Luís Montenegro Spinumviva
A semana em que o país se elevou… mas só nos custos.
Eis-nos chegados a mais uma sexta-feira — esse dia útil em que o Estado faz ponto facultativo ao bom senso, e a República, de toga em riste, tenta decidir se o seu Primeiro-Ministro governava ou facturava.
Entre voos de helicóptero com tarifas dignas da Emirates e investigações do Ministério Público com a leveza de uma pluma inquisitorial, Portugal reencontra-se com a sua vocação ancestral: a de ser tragicómico em sessões contínuas.
Montenegro e o balão da exclusividade
O Ministério Público decidiu tirar a limpo se o nosso Primeiro-ministro, Sr. Montenegro, terá acumulado funções públicas com dividendos privados — não se sabe se por zelo institucional ou apenas para contrariar a rotina. O caso Spinumviva adquire, assim, um novo tom: já não se trata de uma empresa familiar, mas de um pequeno meteorito que ameaça rasgar o véu da exclusividade.
Montenegro jura pela cruz de São Bento que nada recebeu, que tudo entregou, que não há lucros — apenas espírito de missão. Já o MP, desconfiado como um velho contínuo de repartição, quer saber se entre um Conselho de Ministros e outro, não se despacharam também umas faturas.
Nada de novo: em Portugal, governar é sempre uma experiência extracorporal — e por vezes, extraempresarial.

INEM voa com asas de chumbo
Quanto aos helicópteros do INEM — esses anjos da guarda com leasing milionário — ficámos esta semana a saber que o Governo, num rasgo de génio contábil, preferiu fazer um ajuste directo de milhões à empresa Gulf Med… para evitar ter de lhe aplicar sanções de milhões.
Portugal, esse país onde quem falha um contrato público é imediatamente premiado com outro, superou-se: não só contratámos os mesmos senhores de sempre, como lhes pagámos o favor de nos terem desiludido.
Do contrato resultaram dois helicópteros operacionais, estacionados em Loulé e Macedo de Cavaleiros — isto para cobrir um país inteiro. Viseu perdeu o seu. Beja ganhou um. O critério foi geoestratégico: onde houvesse menos imprensa.
Cada dia de contrato custa mais de €42 000. E ainda se espantam com o défice…
Notas dispersas como ministérios:
- IRS: O Parlamento aprovou cortes. A esquerda abstém-se, a direita aplaude, o contribuinte paga.
 - Travessia do Tejo: Barreiro e Seixal ficarão ligados. Só falta o metro. E o projeto. E o financiamento. Mas a maquete já existe — em PowerPoint.
 - TAP: Privatização volta à mesa. PCP e Chega presentes. O caos aéreo ganha um toque cubista.
 
Epílogo
Entre a exclusividade do poder e o privilégio do ar, vamos construindo este país suspenso por arames: uns dourados, outros ferrugentos, mas todos cuidadosamente escondidos sob o tapete da governação.
E assim voa a República: sem plano de voo, sem cinto de segurança — mas com muito fumo na cabine.
Voltamos sexta-feira, 18 de Julho, com novas farpas igualmente distribuídas – porque, nesta República, o ridículo é verdadeiramente universal.

