Requalificação da Almirante Reis
A nova proposta de requalificação da Avenida Almirante Reis, apresentada pela Câmara Municipal de Lisboa (CML) no final de 2024, está a gerar forte contestação entre cidadãos e organizações pela mobilidade sustentável. Em causa está o aumento significativo da capacidade rodoviária, em detrimento do espaço pedonal e ciclável, e a contradição com as conclusões do processo participativo promovido pela própria autarquia.
Entre o Martim Moniz e a Alameda, o projeto prevê o aumento de duas para três vias automóveis, representando um acréscimo de 50% na capacidade rodoviária. Ao mesmo tempo, o espaço para os peões mantém-se praticamente inalterado — permanecendo insuficiente face aos fluxos atuais e futuros — e a ciclovia proposta é descrita como “ziguezagueante” e com “dimensões abaixo do mínimo regulamentar”, instalada no passeio e repleta de obstáculos. O desenho, alertam os críticos, agravará os conflitos entre peões e bicicletas e aumentará a perigosidade dos atravessamentos pedonais, obrigando os utilizadores a cruzar três faixas de trânsito e incentivando velocidades mais elevadas.
“É com perplexidade que vemos a CML insistir nestes erros, tantas vezes repetidos com péssimos resultados”, lê-se no comunicado. “É lamentável que contrarie o Manual de Espaço Público de Lisboa, aprovado em Assembleia Municipal, num dos eixos com maior volume de peões e bicicletas da cidade.”
Requalificação da Almirante Reis
Contradição com os resultados do processo participativo
O projeto é particularmente criticado por ignorar as conclusões do processo participativo que envolveu cerca de 2.500 participantes. A esmagadora maioria considerou que existe excesso de tráfego automóvel na avenida e defendeu a prioridade à acessibilidade pedonal, à bicicleta e ao transporte público. “Para que servem os processos participativos se se desrespeita de forma tão evidente e reiterada os seus resultados?”, questionam os subscritores.
Também nas zonas da Praça do Chile, da Alameda e no troço até ao Areeiro, o desenho urbano é descrito como “desadequado”, com perfis rodoviários excessivos, atravessamentos perigosos e passeios estreitos.
Uma cidade menos segura e mais poluída
A proposta surge num contexto preocupante: Lisboa continua a destacar-se entre as capitais europeias com maior número de atropelamentos mortais e com menor aposta na segurança dos utilizadores de bicicleta. A qualidade do ar permanece um problema grave de saúde pública, contribuindo para cerca de 6.000 mortes prematuras por ano em Portugal. Crianças, idosos e pessoas com doenças respiratórias são os grupos mais vulneráveis.
Além disso, Lisboa ocupa o penúltimo lugar no ranking europeu de mobilidade urbana infantil da Clean Cities Campaign. “Ruas adaptadas às crianças resultam em mais atividade física, melhor qualidade do ar e menos acidentes rodoviários”, recorda o comunicado. “Em vez disso, o projeto atribui ainda menos espaço a quem anda a pé ou de bicicleta.”
“Que cidade queremos para os próximos 50 anos?”
O investimento previsto — superior a 21,5 milhões de euros — determinará o uso da Avenida Almirante Reis nas próximas cinco décadas. Por isso, os críticos apelam à CML para que repense todo o eixo e a própria Avenida da Liberdade, ambas com níveis de poluentes muito acima dos limites recomendados pela Organização Mundial da Saúde.
A proposta é que a Baixa de Lisboa seja protegida através da criação de uma Zona de Zero Emissões (ZZE) e da redução do tráfego motorizado, integrando estas medidas num Plano de Mobilidade abrangente que tarda em sair do papel.
Requalificação da Almirante Reis
“Precisamos, com urgência, de uma cidade que dê prioridade às pessoas, aos modos ativos e ao transporte público. Esta requalificação é uma oportunidade histórica que não pode ser desperdiçada.”
Fonte: Comunicado de Imprensa do MUBI, ZERO, Caracol POP – Associação Moradores de Arroios, Estrada Viva, APSI, ACA-M
PROJETO DE REQUALIFICAÇÃO DA AVENIDA ALMIRANTE REIS – Parecer da MUBi
Requalificação da Almirante Reis