O ciberataque vai acontecer
No mundo digital em que vivemos, já não se trata de perguntar se uma organização vai sofrer um incidente de cibersegurança. A pergunta certa é quando isso irá acontecer. E quando acontecer, o que fará a diferença entre sobrevivência e colapso será a capacidade de resposta e recuperação — aquilo a que chamamos ciber-resiliência.
Durante muito tempo, muitas empresas acreditaram que bastava instalar um firewall e um antivírus para estarem protegidas. Hoje, essa visão é não só insuficiente como perigosa. As ameaças são cada vez mais sofisticadas, os ataques mais frequentes e o impacto mais transversal. Já não basta proteger sistemas: é preciso preparar pessoas, treinar equipas, desenhar planos de resposta, simular cenários de ataque e integrar a continuidade de negócio na estratégia global. A ciber-resiliência não é apenas uma questão tecnológica; é uma disciplina de governação, cultura e organização.
O que distingue uma empresa verdadeiramente ciber-resiliente? A capacidade de detetar rapidamente incidentes com monitorização contínua. A existência de processos claros e equipas preparadas para responder. A possibilidade de conter o impacto para que o negócio não pare totalmente. A agilidade de recuperar sistemas sem perder dados críticos. E, talvez mais importante, a disciplina de aprender com cada incidente para regressar mais forte.
A nova legislação europeia, através da Diretiva NIS2, recentemente transposta para Portugal, reforça precisamente esta exigência. Já não basta investir em tecnologia e “mostrar conformidade”. As empresas passam a ter a obrigação de adotar práticas de ciber-resiliência, assegurando que existem mecanismos de prevenção, resposta e recuperação devidamente testados. Esta mudança legislativa é também uma mudança cultural: coloca a cibersegurança e a resiliência digital no centro da gestão de risco e da continuidade operacional.
Os exemplos práticos multiplicam-se. Há bancos que, mesmo sob ataques DDoS de larga escala, mantêm operações críticas em funcionamento. Indústrias que, perante a infeção de parte da sua rede, conseguem isolar sistemas afetados sem parar a produção. Hospitais que, apesar de sofrerem incidentes, garantem acesso seguro a registos de pacientes para não comprometer a vida humana. Organizações que, ao enfrentarem crises, comunicam de forma transparente com clientes e parceiros, preservando a confiança. Estes casos mostram que ciber-resiliência não é um conceito abstrato: é uma prática concreta que salva operações, empregos e reputações.
A diferença entre cibersegurança e ciber-resiliência é clara. A cibersegurança protege. A ciber-resiliência garante continuidade. A primeira ergue barreiras, a segunda assegura que, quando a barreira falha (porque inevitavelmente falhará), a organização tem a capacidade de cair, levantar-se rápido e continuar a funcionar.
Vivemos numa era onde a confiança é um ativo crítico. Clientes, investidores e cidadãos não esperam que nunca ocorra um incidente. O que esperam é que, quando ocorrer, as organizações respondam com transparência, agilidade e eficácia. A verdadeira maturidade digital não está apenas na prevenção, mas na capacidade de adaptação e recuperação.
A pergunta que fica é inevitável: a sua empresa está apenas a investir em barreiras… ou já está a preparar-se para resistir, recuperar e continuar?
– Rui Ribeiro
Consultor Transformação Digital e Professor Universitário
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