Guerra Israel–Palestina: Nakba, a expulsão palestiniana de 1948

A catástrofe palestiniana de 1948 explicada com testemunhos, mapas e números. Como centenas de milhares foram expulsos na Nakba e as consequências até hoje.

Guerra Israel–Palestina: Nakba

Introdução

Em 1948, enquanto o recém-proclamado Estado de Israel celebrava a sua independência, centenas de milhares de palestinianos eram forçados a abandonar as suas casas, aldeias e cidades. A este êxodo em massa, os árabes deram o nome de “Nakba”, que em árabe significa catástrofe. Para os israelitas, foi a vitória da sobrevivência nacional; para os palestinianos, o início de um exílio que ainda hoje perdura.

Neste segundo episódio, exploramos os testemunhos da época, os mapas da expulsão e as consequências humanas e geopolíticas que moldaram o conflito israelo-palestiniano durante as décadas seguintes.


A geografia da expulsão: de Haifa a Deir Yassin

Entre 700 mil a 750 mil palestinianos foram deslocados entre finais de 1947 e 1949. Esta deslocação não foi homogénea — cidades como Haifa, Jaffa e Lydda (Lod) testemunharam fugas em massa, muitas vezes sob ameaça de violência ou bombardeamentos.

Um dos episódios mais simbólicos e trágicos foi o massacre de Deir Yassin, a 9 de abril de 1948. A pequena aldeia, nos arredores de Jerusalém, foi atacada por milícias sionistas do Irgun e da Lehi, resultando na morte de cerca de 107 civis palestinianos. Este massacre teve um efeito devastador no moral palestiniano e contribuiu para o pânico generalizado.

Guerra Israel–Palestina: Nakba
Localização das principais aldeias destruídas entre 1948 e 1949. Corredores de fuga em direção à Cisjordânia, Gaza, Líbano e Síria.

Testemunhos: a Nakba contada na primeira pessoa

“Acordámos com tiros. A minha mãe pegou em nós e fugimos a pé. Nunca mais voltei a ver a nossa casa.”
Khadija al-Husseini, refugiada de Jaffa (entrevista de 1972)

“Tínhamos medo, claro que tínhamos. As notícias sobre Deir Yassin correram como fogo. Toda a gente quis sair antes que fosse tarde demais.”
Yousef Dawoud, ex-habitante de Lydda

“Não fomos apenas expulsos das nossas casas. Fomos apagados dos mapas.”
Samira Shalabi, refugiada no Líbano


Consequências: o nascimento do problema dos refugiados palestinianos

  • A Resolução 194 da ONU, aprovada em dezembro de 1948, defendia o direito de regresso dos refugiados palestinianos às suas casas — ou compensação por perdas. Israel nunca aceitou plenamente esta cláusula.
  • Entre 400 e 500 aldeias palestinianas foram destruídas ou despovoadas, muitas delas substituídas por novas localidades israelitas.
  • A crise de refugiados palestinianos tornou-se a mais antiga e persistente do mundo moderno, com descendentes ainda hoje em campos na Jordânia, Líbano, Síria, Cisjordânia e Gaza.
  • Israel passou a considerar os palestinianos deslocados como “ausentes presentes”, muitos dos quais perderam as suas propriedades mesmo permanecendo dentro das fronteiras do novo Estado.

Perspetiva histórica: mitos e silêncios

Durante décadas, a narrativa oficial israelita minimizou ou negou uma expulsão sistemática. Contudo, novos historiadores israelitas como Ilan Pappé, Benny Morris e Avi Shlaim desafiaram esse silêncio a partir dos anos 80, com base em arquivos desclassificados:

  • Pappé defende que houve uma limpeza étnica planeada, orquestrada sob o Plano Dalet.
  • Morris, embora reconheça deslocações em massa, considera que grande parte da fuga se deveu ao clima de guerra e ao colapso da liderança palestiniana.
  • Estes debates mostram que a história da Nakba continua a ser um campo de batalha da memória.

Conclusão: a catástrofe que não passou

A Nakba não é apenas um evento de 1948 — é uma memória viva e um trauma herdado. Nas palavras de Edward Said, “os palestinianos são o povo do exílio perpétuo”. A ausência de uma resolução justa para os refugiados continua a ser um dos maiores entraves à paz duradoura no Médio Oriente.

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