ciclo de administração militar e bloqueios,
  • e os países árabes precisariam de anos até reconstruir capacidade militar.

A “vitória relâmpago” redesenhou o tabuleiro do Médio Oriente e cristalizou muitos dos dilemas ainda hoje presentes no conflito.


Referências

(seleção histórica e bibliográfica)

  • Avi Shlaim, The Iron Wall: Israel and the Arab World.
  • Michael Oren, Six Days of War: June 1967 and the Making of the Modern Middle East.
  • Rashid Khalidi, The Hundred Years’ War on Palestine.
  • Benny Morris, Righteous Victims: A History of the Zionist-Arab Conflict.
  • Documentos das Nações Unidas, Resolução 242 (1967).
  • Arquivos governamentais de Israel, Egito e Jordânia sobre o período de 1967.

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